Utopia


[Sonhos de Utopia, num jardim de infância]
Uma casa, afastada de tudo, num campo meio ao descampado, meio à orla da floresta. O meu sonho, é uma casa, uma casinha, sem vizinhos, sem excessos. Um jardim de ideias, jamais limpo dos musgos e das poeiras do inverno. Uma gota que passa, sem se lavar. Uma casinha, com o mais simples, esta casa adorável, onde as divisões se fundem e que uma vasta biblioteca preenche. Estamos no inverno, estamos no verão. Uma casa sem microondas, sem tostadeira, sem triturador, só uma casa, com meia dúzia de festas e afectos, carinhos a quem por lá passe, para ir ler um livro, ou para me ir ver a mim. O branco, no meio das madeiras, no meio das tílias. Os livros, o cheiro a livros. O meu sonho é uma cama no chão, rodeada de livros. Música.
Uma casa onde as coisas pequenas são aquelas que a tornam casa. Como caixas em lata e os segredos que nelas se escondem, como bilhetes de comboios que já nem existem, ou cartas, quando já não se escrevem cartas. Como malas de papelão, com cadeado, a fustigar a imaginação. Como estojos de canetas de aparo, de tinteiros, de lápis de desenho, a carvão, a grafite, a pastel, como tintas de aguarelas. Onde os cadernos se amontoam, com vergonha do que trazem escrito, eu com vergonha do que neles escrevo.
Uma casa onde o chá sabe a chá, onde a televisão não é mais que um mito longínquo, onde, de vez em quando, se ouve o bater do teclado de uma máquina de escrever, antes de se dar o sonoro fim de parágrafo:
PIM!
Uma casa, com, queiram ou não, um livro de visitas, como se fosse um albergue do caminho, onde se sabe que a concha é o símbolo do viajante. Sem urgências, só meditações contemplativas, enquanto o sol se põe, o lusco-fusco adorna, ou quando a noite batalha com a manhã, em preto e branco, ou quando fechamos os olhos e somos só nós.
Com flores a brotar de lâmpadas, porque a imaginação cresce em lugares criativos.

Que te deu hoje, Adriana, nunca te vi tão optimista! (parece que o frasco das alegrias resulta mesmo), e ouvir boa música também *