Depois do adeus

Maria espera, impaciente, o fim do discurso do padre, do barulho das pás na terra, do seu choro forçado. Agora que a avó morreu, ela é livre de ir ao velho sótão da casa que já é da sua mãe.
Sai da necrópole, desce a rua, até chegar aos portões enferrujados. Entra sem dar satisfações. Numa aldeia pequena como aquela, as pessoas não conhecem o significado de fechadura. Sobe as escadas e, pela segunda vez em toda a sua vida, respira o cheiro a velho do sótão. Sabe exactamente onde procurar. No mesmo sítio onde a encontrara à muitos anos atrás, está uma caixa de sapatos.
-Sabia que não me ias desiludir, avó!
Lá dentro estão recordações do passado: fotografias, cartas, documentos, bilhetes de comboio...
Maria pega no primeiro papel caído e começa a ler: