Possivelmente natural

Este dia é fabuloso. Podemos fazer tudo. Podemos ser tudo. Podemos comprar tudo. Este dia é o mais fantástico das nossas vidas. Comparamo-nos e vemos que somos iguais porque tudo podemos ter. Somos fabulosos porque é hoje o dia de tudo o que nos passe pela cabeça.


Neste momento em que todas as realidades me são permitidas, magico uma paisagem. Estamos no norte, no meio de montanhas alpinas, triangulares, cobertas de neve. As coníferas rodeiam-nos no seu abraço irregular. Algures, ouço o gotejar de água, o desbravar de caminhos por uma ou outra fonte algures. Algures. Acrescento-lhe, agora, flores, rasteirinhas, de todos os tipos, das que se dão bem nestes climas. Flores pequeninas, miúdas. E a água vai desaguar a um regato e o regato finda num formoso lago, num imenso espelho de pequena ondulação que se estende até ao nosso horizonte. Sentes o fresco da paisagem e sorris. Quase que és feliz.
Neste momento em que posso tomar a realidade pela mão, construo uma pequena cabana, minúscula, para ser sincera. Dentro dela - tudo o que me é essencial. Um colchão no chão, mesmo à beira da lareira. Uma porta que esconde apenas vestidos simples, que caem como folhas, como pétalas de rosa, que caem no outono. Desbravo esta pequena casa, a sua secretária onde repousa a minha máquina de escrever e as minhas penas. E os tinteiros para as penas. É com alma que escrevo nesta casa, acerca da beleza e simplicidade da natureza.
Neste triangular momento, vejo os meus filhos brincarem com objectos simples, deles tirando todo o proveito. São criativos e amam a natureza. O meu amor chega a casa - não tardou. Traz fruta para os pequenos e para nós ambos.
É fresca, esta realidade. Sorrio para o simples que se me revela.