Vamos às compras, querido.

Vamos comprar um ferro de passar, querido.
Vamos comprar uma máquina de café, um microondas, um secador.
Vamos comprar, querido.
Vamos submergir na corrente da expectativa de adquirirmos ditos confortos do mundo moderno, ditas facilidades dos novos dias.
Assim julgamos.
Vamos submetermo-nos à escravidão real de fazermos nossos os hábitos de todos.
Vamos vestir, querido, o conforto dos nossos lares de igual, com os outros.
Quem nos vai julgar? Quem nos vai estranhar? Quem nos vai dizer que não podemos?
Vamos comprar uma carpete para a entrada, querido.
Vamos vender a nossa alma a esta causa.
Vamos vender a nossa honra, querido, a nossa dignidade, a nossa individualidade, para comprar as nossas grilhetas.
Vamos trocar o sangue por óleo.
Vamos vender os livros de nossos avós para comprar uma torradeira.
Vamos vender as nossas memórias para comprar copos em cristal. E vamos gritar e bater quando algum se partir, porque o cristal é insubstituível.
Vamos desmembrar o nosso cão ou gato e vendê-lo órgão a órgão a quem nos der melhor preço.
Vamos vender a nossa sombra pelo melhor preço. Para que nos serve uma sombra?
Vamos vender a nossa integridade ao melhor preço. Para que nos serve a integridade?

2 críticas: (+add yours?)

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Vamos vender a nossa integridade ao melhor preço. Para que nos serve a integridade?

Muito bom, cada vez mais nos vendemos para usufruir de coisas, de coisas que não valem nada.