Noites de Verão

O Sol pousa no poente, a luz estremece, o negro inunda-nos. A Lua nasce.
Saio à rua, em manga curta e calções. Está quente mas não está calor. O ar envolve-me num abraço morno e a brisa esfria todas as possibilidades de isto tudo ser demasiado insuportável.
Saio à rua, em manga curta e calções. Está escuro, só se vêem estrelas, a Lua, raras nuvens. E casas pitorescas lá ao longe. Caminho com calma sobre a terra batida. Trago sandálias simples, quase como se fosse descalça.
Ando um pouco, à luz da Lua. Cheira a pinheiros, mimosas e eucaliptos. Cheira a arvoredo e a serra. Cheira a terra quente. Quente como um abraço maternal.
Ando um pouco, à luz da Lua. Os grilos cantam, suaves, compassados. As folhas do bosque estremecem com a brisa que as afaga, ouve-se o bater de galhos contra galhos, ouve-se o vento. Ouve-se, ao longe, a ribeira que cai em pequena queda de água.
Ando um pouco, à luz da Lua. E depois corro. Deixo que o vente me penteie o cabelo, deixo que a morna brisa seja braços de um abraço, deixo que esta doce terra me seja a minha casa.
Sinto-me em casa.
Estou na terra de meus pais, em terra onde outrora se conheceram. Este chão murmura e grita as histórias de séculos passados e promete-me que estou em casa.
Sigo carroças e imagino-os na sua mocidade. Nesta pequena aldeia que deveria ter sido a minha.