Um segredo. Montas, altas, como ondas. Precipícios cor de uma laranja sangrenta. Um segredo, esse que caminha por entre os escombros. Sabemos e vemos, dando passos inseguros. Estacando, por vezes. Hesitante, outras. Confiante quando apressa. É um cabelo escuro. Ela está pronta, mas nem sempre avança. Tem arrepios. A certeza não consegue esfumar o medo. Um segredo. Ali, não há quem a detenha.
Tenho-te em passo passadiço, no passeio enfadonhado dos negados ao mundo. Já esperas a morte atrás de cada escarpa. Um vulto esquelético, um sorriso que não sorri. Esperas frio. Tenho-te ao meu ritmo, passo após passo. Esperas dor. Doença. Crueldade.
Não se apercebe da caminhada, por vezes, absorvida nos próprios pensamentos. O céu torna-se um vermelho cada vez mais vivo. Como se o sol se estivesse a pôr e a noite não mais chegasse. Não há plantas. Nem o mero vestígio de verde. Um tímido musgo, um feto. As escarpas ladeiam o desfiladeiro. Sem pedras. Sem imperfeições. Não pode ver para lá dos desvios.
Aqueles caminhos, pensa, são cruelmente labirínticos. Agarra-se com força ao papel, cheio de vincos, amachucado, que traz consigo desde ainda antes dos Jardins desérticos que atravessa.
Da vida injusta. Cruel.
Caminha ao fim, sem saber quando o fim irá chegar. Caminha ao sabor de si mesma, aterrada. Sabe bem porquê. Sabe que não há meia volta a dar. Todos os passos são em frente, os dela dados, os dela pensados. Inclinam-se as encostas, em seu redor, ora vira à esquerda, ora à direita, sem vislumbrar desfecho a tanta perambulação.
Tenho-te em minha lei e, apesar disso, no caminho certo. Irás chegar onde tens de chegar, confio-te essa conversa. Passeia-te, frágil, com os teus receios. Falta menos de nada.
Os Portões estão ao virar da esquina.
Sim, a escrita gasta não mente. As letras impressas indicam-lhe o passeio, guiando-lhe os passos. Sim, já está na última linha, as palavras ditam-lhe para continuar. Está no fim.
Perante si, a figura escura, que tanto receava.
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