Do mundo que me deixam

Que somos nós a geração futura. Que a nós nos cabe decidir. É o que vocês dizem de nós. E, consequentemente, vai ser em nós que vão depositar os vossos problemas, os vossos erros. Em mim, no meu irmão, nos nossos amigos e em toda a nossa geração. Para que os responsáveis sejamos nós e não o pobre e velho moribundo que hás-de ser. Cá estão as consequências das tuas acções. E "Já não vou estar vivo quando isso acontecer.", mas vou estar eu. Não quero saber se um dia vais morrer, porque é por tua culpa que eu vou ter de aguentar o que aí vem. Não sei nem faço ideia do que vou herdar, mas quando isso chegar... é algo que vai acontecer, sabes? Ou não sabes? Mas sou eu que vou ficar mal, sou eu que vou ficar num mundo sem solução. E que mais hei-de fazer? Porque és tu, que não te preocupas comigo nem com o meu irmão, só contigo, tu é que tens de mudar o mundo primeiro. Porque não vês o que fazes aos teus semelhantes, podias ser tu!

Agora eu, primogénita, estou sozinha. Não, estou contigo, meu irmão, vamos fazer o quê com o legado dos nossos pais? De braço dado, pelo único caminho que nos deixaram, vamos nós para o abismo, caminhando, um passo à frente. Olha para isto! Daqui do alto do abismo, olha para o mundo escuro que nos deixaram... Diz-me, agora, o que fazemos? De braço dado, para o fim do mundo, eu contigo, só nós dois... E a neve, lá em baixo, é a única visão bela do fundo do abismo. Senta-te aqui, ao meu lado, a contemplar o fim do mundo.