Carta de um novo dia.

Isto não é uma brincadeira. É uma luta que tenta chegar aos confins do mundo - aos confins da mente.
Não sei quem és. Não sei o teu nome, a tua cara, não sei o que fazes nem como és.
Não sei sequer se alguém lerá isto.
Mas arrisco. Pouco tenho a perder.
Espero que tenhas um pouco de loucura.
É sempre bom, sempre essencial.
E particularmente essencial.
Escrevo esta carta porque estou a morrer.
Não quero que tenhas pena de mim.
Vivi pouco, mas raros foram os arrependimentos. Vivi pouco, mas vivi uma vida cheia.
E a morte, que agora me leva, é calma, plácida, pacífica. Não me traz dores - muito pelo contrário, sinto cada vez menos.
Pouco tenho a perder - nada que não perca totalmente dentro de alguns dias.
Se há algo que me enche de melancolia é olhar à minha volta e ver milhões de infelizes que não conseguem pensar. Será que vim a este mundo viver como vivi, sem deixar alguma marca para o futuro? Serei o objectivo do Universo?
Decidi não levar estes pensamentos para o fundo da terra, comigo para o túmulo.
Decidi-me a escrever-te, para quem quer que sejas. Quero contar-te tudo! E esperar conseguir abarcá-lo nesta carta.
Esta é a carta de um novo dia: um dia que provavelmente será teu, mas que de certeza não será meu.
Nota importante: as gravatas não servem para nada!