Ela ia às livrarias e escolhia livros desconhecidos de autores de que nunca tinha ouvido falar, porque achava que as grandes histórias eram aquelas que estavam escondidas, aquelas de que não eram faladas. O maço era cada vez maior, os livros empilhavam-se, cada vez mais. Um dia, dizia ela, hás-de ler todas estas histórias. Um dia, respondia ele, hás-de escrever todas essas histórias.
Os livros desconhecidos eram livros esquecidos, era como intrometer-se numa história de amor já passada, por intremédio de cartas esquecidas numa caixa de latão, embrulhadas por um típico laço cor de rosa ou dourado, ou histórias que contam um trocar de olhares e ficamos a imaginar. Aquelas eram todas as hipóteses possíveis. Ali, estava todo o espectro, toda a magia. A verdadeira literatura residia no armario do mistério.
"Encontrei um livro fabuloso", e ele sabia que ela o tinha arranjado talvez numa venda de garagem, em segunda mão, por uma bagatela. E ela sabia que não teria ninguém a quem falar dele, que não encontraria discussões acerca dele online, aquela cópia era única e exclusiva, como se feita para ela só, como se escrita mesmo por ela. A magia estava ali.
Não eram livros que se pudessem encontrar sequer nas grandes livrarias, em grandes Bertrands ou famosas Fnacs ou populosas Almedinas. Quantos daqueles seriam roubados do sótão dos avós? Quantos daqueles teriam vindo de Angola, Moçambique, Brasil?
Todos reunidos, ali. Há quem coleccione selos, ela colecciona livros.
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