Reflexões multiplo-estúpidas

Vivemos num tempo feio de gente. Porque gente? Sempre gente, ora. Noutro tempo, mais bonito seria ver estes barcos a partir. Mas gente tem de ser má e deixar os outros. Estou em grave greve do mundo e das pessoas tão cheias de escrúpulos e preconceitos. Odeio pessoas, como não?? São bichinhos repugnantes. Comem-se uns aos outros e depois cospem e voltam a engolir, como moscas. Mas moscas são mandadas. Gente não, gente mete nojo e eu odeio. E não posso, não consigo vê-los sofrer. É como uma desesperada tentativa de matar o Gatinho Mau – ele não deixa de ser um gato, pois não? Um fofo e lindo gato, um gato horrível que persegue a minha Pantera, mas ainda assim um gato peludo e aprazível.

Assim são as pessoas que não consigo deixar a sofrer. Pobres pessoas… e assim as amo e assim, do tão mesmo modo, odeio. E assim tudo, tudo assim, em forma de contradição. Tudo junto como um fascículo de revista que desejava ser melhor, ser uma pêra doce, docinha, paciência, existe e existe – ainda bem. Sou eu mas sem saber quem tenta escrever que me vai ditando palavras, é o pensamento?, e de onde vem o pensamento? E assim me debruço a coleccionar palavras em telas, para tê-las, para matá-las, para morrê-las, para morrer-me, para morrer. Caída. Em telas. Em telas de escrita. Caída. Morta. Queimada. Como um trapo que se deixou à lareira. Nada melhor. Sempre. Para sempre morta. Que se quer da vida? A morte.