A minha vida está a começar, atendendo às estatísticas. Mas de todas as conversas que oiço, não há uma única que me desperte o interesse. Como são os adultos capazes de tratar a vida de um modo tão banal? Como falam apenas dos seus “brinquedos”, das suas doenças, quando existem carradas de assuntos por tratar? No fundo, só vejo iguais. Os meninos são presunçosos, as meninas têm a mania que são crescidas. Nos senhores baila aquele sorriso de malandro, soltam aqueles risos/grunhidos. As senhoras tomam, algumas, as atitudes mais porcas e indecentes de se poderem imaginar, mas em todas reside a expressão: “isto é tudo nosso”. Há quem me lance um olhar inquiridor, por estar a escrever. ha-a-a. ha-a-a. “O nosso povinho resume-se a isto!” diz a minha mãe. Nem imagina a razão que tem para este escrito.
Mergulho a cabeça nos braços e esqueço que aqui estou. Demora mais que o desejável.
Bendito seja este malvado lenço da carteira da minha mãe. Até a caneta das minhas colegas deu jeito. Se não fosse a minha escrita, não sei o que seria de mim.
Esta pobreza de espírito é DEPRIMENTE. Pobreza de espírito: é essa a expressão ideal.
Aguentar-me sozinha tem sido difícil. Porque eu tenho dois tipos de timidez: por desespero e por classe. Este último tenho-o em relação aos meus colegas. Com eles chego a sentir-me em família. Mesmo com os professores.
Aniversário no Lousanense
AGMatos
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