Por que não?

Por um momento, gostava de saber, para além de quem sou, que tipo de inteligência criativa tem o ser humano. Olho à minha volta e não compreendo. Talvez seja da idade, à qual tantos se prendem, que ainda não me permitiu amadurecer o suficiente para que eu perceba, enfim, coisas de adultos. Coisas de adultos. Não compreendes porque és muito nova. Achas que era bonito as pessoas andarem por aí aos saltos cada vez que lhes apetecesse, Diana? Achas que era bonito fazermos todos figura de palhaços?
Acho.

Acho muito bonito. Saltar à chuva, enquanto caminho na rua. Saltar de uma casa para a outra mal pondo os pés no chão. Achas que isso são comportamentos de uma pessoa séria, Diana? Pois isso não acho. Mas acho extremamente bonito. Mamã, por que não há trampolins nas ruas para saltarmos de vez em quando? Por amor de Deus, Diana, isso não são conversas de uma menina crescidinha!
Eu só queria um pouco de liberdade. Mas quando falo dela, enchem-me os ouvidos com "no meu tempo é que não havia liberdade" ou "se tivesses vivido antes do 25 de Abril, não dizias esses disparates" e tantas histórias do 25 de Abril...
Foi bonito, o 25 de Abril. Foi um pouco mais de liberdade. Mas o mundo evolui. Por que despreza o ser humano a sua criatividade?Por que não aproveitamos a liberdade que nos foi dada para a usufruirmos totalmente?
Acabou a conversa, Diana. Os trampolins nas ruas não são bonitos e ponto final.
Mas eu vejo-te, mamã, a chegares a casa, todos os dias, tão cansada...
tão triste...
Não será pela falta de coisas bonitas?