Q: porque não tens orgulho em ser portuguesa?

3 críticas

A: Que fiz eu para ser portuguesa? Lutei durante anos pela minha obtenção de nacionalidade? Ou andei pelo mundo até decidir assentar neste lugar? Ou, ao nascer, resolvi que iria falar português como língua materna? Caramba, não. Nasci aqui. “Decantaram-me” aqui. Impuseram-me um país, uma língua, uma família, um estatuto social, depositaram expectativas e moldaram-me a essa imagem. Como posso ter orgulho numa coisa de que não sou culpada e para a qual não contribuí? O orgulho pela nação é a primeira coisa que os fascistas fazem celebrar e cultivar. É esse orgulho a primeira causa de intolerância. Esse orgulho primitivo que sabemos lá se acaso merece existir. É a primeira causa de conflitos. E, depois, já se sabe, de guerra. Por isso eu não tenho orgulho em ser portuguesa. Não tomo créditos pelo que outras pessoas fizeram. Não tenho orgulho em ser um ser humano. Nem sequer tenho muito orgulho em estudar na cidade onde nasci, porque me limitei a seguir o que esperavam de mim. Ser portuguesa é uma etiqueta, impressa debaixo da minha pele.