Escapadela II

(21.07.2010)

O que todos esperam de ti. Que tu, invariavelmente, não fazes. Esta é a tua segunda escapadela. Já sabes que tudo vai correr bem. Tinhas saudades de comboios. Vais de costas e deixas-te embalar pelo solavanco constante das carruagens. Respiras este som, com saudades de quando era o de todos os dias. Deixas o nevoeiro matinal na cidade onde nasceste. Aqui há Sol! Sol! As nuvens flutuam como pequenos milagres. Vês os campos infinitos, vês as linhas, sujas em óleo, gastas pelas centenas de aniversários. Sabes este mundo de cor, o cenário dos viajantes não muda.
Aqui, não há ultrapassagens perigosas, nem curvas apertadas, nem trânsito. O que poderia correr mal, com o teu companheiro de viagens eternas?
Desculpa, mãe. Perdoa-me por te mentir, mas não havia outro modo. Deixavas-me vir, se soubesses? Perguntar-te-ias pela razão. Eu amo-te, mãe, mas tu não compreendes. Desculpa. Preciso disto, porque é isto que sou: uma viajante.
As nuvens, altas, regressam. São grandes e imensas. Correm com o vento ou talvez sejamos nós que fugimos. Vejo os pinheiros, cismo onde estou. As pessoas dão demasiada importância a tudo, como se uma viagem fosse algo descomunal. Calma! Interessa-me que vocês compreendam? Só fazia bem. És louca. É só uma viagem. Viagem comigo.