Fantasmas da Noite (Reduzida)

Descortinando a noite os seus segredos.

Para já, fétidos.
É deste calor estrangulante.

Deixam-se os sonhos e pesadelos guardados a um canto. Dormir não serve, por isso escreve-se. Pensamentos vão e voltam pelo canal descortinado pelo escuro.

Não há luz que me distraia à noite.

Vem, vem, monstro, de mansinho. Demónio nocturno de pensamentos de cristal que de dia não fazem sentido. Dentro de ti tens tudo, trazes tudo, memórias, associações, estranheza pura e clara, como cristal.
Agridoce monstrinho. Contigo os meus medos, de pequena, regressam, ávidos de sangue que lhes escapou por entre os dedos, outrora.

Mas isso foi outrora.

Agora não me escapas, fedelha.


Mamã, tenho medo.
Tens medo de quê?
Do escuro. Digo. E o que não digo é: das bombas, do fogo, dos ladrões, das trovoadas, dos vulcões, dos meteoritos, da dor, da tortura. Tenho medo de ficar como a rapariga que roubava livros, receio-o acima da própria morte.
Cala-te e vai para a cama.

Ingenuidade dos adultos que desconhecem-me os pesadelos antes de adormecer.