Ilegal Anormalidade (NaNoWriMo)
Mãe, tenho saudades minhas
O chapéu e o pássaro (conto)
Escapadela II
(21.07.2010)
Vamos às compras, querido.
Diário
Novo Dia (macabro e parvo)
Possivelmente natural
A história daquele dia
Amor Suburbano
Carta de um novo dia.
Devaneios pelo meu mar doce de palavras.
Noite e Alvorada
Repetindo o repetido
Pelas Ruas
Sophia
Não me recordo do dia em que nos conhecemos ou sequer da primeira palavra que dissemos.
Nem da última.
Já foi há muito tempo. Porém, lembro-me daquelas horas mortas e aborrecidas para os outros, ocupadas com jogos à bola e macacas e cordas. E que a nós, as caladas e distantes, bastava olhar o céu, sentir o tempo passar. Lembro-te comigo, inventando um jogo sem precisarmos de trocar uma palavra, nenhuma de nós seguia a outra, íamos lado a lado, a não ser quando nos empoleirávamos na beira do passeio...
Já foi há tanto tempo...
A escola e as pessoas sempre foram injustas para nós. Chamavam-nos tímidas, aproveitavam-se para nos empurrarem ao canto. Mas, dessa vez, eu tinha-te a ti, tu tinhas-me a mim. Criámos mil códigos e linguagens, tu tinhas tanto jeito para criar e eu para decifrar, de certo modo completávamo-nos.
Sempre foi assim.
Sophia, estrangeira, vinda lá das Américas...
Lourinha, tão ao contrário de mim.
E, porém, foi em ti e não nos meus compatriotas que achei uma alma gémea.
Como contar-te tudo o que senti, desde sempre senti?
Os anos passaram e ficámos eternidades sem nos vermos, sem trocarmos palavra. Mas esse tempo passou e quando voltei a estar contigo foi como se nada tivesse mudado.
Oh, mas tu estavas diferente, é certo, e também eu. Mais crescidas, mais maduras. Contudo, a distância não havia conseguido fazer-nos mudar uma da outra.
Todos os dias nos descobríamos, descobríamos que éramos mais parecidas do que alguma vez antes.
Sophia... o teu nome é uma melodia cantada pelo vento... Sophiiiaa....
Mas uma vez, roubaram-te, despedaçaram-te e desfiguraram a tua alma.
Pudesse eu torturar o cabrão que te fez isso!
Tu tentaste escondê-lo de mim, ocultaste as lágrimas com o cabelo, viravas as costas e só te voltavas quando conseguisses exibir um sorriso.
Mas eu sabia, Joanna...
Sabia mas fingia que não sabia, dizia-te disparates e tu rias às gargalhadas, éramos amigas como sempre e à noite, cada uma em sua casa, sufocávamos em choro.
Um dia, o fado voltou a atirar os nossos destinos para longe. Deixaste a o lugar a meu lado na carteira, abandonámos a escola que havíamos partilhado.
Estás tão longe, agora...
A saudade agride-me violentamente.
Quero-te aqui, outra vez. Quero-te a meu lado...
Enquanto há vida, há esperança
Era de noite e chovia em torrentes.
Ia no comboio de regresso a casa.
O menino dos olhos verdes saiu de ao pé dos colegas e cumprimentou-me.
Olhou-me e disse com cuidado que a minha melhor amiga se havia suicidado.
E, se o meu mundo não acabou aí, não sei onde então. Já me não sinto viva, já não sinto nada, que esta pesada solidão.
É tudo feio e melancólico, quero chorar e desistir.
Fazer como tu, mas não posso. Tenho uma família, tenho de existir.
Pergunto-me onde estás, mas sei que repousas em nenhum lado.
No cemitério, ainda te falo, e às vezes esqueço que morreste.
Quero voar contigo, borboleta, Joanninha
Quero-te amiga, que tanto amei
Sinto agora que estarei eternamente sozinha
E não há comprimidos que apaguem o que passei
Tenho tantas saudades!
Noites de Verão
O Sol pousa no poente, a luz estremece, o negro inunda-nos. A Lua nasce.
Saio à rua, em manga curta e calções. Está quente mas não está calor. O ar envolve-me num abraço morno e a brisa esfria todas as possibilidades de isto tudo ser demasiado insuportável.
Saio à rua, em manga curta e calções. Está escuro, só se vêem estrelas, a Lua, raras nuvens. E casas pitorescas lá ao longe. Caminho com calma sobre a terra batida. Trago sandálias simples, quase como se fosse descalça.
Ando um pouco, à luz da Lua. Cheira a pinheiros, mimosas e eucaliptos. Cheira a arvoredo e a serra. Cheira a terra quente. Quente como um abraço maternal.
Ando um pouco, à luz da Lua. Os grilos cantam, suaves, compassados. As folhas do bosque estremecem com a brisa que as afaga, ouve-se o bater de galhos contra galhos, ouve-se o vento. Ouve-se, ao longe, a ribeira que cai em pequena queda de água.
Ando um pouco, à luz da Lua. E depois corro. Deixo que o vente me penteie o cabelo, deixo que a morna brisa seja braços de um abraço, deixo que esta doce terra me seja a minha casa.
Sinto-me em casa.
Estou na terra de meus pais, em terra onde outrora se conheceram. Este chão murmura e grita as histórias de séculos passados e promete-me que estou em casa.
Sigo carroças e imagino-os na sua mocidade. Nesta pequena aldeia que deveria ter sido a minha.
Este ritmo que nos percorre, na praia
Quero afligir-me nas tuas águas
Nos verdes campos
Natural
Expectativas
Pequeno excerto dos Renegados
Outra vez para ti
Nem sei qual deveria ser o título
Poço dos desejos
Trecho do Suicídio
Delovina
Eu sei que vocês ainda não sabem quem é a Delovina, mas se tudo correr bem, não vai faltar muito para que a conheçam.
Boas Mortes
Palavrão Negro da Loucura
Oh, poor girl
(Sorry about the bad english)
À procura de concentração
estou à procura de concentracção
e de um tema
basta uma frase
basta a primeira
para aparecer tudo
como uma torneira mal fechada
que não quer parar
e por vezes
por coisas simples
um mero pensamento
um erro, riscar, voltar atrás
e essa torneira já fechou sem vermos
e queremos voltar mas já não dá
forçamos, mas está enferrujada
e a isso ainda não se chama bloqueio
deve ser perder o fio à meada
bloqueio é mil vezes pior
é sentires-te numa bola enorme e oca e tudo está longe
és só tu e o vazio
e a folha branca, em vez de promessas
das promessas que normalmente te traz
a folha branca é uma sentença de morte
morte do escritor
folha branca, condenada a ser branca para a eternidade
e tu chegas com a caneta e a caneta foge-te, tu dás voltas à cabeça, mas os pensamentos páram
tu fazes um movimento automático de levar a caneta à folha
e a folha parece troçar de ti...
To you, my love
Não quero Falecer.
Teoria das Caixas
Desespero para toda a vida, malditas decisões definitivas...
E penso naquilo que terei de escolher, a decisão já tão próxima, sabendo que vou errar, quer dizer, nem sei se vou saber conseguir. Para onde quero ir? Agora? Arquitectura. Ontem? Antropologia. Amanhã? Quem saberá?
Por isso toco acordes mais alto, porque só gosto do que não tem saída.
Já é muito tarde para ginástica, não sou suficientemente boa para música, a ciência está descuidada, a escrita caminha ao esquecimento, a psicologia está longe.
O futuro que desapareça com o futuro! Quero é ir para Paris, trabalhar num café em Montmartre, como soube desde que li The Lollipop Shoes, como confirmei quando lá estive e como assegurei quando vi Amélie.
Não quero mais que isso, por que não percebem? Nem que tenha de pedir esmola a tocar violino.
21.04.2009
Afinal não sou - Bernardo Soares
in Livro do Desassossego, Bernardo Soares
Conto do Pequeno Pianista
Conto da noite (ou a morte da borboleta que caiu enquanto ascendia aos céus)
Lindo dia de chuva
Os carros seguiam e atiravam a água aprisionada no alcatrão contra elas, uma onda no meio do nada, no meio de lado nenhum, uma onda citadina, de poesia nenhuma gerada, apenas do horror da cidade, porém uma onda poética.