Mãe, tenho saudades minhas

Mãe, tenho saudades tuas.
Dos dias em que levavas a tua pequena princesa à cidade. E aqui foi onde tu nasceste, e aqui é onde a mãe compra as meias, não toques em nada. Lembro-me de ficar quieta, à tua espera. A minha mão cabia na tua e eu mal te chegava à barriga. Quando via um pedinte na rua, chamava-te e dizia:
- Não lhe devemos dar qualquer coisa?
As tuas respostas variavam.
- Não, que é para as drogas.
- Não, que já pouco temos para nós.
- Oh, Adriana, se fossemos dar a todos...
Mas, por vezes, cedias e eu corria a pôr uma moeda na mão estendida, no chapéu, no estojo de violino ou saxofone. Muito eu gostava de dar moedas.
Eu era pequena e tinha de estar contigo. Mãe, desculpa ter roubado a tua pequenina. Mas ela teve de crescer. Tu sabias. A infância nunca é eterna. Tentei prolongar a minha, mas não deixou de ser efémera.
Com saudade,
da tua
fifi