Este ritmo que nos percorre, na praia

Quero o prazer astuto de beijar o mar.
Quero a liquidez de tais lábios, magoosos de tão salgados. Quero esbracejar, entrar na areia e encher-me nela, rebolar-mo-nos, movimentos bruscos e convergentes, eu contra ela, ela contra mim, rebolamo-nos, movimentos doces de esgares de prazer. Este ritmo não pára, são os tambores do pulsar da vida, os tambores do pulsar do coração, este ritmo não pára, eu nela, ela à minha volta, abraçando-me, e esquecemos quem somos, esquecemos o que somos, somos tudo o que sentimos e sentimos este ritmo cada vez mais forte, cada vez mais rápido, cada vez mais intenso. O mar, o mar enche-se de ciúme, inunda-nos no nosso abraço, agarra-nos, está no meio de nós, percorre-nos a espinha, cavalga-nos o corpo e, naquele exacto momento, estremecemos, estremecemos em frio, em fome, em prazer do que somos, em prazer de quem somos e neste momento somos o que sentimos.

Quero afligir-me nas tuas águas
Quero afogar-te em minhas mágoas
Quero afogar-te em mim
e roubar-te a respiração.
Quero cravar-te nos meus braços.