Ela perguntou, Olha mas está tudo bem?
E eu disse que sim, porque, depois de anos a fazer troça das minhas lágrimas, ela não merece a minha vulnerabilidade
[...] Agora eu, primogénita, estou sozinha. Não, estou contigo, meu irmão, vamos fazer o quê com o legado dos nossos pais? De braço dado, pelo único caminho que nos deixaram, vamos nós para o abismo, caminhando, um passo à frente. Olha para isto! Daqui do alto do abismo, olha para o mundo escuro que nos deixaram... Diz-me, agora, o que fazemos?[...]
Ela perguntou, Olha mas está tudo bem?
E eu disse que sim, porque, depois de anos a fazer troça das minhas lágrimas, ela não merece a minha vulnerabilidade
cantar trovoadas ao som da chuva, o som dos passos, o caminho e o caminho, cajados são bastões de peregrino, são bengalas de cartolados, caminhos são diferentes, mas o som é o mesmo, do pau na calçada, granizo, trovoada
Disclaimer:
Social situations may enhance the probabilities of self-harm, depression, self-loathing, mutilation, vomits, mental disorders, anxieties, hyperventilation, overdose, numbness, starvation, low self-esteem, repression, inferiority, heartache, smoking, alcohol consumption, drug consumption, addiction, self-destruction, auto-inflicted burns, mutilation, torture, and may, in extreme cases, provoke suicide. Please, contact your doctor or hospital in case of suicidal thoughts. There's nothing they can do, really, but they'll give you self-help helpless books, numbing addictive pills, hopeless advice, rehabilitation in pain, brain scans to tell you that you are normal, electroshock to tell you that you are normal, mental hospitals full of normal people, un-comforting comfort, illusions of hope, dreams regulations, ideas restrictions, barking dogs, company of misunderstanding, extravagant bills, and the ultimate guarantee that what you are going through is normal, feels normal, and that millions of people got over it.
Nem tem a força das palavras desenhadas na parede.
Nem tem a simplicidade da poesia.
Nem faz muito sentido, se calhar.
E a mesma voz que me diz, "arrisca, atreve-te", é a que me manda sentar.
E é o mesmo amor que não faz sentido,
porque meia dúzia de palavras não são nada.
E a cegueira é a mesma cegueira que noutros dias faz sorrir,
que noutros dias faz sonhar,
E só porque ele gosta das mesmas tretas que tu,
não o faz teu amigo para uma vida.
E só porque alguém é simpático para ti,
não cria um elo especial de sorrisos entre ambos.
E só porque tu achas que sim,
não quer dizer que haja um dia mais que um sonho tolo, mais que este sonho tolo,
Mas neste momento, agora mesmo,
estou bem capaz de te dizer,
entre ter-te assim, e nunca mais te ver,
casavas-te comigo?
(enfim, para que te mostro isto, se nem sequer está bem escrito)
They said those who kill themselves are weak
So I cutted, instead
They said those who cut are weak
So I took pills instead
They said those who take medication are weak
So I ate instead
They said those who eat are weak
So I puked instead
They said those who puke are weak
So I starved instead
They said those who starve are weak
So I fell in love instead
They said those who fall in love are weak
So I cried myself to sleep instead
They said those who cry are weak
So I killed myself instead
Nós divergimos porque eu posso ficar longos momentos a contemplar a lua, enquanto ela lhe deita um vislumbre e desvia o olhar. Nós divergimos porque eu tapo os ouvidos, cada vez que ela discorre sobre roupas e roupas e mais roupas, como se a conversa não me fastiasse, como se o interesse fosse mútuo. Nós divergimos porque não conseguimos ver os mesmos filmes. Ela vê os meus e diz que são muito tristes, eu vejo os dela e não consigo decifrar um pouco de originalidade ou um pensamento um pouco mais profundo. Claro que conseguimos ser parecidas e gosto que ela tenha alguma profundidade de pensamento, mas, por tantas vezes, as vontades dela vêm contra o suposto "amor incondicional" que tem por mim. E eu quero dizer-lhe, gosta de mim como sou, não como queres que seja!, mas sou a boneca dela e nada posso fazer.
Olho para a lua e sinto-me cósmica, sinto-me a orbitar, naquele espaço enorme, "pendurado" do outro lado da atmosfera, tão perto no universo, tão longe e tão visível, tão belo. A suspensão das nuvens, o espectro das cores do céu, não consigo evitar sentir-me aérea, as estrelas, o sol, não consigo evitar sentir-me cósmica.
Quando tu me falas em roupas, quando tu me mostras roupas, eu não sinto nada a não ser um vazio. Ok, sim, eu visto, estou quente, sobrevivo ao inverno. Não, mais não. Deixa o meu cabelo. Deixa-me roer as unhas. Deixa-me ter as sobrancelhas por arranjar. Não quero saber se fico bem de vestido ou não, não sou uma boneca, não sou uma peça de exposição, mãe, sou uma pessoa, mãe, não quero que as pessoas vejam, quero que as pessoas ouçam, apesar de não falar. Quero sentir-me infinita com elas, estelar como as constelações, natural como o vento. Não quero saber quem fez quando nem o quê, não quero saber do carro novo nem do carro velho, se me vens falar, fala-me de viagens de comboios, de passeios a pé, de grandes peregrinações a Santiago, de grandes viagens na estrada, sim, de carro, mas não do carro, a menos que o carro seja a tua casa.
Mãe, deixa-me fazer figuras infantis, hoje, na baixa, deixa-me pisar a pedra branca mas não a azul, deixa-me gritar de alegria ao ver uma das setas amarelas que segue para Norte, deixa-me andar pela beira dos passeios. Não sou uma boneca. Não sou uma obra de arte.
Eu não te conheço, tu não me conheces, vivemos longe, na mesma casa. Às vezes, estamos tão ligadas, até tu desconverares com essas tretas.
Já pensaste por que raio tenho de ir ao psiquiatra todos os meses? Já pensaste por que raio estou a tomar anti-porcarias e anti-doenças-mentais? Já pensaste por que raio às vezes grito, do nada, de medo, de fúria, de alegria, de tristeza?
Não sou a tua boneca, mãe. Vivemos em mundos diferentes.
With love,
me
[Sonhos de Utopia, num jardim de infância]
Uma casa, afastada de tudo, num campo meio ao descampado, meio à orla da floresta. O meu sonho, é uma casa, uma casinha, sem vizinhos, sem excessos. Um jardim de ideias, jamais limpo dos musgos e das poeiras do inverno. Uma gota que passa, sem se lavar. Uma casinha, com o mais simples, esta casa adorável, onde as divisões se fundem e que uma vasta biblioteca preenche. Estamos no inverno, estamos no verão. Uma casa sem microondas, sem tostadeira, sem triturador, só uma casa, com meia dúzia de festas e afectos, carinhos a quem por lá passe, para ir ler um livro, ou para me ir ver a mim. O branco, no meio das madeiras, no meio das tílias. Os livros, o cheiro a livros. O meu sonho é uma cama no chão, rodeada de livros. Música.
Uma casa onde as coisas pequenas são aquelas que a tornam casa. Como caixas em lata e os segredos que nelas se escondem, como bilhetes de comboios que já nem existem, ou cartas, quando já não se escrevem cartas. Como malas de papelão, com cadeado, a fustigar a imaginação. Como estojos de canetas de aparo, de tinteiros, de lápis de desenho, a carvão, a grafite, a pastel, como tintas de aguarelas. Onde os cadernos se amontoam, com vergonha do que trazem escrito, eu com vergonha do que neles escrevo.
Uma casa onde o chá sabe a chá, onde a televisão não é mais que um mito longínquo, onde, de vez em quando, se ouve o bater do teclado de uma máquina de escrever, antes de se dar o sonoro fim de parágrafo:
PIM!
Uma casa, com, queiram ou não, um livro de visitas, como se fosse um albergue do caminho, onde se sabe que a concha é o símbolo do viajante. Sem urgências, só meditações contemplativas, enquanto o sol se põe, o lusco-fusco adorna, ou quando a noite batalha com a manhã, em preto e branco, ou quando fechamos os olhos e somos só nós.
Com flores a brotar de lâmpadas, porque a imaginação cresce em lugares criativos.
Que te deu hoje, Adriana, nunca te vi tão optimista! (parece que o frasco das alegrias resulta mesmo), e ouvir boa música também *
25.11.2010
"Bom dia."
Uma mensagem no telemóvel. Um sussurro de passagem. Uma nota escrita ao canto de um jornal. Um aglomerado aleatório na sopa de letras. Duas simples palavras que podem ser vistas em qualquer lado, mudaram o mundo para sempre.
"Bom dia, são oito horas em Portugal continental e na Madeira, sete horas nos Açores." diz o locutor, a voz vagueando pelos recantos do carro estacionado. O homem suspira. O carro é roubado. O homem suspira. Liga o motor e volta para trás e deixa o carro no exacto sítio onde o havia encontrado. Sai e fecha a porta com um estrondo. Lá dentro, a voz do locutor de rádio continua a fazer-se soar. Quem se aproxime, há-de ouvi-lo a desejar uma boa viagem, se for o caso.
"Se hoje trabalha, não se atrase, faltam seis minutos para as oito em ponto."
"Bom dia."
O homem caminha, em passos largos. Caminha de mãos nos bolsos e pragueja. Está arrependido e envergonhado. Olha as pessoas e todos o olham de volta e todos o julgam. Faces repreensivas é tudo o que consegue ver. Os pássaros. Lá no alto. Pardais cantando os crimes de que é acusado, os melros debitam a sentença. Lá no alto. As aves de rapina, em círculos apertados, prontas a arrancarem-lhe os olhos a qualquer momento.
"Bom dia."
Em Portugal. Porquê em Portugal? Parecia um país completamente aleatório. O minúsculo jardim sujo do canto da Europa. O homem sabe que não deve caminhar de mãos nos bolsos nem em passadas largas e rápidas, como um fugitivo. O homem sabe como se comportar - mas não consegue. Há uma urgência incontrolável que lhe toma a caminhada.
Atravessa um sinal vermelho sem se aperceber. Não vem lá ninguém. Continua pelas ruas, está quase lá. Os passos não abrandam. As mãos insistem em casar com os bolsos. No ar sente-se o aroma fumegante do preparado do dia, das cantinas azuis. O passeio está limpo. Não há lixo. A calçada é branca, ainda mais que a camisa suada do homem. Ele desce a avenida principal. Passa pela biblioteca, pelo mercado. Por estátuas de gentes que nunca conheceu. Na torre do relógio, o ponteiro dos minutos dá um pequeno salto e aponta certeiramente o céu. Faz soar oito badaladas.
O homem chegou à estação. Traz um porta-moedas gasto no bolso de trás. Tudo, tudo, tudo errado. Dirige-se à bilheteira. Os comboios apitam e o homem está cada vez mais nervoso.
- Bom dia.
As palavras são para ele, directas e ditas em voz alta.
- Bom dia.
O homem quer fugir dali. Quer falar com uma máquina acerca do bilhete. As máquinas compreendem-no muito melhor e não chamam a polícia.
- Salamanca. Ida e volta.
Que desperdício. Ida e volta. Mas era o máximo que podia por não dar nas vistas.
Quase nos queimam vivos se damos a nossa pouco humilde mas sincera opinião. Frequentemente me dizem: "Já imaginaste o que seria do mundo se fossemos todos iguais?". Na verdade, somos todos praticamente iguais - aliás, alguém que apareça diferente é rapidamente alienado. Os mecanismos de tortura social são activados. Imagino um mundo de pessoas todas iguais: e vejo cidades repletas de arranha-céus, vejo salas e cozinhas e quartos e casas de banho, vejo as famílias reunidas no sofá, à televisão. Por isso, dando uma outra volta à questão: imagino que já o seja. Não faço parte desse mundo precisamente por ser diferente. A entrada é-me vedada. Um mundo repleto de pessoas que aguardam as instruções: programas na televisão para verem, revistas de moda que lhes dizem que vestir, prateleiras de hipermercados que decidem o que hão-de comer, estações de rádio que ditam as músicas que se devem ouvir - e estaríamos, ainda, no princípio desta lista de instruções, do manual de viver e conviver. Se fossem pessoas como tu, o cenário seria ainda mais cruel que a realidade.
Porém, se, acaso, fossem todos como eu. Vejo um mundo como uma espécie de paraíso. Vejo músicos e cientistas, físicos, engenheiros, matemáticos, violinistas, pintores, escritores, pensadores. Vejo-nos a criar algo livre de preconceitos. Vejo-nos a construir algo com gosto. Vejo a cultura a ser mais que meros massivos: a crescer, evoluir, edificar, grandiosa, construtiva, humana. Homens que beijam mulheres que beijam mulheres que beijam homens que beijam homens. Vejo amor, bondade, criatividade. O modo sublime como eclipsar-se-iam todos os defeitos: qual truque de magia!
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