Teoria das Caixas

Depois do choro,
Depois da tristeza,
Depois do desespero,
Depois da angústia,
Depois da raiva,

Há o tudo, há nada,
A vontade não existe,
Apenas este peso de existir.

Encolho os ombros,
Encolho-me.

Abraço-me num canto.

Se um dia o universo
Fora uma caixa negra
Encaixotada numa branca,
Encaixotada noutra negra,
Encaixotada noutra branca
E assim pela eternidade,
Em caixas cada vez maiores,

Hoje sou eu que me escondo
Dentro de caixas cada vez mais pequenas.
Dentro da caixa do mundo,
Dentro da caixa do país,
Dentro da caixa da minha terra,
Dentro da caixa dos amigos,
Dentro da caixa da casa,
Dentro da caixa da família,
Dentro da caixa do meu quarto,
Até, por fim, na caixa só minha,

Fechada a fita-cola,
De onde não saia,
Ninguém me aborreça,
Não veja o que está lá fora,
Não tenha de sentir nem de pensar.

Aguentando o fardo da existência
Tão mal-vinda, tão maldita.

Sempre é melhor viver numa caixa,
Apenas comigo e com o pouco ar que respiro.


Não há pais, opiniões,
Falsas pessoas, preocupações,
Não há medicamentos,
Psicólogos ou psiquiatras.

E, na verdade,
Que diferença faz
Viver numa caixa
Ou a vida que nos atiram,
Não será também ela
Uma espécie de caixa?

1 críticas: (+add yours?)

lerrnst disse...

é, a menos que não queiramos que seja. e mesmo assim, não deixa de ser. apenas o ar é mais puro