Expectativas

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Ninguém te pede para seres escritora.
Pedem-te estudo das matemáticas, das físicas, dos circuitos.
Pedem que te apliques no teu ofício de estudante da Engenharia Biomédica.
Pedem-te para fazeres relatórios, ninguém te pede para escrever.
Pedem-te que fales com os colegas, pedem que tenhas atenção, pedem que poupes dinheiro, mas ninguém te pede a dedicação que ofereces à escrita.
Ninguém te pede para seres escritora.
Mas é escritora o que tu queres ser.

Pequeno excerto dos Renegados

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Parou dois segundos.
Ela era a má da fita, a que todos odiavam, a que só fazia mal.

E ela gostava tanto de magoar os outros.
Sentou-se ao pé do sem-abrigo, ao lado de quem ninguém se sentava. Ele estava sujo e era louco.
"Ora, estou farta disto" pensou. E, pensado isto, beijou-o.

O sem-abrigo-louco tornou-se invisível,

mas ela não o largou, "não te atrevas a fugir-me"
porque tu és a única pessoa, percebes? és o único, nós os dois somos rejeitados por todos, não fujas agora, não me escapes
E continuaram num beijo profundo

E ele deixou-se rolar pelo telhado e caiu e morreu.

Agora era ela e o rapaz morto.

Rapaz morto, rapaz morto, estás aí?
Queres falar comigo?
Quero sim, rapaz morto. Eu não compreendo.
É porque nada há para compreender.
Também o suspeitava. Então, então, que faço?
Nada. Tudo. Alguma coisa. Vai dar ao mesmo.

Rapaz morto. Diz-me, por que não sinto felicidade?
Porque não existe.
Eu beijei-te e só senti vazio, porquê?
Porque não há nada para sentir.
Mas eu queria sentir algo!
Só há desespero e vazio e sonhos inalcançáveis.

Porque, quando se tornarem atingíveis, rapaz morto...?
Sim, deixam de ser sonho e tornam-se vazio.
E o vazio desespero.
Já sabes tudo.
Sei tudo o que há para saber.
Sabes que estou morto.
Sei que estás morto.
Sabes que gostarias de me amar.
Desde que tu me amasses também.
E se isso acontecesse
Seriamos infelizes.
Nada mais.
Estás morto, rapaz-morto.
Mais morto não poderia estar.
Odeio-te.
Estás apaixonada por mim.
Claro que estou. Não percebes que te odeio?
Compreendo-te. Amo-te.
Isso é mentira.
Pois é.

Outra vez para ti

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Eu sei que prometi não postar mais acerca dela, mas é o que me ocupa eternamente os pensamentos. Desculpem esta pobre alma.

Ela morreu-se-me e eu fiquei sozinha.
Ela morreu-se-me e eu desamparada.
E se tenho família e amigos e alegria,
Sem ela só me sinto mais sozinha.

Nos meus sonhos regressas,
Caminhamos noutra praia, de mão dada,
Sorrindo, as duas, sem pressas,
Como se a caminhada não fosse acabar

Mas a caminhada acaba sempre, Joanna
Acordo do sonho e tu não estás, Sophia
Assim deixaste-me esta nova Adriana,
Sozinha, oca, distante, fria...

E não consigo parar de pensar em ti
E não consigo para de te escrever
Naquele dia acho que também morri
Joanninha, sem ti, o que me vai acontecer?

O que é que me vou fazer?
Como vou sobreviver?
Por que hei-de viver?