A minha boneca preferida caiu

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(A imagem foi retirada por opção da autora. Leiam os comentários, falam por si.)

Arrotar & Conversas à beira do abismo

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Na manga trazemos o ventre mas não contamos. Escondemos. Na manga trazemos ideias clandestinas, espreitando. Escondemos, há polícias por todo o lado e todos os cantos, escondidos em busca da morte do pensamento. Na manga trazemos a vida mas fingimos também autómatos. Como os outros, disfarçados, escondidos. Na manga trazemos os nomes de todos e o segredo, aquele segredo de quem vai esmagar o arroteiro.
O arroteiro.
O Arroteiro.
O Arroteiro arrota ordens. Arrota exigências de submissão. O Arroteiro aloja-se em qualquer cérebro que queira, porque é um modo de pensar. Aloja-se e contra ele ninguém pode. A não ser quem pense para além do que o que lhe apresentam. E nós trazemos as ideias na manga e os escravos do Arroteiro que não nos vejam ou arrancar-nos-iam os olhos. E nós trazemos alguém e esse alguém é todos nós juntos e vem na manga.
É agora.
E eu não estou sozinha. Antes pensava que sim e com nervosismo espreitava pela manga ver se ainda repousava o pequeno. Dorme, dorme, pequenino. Pensava que estava até encontrar o génio, sob a forma de folhas debaixo da pedra tumular. Pensava que era a única viva até encontrar o gémeo, o meu irmão gémeo. Pensava que éramos os únicos até encontrar todos os outros e agora o segredo é nosso e o pequeno já não é só o meu, é o que ia em todos e de todos o melhor e o melhor é o melhor de todos e irá ser maior que o Arroteiro, porque é a força de todos nós que pensamos e todos juntos e conseguimos, mas temos de manter isto em segredo, senão chamam-nos loucos e saltam-nos e arrancam-nos os olhos e deleitam-se em puro prazer a devorá-los. Escondamos na manga o nosso segredo, longe da vista. Ninguém sabe nem desconfia, porque somos mais um, apenas.
Só que não somos mais um. Somos todos. E todos um apenas. Mas não mais um.
Somos o um que te vai destronar e destroçar.

Cuidado.
Cuidado para a manga não subir.

Cautela aí onde pões os pés.
Dá-me a mão, senão caio.
Desculpa.
Isso não importa agora. Apenas chegar ao fim.
Meu querido irmão, olha onde chegou a nossa família.
À beira do abismo, bem vejo.
E os outros que existiam caíram todos e sobrámos só nós contra o monstro arrotador, não foi?
Não olhes. Não olhes. Não chores.
A culpa não é deles, eles é que ganharam a inércia e a inércia é quase inata…
Pois não é deles.
Eu não quero cair.
Então não olhes para baixo.
Somos tantos e antes pensava que era só uma.
Tu sabias que éramos tantos, só não sabias que nos íamos encontrar.
Somos tantos e somos tão suficientes. E há neve.
Há neve e nuvens.
O mundo ainda é bonito, não é? A natureza não pensa e assim triunfa sempre.
Dá-me a mão, vais cair.
Queres sentar?
Tu queres?
Eu sento sozinha.
Eu sento contigo.
Eu amo-te.
Eu sei.
E, se nos pudéssemos ver, verdadeiramente, seriamos iguais, seriamos gémeos.
Somos gémeos. E eu amo-te, irmã da minha alma.
E à nossa família.
E à nossa família.
O Arroteiro é fúria.
E nós fúria contra ele.
E quem ganha?
O que vencer. Isto não é um conto de fadas.
Eu conheci-te, irmão, e conheci a nossa família. Eu ganhei. E tive ideias por isso também ganhei. Porque o Arroteiro quis uma sociedade desprovida delas.
Então, eu também ganhei. Ganhámos os dois. E ganhou toda a nossa família.
E o Arroteiro?
O Arroteiro perdeu quando quis escravos.
E as pessoas?
As pessoas perderam quando se deixaram cair.
Então somos nós os vencedores?
Somos nós.
Só nós?
Só nós.
E de que nos vale isso?
Nada vale, como a vida. Mas lava a alma.
E a alma vale tudo, certo?
Vale o fim e o início.
E nós estamos no fim?
O fim chegou, o Arroteiro está perto.
Então perdemos?
Nunca, maninha. Nunca perdemos. Nunca mais.
Somos os maiores.
Pois somos.
Somos tudo.
E o tudo está a chegar ao fim.
Somos o fim.
Somos o fim.
E depois?
Depois, um novo início.

Sou e não sou

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O mundo é uma ferida na face das pessoas, porque é o que lhes oferecem quando nascem e elas o odeiam. Fingem que não, porém. Fingem tudo belo e tiram milhentas fotos. E o que são fotos que não prisão?
E o que não é fogo senão ferida nas faces das pessoas?
Contigo levas nada e vais sozinha. E ir sozinha é medo e é triste…
Mas não era, pois não?
Ser não sozinha é prisão e também é triste.

Tu hoje és flor, mas durante quanto tempo serás flor?
Hás-de cair, porque as flores duram pouco e são frágeis…

Hás-de cair porque todos os dias te vez ao espelho e vez com os teus verdadeiros olhos esse golpe de alto a baixo que é a desilusão que o mundo te deu como presente de nascimento e de existência… nula.
Podre.
Fétida.
Pobre.

Esquece, olha, tudo se há-de resolver sem tu seres mais flor. Ajuda a sarar as outras pessoas. Assim será porque, não te mintas, foste talhada para isto, para entreter e ajudar e não te mintas, porque achas que sabes fazer tanto?

O violino e o origami e a ginástica e o desenho, que é tudo isso senão entretenimento para sarar as faces? Que é isso senão enternecimento desigual por tudo o que existe?
O mundo não é uma ferida, as pessoas é que o julgam assim.

Enterte e enternece. Dá consolo à existência das pessoas.
E à tua.
E sê positiva, por um texto que seja.

Sê fresca como a brisa, encantada como a moira.

E sê a glória que a todos falta.

Sê mais que a esperança: o objecto de espera.

Reflexões multiplo-estúpidas

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Vivemos num tempo feio de gente. Porque gente? Sempre gente, ora. Noutro tempo, mais bonito seria ver estes barcos a partir. Mas gente tem de ser má e deixar os outros. Estou em grave greve do mundo e das pessoas tão cheias de escrúpulos e preconceitos. Odeio pessoas, como não?? São bichinhos repugnantes. Comem-se uns aos outros e depois cospem e voltam a engolir, como moscas. Mas moscas são mandadas. Gente não, gente mete nojo e eu odeio. E não posso, não consigo vê-los sofrer. É como uma desesperada tentativa de matar o Gatinho Mau – ele não deixa de ser um gato, pois não? Um fofo e lindo gato, um gato horrível que persegue a minha Pantera, mas ainda assim um gato peludo e aprazível.

Assim são as pessoas que não consigo deixar a sofrer. Pobres pessoas… e assim as amo e assim, do tão mesmo modo, odeio. E assim tudo, tudo assim, em forma de contradição. Tudo junto como um fascículo de revista que desejava ser melhor, ser uma pêra doce, docinha, paciência, existe e existe – ainda bem. Sou eu mas sem saber quem tenta escrever que me vai ditando palavras, é o pensamento?, e de onde vem o pensamento? E assim me debruço a coleccionar palavras em telas, para tê-las, para matá-las, para morrê-las, para morrer-me, para morrer. Caída. Em telas. Em telas de escrita. Caída. Morta. Queimada. Como um trapo que se deixou à lareira. Nada melhor. Sempre. Para sempre morta. Que se quer da vida? A morte.

O que vejo com os olhos da mente

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Tenta alegrar e tenta ver o que vejo. Vejo tudo, só que não com os olhos. Os olhos são úteis, mas não para ver o que vejo. Vejo calma. Vejo calma despreocupada e calma. Nada de excessivos. As pessoas passam e acenam e sorriem, sorrisos tristes ou alegres, mas sempre calmos. Não há pressa. Não há nada para fazer que não possa ser feito já. Está tudo bem, tudo o que possa estar. As pessoas passam em pequenos passos e não há carros nem autocarros em corridas frenéticas. Não há estradas, sequer. Há caminhos e bilhetes para ver pessoas a morrer. Há tudo o que precisássemos. Não há pressa, porque nada precisa de pressa. Ninguém precisa de pressa porque há tempo para nada e nada é o que se passa. Acalma.

Não é triste, é livre. Cada um é livre. E cada um, depois de reflectir longamente, assim escolheu, esperar a morte a cada segundo que passa. É que esse é o único propósito da vida. Esse e o de continuar a existir. E, cumprido o dever, esperam a morte.
Este mundo não se vê porque não é nosso.

Este mundo onde vemos e vivemos chora e tem pressa e as pessoas não pensam. Então, tenho de me agarrar ao que vejo com os olhos da imaginação. Deixar-me desolada por esse ser não mais que utopia? Não vale a pena. Utopia é visível aos meus olhos e posso vê-la claramente como te vejo agora. Utopia é real como tu és real, porque vive em mim e na imagem que tenho dela, tal como a tua figura e o teu toque vive em mim e assim adquire a sua realidade perante o meu ser. Desejo que seja real aos meus olhos do corpo, mas esse desejo é impossível e é o que me faz sorrir assim. É uma ambição que não me deixará desiludida porque nunca fui iludida com a hipótese da sua concretização.

Estou em paz comigo e com o meu pensamento e como teu mundo.

Queres sentar aqui ao lado e fechar esses pouco úteis olhos comigo?

Não cabem mais pessoas

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Não cabem mais pessoas. Já estou em desespero. Já não há mais espaço. Quem queira, quem sabe, não pode, porque não há espaço. Já não há vagas. Fechou, tudo, cessou a actividade e eu não consigo aguentar mais um segundo, estou apertada contra vós, pessoas, e não sobra mais espaço para mais ninguém.
Estou cheia de pessoas. Elas passam por mim e riem ou falam ou choram ou morrem. Alguns mandam beijos e abraços. Alguns evocam um tempo futuro suposto em que voltaremos a passar juntos. Só que eu não quero passar junto. Nem quero rir nem chorar, nem quero falar, nem quero sentir nem ouvir, nem quero beijar nem abraçar. Não quero nem quero pessoas. Pessoas ocupam espaço e querem espaço no meu coração, mas a procura é em vão porque não há. Não há mais. Não quero mais. Pessoas estorvam e prendem e pessoas mais, mais tenho preocupações. Pessoas não. Pessoa sim, mas Pessoa já cessou de exercer. Pessoas não, coração nada, não mexe, não há espaço. É que tenho feridas de alto abaixo, rasgadas e cosidas à mão de muitas lágrimas, e pelas brechas sai sangue, goteja sangue, coração aperta sangue para todo o corpo, sangue sai por veias mas também por brechas e eu não aguento mais cortes, mais feridas nem mais lágrimas, não há espaço para mais enquanto quiserem que viva, que seja viva e que haja viva, e não há, não há espaço.
Aaaaperta e bombeia.
Bombeia e rebenta.
Rebenta e despedaça.
E não sobra
Senão
Estilhaços
Destroços
Pedaços
De alma ferida pelos cantos.
E não sobra
Senão
Um coração rasgado
Parado
Para sempre, até ao dia da sua decomposição total.

E, aí, já há muito estarei morta e já há muito que não haveria espaço.
Só despedaço.

Mensagem de PPPFestejo

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Neste dia o mundo festeja o dia em que tu chegaste à Terra e ainda não sabias nada. Nessa altura, nada te disse, o mundo, porque tu ainda não eras tu e ele não tinha modo de saber quem tu serias. Depois tu cresceste e continuaste a fazer anos e a festejar esse dia em que tu nada sabias mas que chegaste à Terra, mas, ainda assim, o mundo não tinha como saber quem tu eras e deixou-te a festejar sozinha. Hoje, o mundo és tu. Hoje, festejamos, pela décima oitava vez, esse dia em que apareceste perante a luz e as cores e os festejos e o frio e a fome e o desconforto. Coisa tola de se festejar, enfim, tu festejas, é como uma desculpa para ser e não ser. Um dia, quem sabe, há-de o mundo festejar este teu vigésimo terceiro de Novembro, só que o que te há-de valer? É que, por essa ocasião, já estarás morta. E ninguém festeja os aniversários antes de morrermos, pelo menos não os dos escritores. São datas fúteis. Serão? Depois, quando já não vos vemos, é que se lembram das homenagens.
Oh, repito, têm algo a dizer, contem agora! E depois esqueçam que existi, depois de existir! Aproveitem o que vos hei-de deixar do modo que preferirem, porque já não me podem prejudicar. Plágios e tudo o mais, que mal me farão à consciência se ela já não há?

Esqueçam-me, post-mortem. Recordar é sofrer, porque eu não existo mais. Se não estou no presente, convosco, celebrando, então esqueçam o passado e desprendam do passado. Festejem hoje, como tu fazes, Adriana :D Parabéns, Parabéns!

E um dia os véus, será que descobrirão...

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E, um dia vamos afogar em terras que caminham e escondidos em mantos, porque ninguém nos consegue ver. Mas nós não vamos escondidos, vamos clamando o nosso ser, então porque não nos vêem? Não somos nós que vamos escondidos, são os olhos deles. Vão cobertos em preconceito. E nós vivemos em harmonia e eles nada conseguem e nada vêem. Nós sorrimos e por dentro choramos. É que as pessoas lavadas no que vão lavadas não vêem não só nós mas o mundo todo, o mundo de miséria que se estende a estes confins de pálidos desertos. É que as pessoas vivem em esferas espelhadas e é que as pessoas querem viver em férias e não sabem de quê e não gostam de nada e não ajudam ninguém e fecham os olhos, mais, cerram-nos com força de quem não quer ver. E mais, tentam obstruir a vista de quem vê e fazem da ajuda um estereótipo para dar a ilusão aos descontentes de fechar os olhos, uma ilusão de que ajudam, mas, sabes que mais, ajudam uma merda e encolhem os ombros perante nós e perante os outros. e é isso que fazem, ora encolhem os ombros ora fecham os olhos. Esses são os gestos de quem tenta limpar-se da moralidade e de quem quer ignorar e de quem não quer saber do rosto além do nariz. Esses são ainda mais pobres que nós.

São pobres de espírito, pobres coitados. Mas desses não tenho pena. Porque esses criaram a lama e o lodo onde vão vivendo e passando estes anos.

E nós seguimos, desfilando pela paródia e pelo circo e vamos ver a Lua e vamos ver as casas e voamos sem asas e vemos sem olhos e sentimos sem tocar e choramos sem lágrimas e amamos sem paixão. Somos o coxo que corre sem pernas, somos a luz que arde sem fogo e somos o mudo que grita sem voz. Somos mais do que aquilo que nos deixam sonhar sermos e assim somos e assim vemos e assim sentimos e assim vivemos.

Cândidas Baladas das Noites Tristes

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Agora é a hora em que chegam estas horas de desglória, por quanto, quanto tempo mais? Por quantos infinitos vou ter de esperar? Por quantos olhares e dores e incertezas? Por quanto, quanto mais? Bolas, mais. Mais. Outro dia, outra noite, outro desliga. Ora, sempre, mas não quero sempre.

O que interessa o que quero, porém? Sou uma pequena formiga que corre contra os outros. Contra outros e ela apenas vê esses, porque vão contra ela, é tão difícil ver quem vai no mesmo sentido com o mar de gente que contra nós se insurge e aparece…

Bolas, que raio de contas são estas?

Só quero mais cinco minutos, sempre mais cinco minutos, só quero não dizer boa noite outra vez, quero convosco para sempre. Para sempre, toda a noite e todo o dia e poder ver tudo e comentar e sempre juntos. Sempre juntos…

Boa noite, mais uma vez. Boa noite boas noites, durmam bem, adoro-vos, amo-vos e tudo o mais… e todos os dias e é penoso, ora. Ora. Porque pessoas contra mim, não percebo…

Amor em palavras

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Amo papoilas douradas ao sol que não são douradas, mas lembram os cinco anos. Amo estrelícias pelo arco-íris espectral de cores. Amo amores-perfeitos, então se forem roxos e laranja, deliro. Amo hortências, que parecem gorros de criança ou dentes de leão, e amo os tons que adquirem. Amo narcisos, a tocar trompete. Amo flor do maracujá, rainha de algum coisa, não sei o quê porque não sei ler perfeição. Amo os dourados reflexos de aveia do trigo e amo todas as cores porque são da natureza e naturais. Amo os tons de prata que a água deixa escapar do passeio e atingem os meus olhos. Amo a quietude de um mundo adormecido que vou percorrendo ao som do vento acariciante. Amo perder-me em labirintos onde a razão não chega nem sequer os olhos e muito menos a realidade, amo ver jardins de lírios e árvores em choro calmo, amo imensamente os tons lava e fogo da lava e do fogo e da fogueira a arder e amo ouvir o crepitar, o estremecer dos troncos. E amo as pequenas coisas que assim tornam uma paisagem bela e dão descanso aos olhos e calma. E acalmam e não são excessivos porque não são excessivos. E amo as claridades matinais contra o negro das sombras que ainda povoam, os contrastes da luz, o céu todo branco e o mundo todo negro, como as asas de um corvo cor de carvão. E amo esta maldita beleza que cresce em toda a naturalidade com toda a naturalidade, sem reflectir ou hesitar ou planear ou pagar imposto. E amo a pequena gota que cai e atinge o mundo terreno em não outro lugar que não o meu nariz erguido às nuvens. E amo profundamente tudo isto, sem reflectir ou hesitar ou planear ou pagar imposto. E amo os caminhos lavados e amo os sorrisos e amo os olhos e amo e não posso deixar de o fazer. E então dizem-me que esta paisagem é feia e que sentem falta da modernidade de linhas e cinzas e eu choro o mal que querem a tudo o que amo.

Amo o que escrevo, o que é lindo =)

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Vou olhar para vós todos e guardar-vos comigo. São como gotas de água cristalina e amo-vos perdidamente. São meus filhos, meus e de todo o mundo. Escrever-vos é um transe, as palavras surgem, a caneta escreve e eu deixo-a pensar, a caneta pensa e eu dou-lhe movimento, mas depois apenas os meus olhos lêem, porque bico de caneta não foi feito para ver nem ler nem amar, rasgar o papel até brotar sangue, é esse o propósito de bico de caneta, construindo os meus textos, meus filhos. A caneta pensa e pensa e eu escrevo e escrevo, deixando a fonte de tinta satisfazer os seus caprichos.

E o que sobra.

Sobra enfim, dou descanso à caneta, fecho o pequeno caderninho e suspiro, completa. Acabou, pois claro, acabou mais um texto. É sobre quê? Não sei, ainda não li, ainda é um bebé, depois hei-de compreendê-lo, mais, hei-de vê-lo crescer a meus olhos e a transbordar de alma e significado.

Gostaria de vos abraçar todos, são tão tudo o que tenho e tudo o que significa, porque são eu verdadeira, a verdade todos os dias trancada. Se eu eu e eu existisse e não fosse pessoa, se fosse eu verdadeira ao que sou, não seria pessoa, nem gente nem humano, seria palavras em forma de textos, seria tinta de caneta, jorrando do ferido papel, por aparo de pena, rigidez sangrenta que não é mais que beleza em estado mórbido.

São textos os meus textos e são meus filhos e do mundo e da caneta que assim se chega, e eu sou eles, estou neles, são o meu espelho e meu reflexo em verdade contada, porque não há verdade nem mentira, há apenas ser e ser só tem uma dimensão e nada mais se nota e ao olhar para vós é como debruçar-me a uma varanda e ver um rio ou um lago ou um mar ou o gelo ou uma nuvem e ler-vos é mergulhar nessa vossa imensidão transbordante é ir ao céu ver a Lua e as estrelas de perto, é tomar boleia da nuvem e pensar sobre isso e deleitar-me nisso e no conhecimento de saber que a vossa mãe sou nada mais que eu, mãe de todos vós, meu espelho da minha alma onde me espelho e onde a sabem reconhecer, como irmã e como gémea e digo, olhem para os meus filhos e esqueçam quem vos parece que sou, porque quem eu sou são eles e não há mais, é só, é simples e não há mais a dizer, apenas o cessar do discurso, pousar a caneta, fechar o caderno e suspirar, de harmonia, completa, inteira.

A vida - pessimismo realista - 12.11

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A vida não vale a pena.

E esta é a triste verdade de todas as coisas.

A vida não vale a pena. E não podemos fugir dela.

Mas, oh triste e vã esperança de um sentido, só que não existe.

Não há mais que oco. Oco. Oco. É o fim mas não é o fim. Querias fim, mas não podes.

A vida não vale a pena. E tu nada podes fazer. A vida foge por entre os dedos.

Querias tu. Mas não. Tens de a viver e sofrer com os outros.

Tens de ir com os outros sofredores. A adivinhares o final.

E tu já só vês o final. Só queres fim. Finito.

Mas finito não há. Não mais.

É uma tormenta.

É tortura.

É a tua desgraça.

Em forma de corpo e carcaça física.

Em forma de átomos, de vasos e sangue,

De frescos químicos à força da electricidade.

De vontade vontade vontade. Só que vontade não há.

Porque a vida não vale a pena e a vida está fora de moda.

E tu sabes e não queres mais, só que isso era egoísta e as pessoas.

Oh, as pessoas. Como mandam e são cegas e buscam sentido que não há.

E, assim, encaixam em modelos de sentido por outros ditados, sentido que não há

E muito menos é verdadeiro. Encaixam e os modelos dizem que vale sim a pena

Então repudiam-nos pelo nosso pensamento e chamam-nos egoístas

E nós não podemos partir sem eles, porque seriamos egoístas.

Eu quero, mas não posso, eu quero e não aguento.

Eu tenho de aguentar. De cabeça baixa,

Para sempre caloira da vida.

Sempre a perder.

Sempre perdida.

Sempre na merda.

Sempre cumprindo.

Sempre mobilizada.

Sempre chorando.

Para sempre viva.

Mas que vida?


Dois Pequenos Mini

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Escrevo-te porque um dia esquecerás porção e não mai sverás estes escritos até lá. Até lá, bom fixe de vida... =)


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Corvos e coveiros são pedaços da mesma paisagem e essa paisagem é bela e cinza.

Divago

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Parabéns, Adriana.
Tens 18 anos.
Sabes o que isso quer dizer?
Quer dizer que já se passaram 18 anos desde o dia em que abandonaste o conforto da barriga da tua progenitora.

Quer dizer que vais ter de acatar novas regras, porque vives numa sociedade estupidificada.

Eu.
Eu poderia ser tu que vais ler isto, só que não.
Eu sou algo, neste momento.
Tu serás outra, tu és outra.

Saúdo-te, cumprimento-te e, já agora, dou-te os parabéns.

Os átomos que faziam parte de ti nesse 23 de Novembro de 1991 já não são os mesmos, apenas os elementos. Células? Acho que nenhuma, só de anos posteriores começaram a ser guardadas.

Já viste como essas pequenas células são as que fazem de ti quem tu és?

Quem tu és?
Quem és tu?

És eu com mais células atulhadas em memórias.
És eu e tens mais que eu.

Parabéns, parabéns!

Poderia tentar adivinhar quem és, atrevo-me a dizer que não serás muito muito mais.
Não em termos de socialização, não. Lá daquilo das tuas ideias, as tuas belas ideias.

Atrevo-me a dizer que amas a Natureza.
Atrevo-me a dizer que amas Pessoa.
Atrevo-me a dizer que amas ler.
Atrevo-me a dizer que amas escrever.
Atrevo-me a dizer que não tens namorado.
Atrevo-me a dizer que odeias a branca de neve.
Atrevo-me a dizer que odeias modas.

Olha, estou para aqui a escrever-te, passa da uma e eu a escrever-te.
Não sei quem és, posso apenas adivinhar.

E adivinhar que isto te há-de chegar às mãos.

Parabéns, tens dezoito anos.
És, oficialmente, maior de idade.

E levas-me contigo, não é lindo?
E ensinas-me o que acabas de descobrir.
Como é cinza e cinza espero que seja o teu dia.
E que não chova, ou que não tenha chovido, depende de quando leres isto.

Adoro-te, de qualquer das formas.

Ou talvez não.

Parabéns, Didi, Adri2..9, AGMattvs.9, Zozie, Nanou, Aiandra, Anairda, Nanveqn, Adóriana, DiMattos, Gaspar DiMattos, Adriana, Adriana Gaspar, Adriana Gaspar de Mattos, Adriana Maria Pires Gaspar de Mattos.
Parabéns, querida.

O sorriso mais lindo do mundo

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O sorriso dela era mais que viciante, era mais que querido, era mais que contagioso, era mais que lindo.

O sorriso dela era mais que um sorriso de alguém mais.

O sorriso dela era o meu tesouro de cada momento, era um mundo que se abria à minha frente, era uma luta ganha contra a nuvem que tomava conta dela, cada vez mais.

Era o Sol que despontava.

Era uma raridade e uma preciosidade.

O meu mundo era o maior por cada sorriso.

Por cada pedaço de mundo.

Amo-te amo-te e tu és a minha querida borboleta.
O teu sorriso para sempre desapareceu, mas isso é só o que as pessoas vêem.

Porque o teu sorriso estará sempre na minha memória, guardado como o meu maior tesouro.

Sinto

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Sinto-me como um peixe abandonado na areia, tentando respirar o ar, desesperadas tentativas de aspirar o todo à sua volta, sem conseguir, sentindo-se cada vez mais afogado.

Sinto-me assim, e assim me deixei cair em desespero, com lágrimas preguiçosas escorrendo, em silêncio apenas interrompido pela minha tentativa de respirar, respirar, aspirar o ar, tentativas espaçadas, cada uma mais intensa e curta que a anterior. O ar deveria ser-me familiar, mas parece que não que não que não :-(

Isto assim é tristeza das palavras que ficam por dizer. Oh, tristeza de palavras, poucos, tão poucos os momentos restantes para o juízo final, eu tiritando de medo, como um espanta-espíritos ao sabor do vento.

Como odeio e odeio que fique algo por dizer.

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Os dias passam, porém, a adoração que nutro por ti não diminui com elas: é ampliada e multiplicada. Como te adoro, álgebra!

Chegada

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O comboio pára, num último solavanco, agarremo-nos ao que pudermos.
Um livro ou outro que cai, uma velhota que, depois do esforço para se levantar, aterra de novo no assento.
Tento espreitar para a rua, mas a janela devolve-me a minha própria cara, aquela face retorcida que me segue por todas as superfícies espelhadas.
Meia dúzia de empurrões depois, estou às portas, de saída daquele, apesar de tudo, lugar confortável - é suposto sair depressa, parece que nos dão pontapés até o fazermos - num salto, porque é tremendamente mais divertido que descer os ridículos íngremes degraus, estou fora. Cheira a noite e a óleo. Cheira a borracha. Com sorte, cheira a serra e árvores, mas hoje não.

Uma vez mais, sou abandonada no apeadeiro, largada pela lagarta que com vagar se afasta. Com vagar, não, com muita pressa. Olho sempre para trás, vê-la partir deixa-me melancólica. Depois, sigo contra a torrente de pessoas: vão todas para outro lado, qualquer que seja, não é o meu. Eu vou sozinha. Fico sozinha.

É noite, agora. Sempre de noite. Sempre sozinha.

Sigo pelas ruas amargas. Não há passeio, sequer, só estrada, casas e linha. Os carros passam numa corrida desesperada. Não há luz, a não ser a de um ou outro candeeiro a avariar.

Vou ouvindo os meus passos, esperando que sejam os únicos que vá ouvir. Conto-os. Ou canto baixinho.

Sozinha, aconchegando o meu "livro do comboio" que não é livro do comboio coisa nenhuma, isso não é mais que um pretexto para o aconchegar contra mim, é o meu preferido.

Sou eu e ele, numa rua de fábricas abandonadas, tentando ignorar o que vejo. Aqueles olhos verdes que me seguem.
Imagino-os sempre verdes, ou qualquer outra cor que me faça estremecer em medo.

Acelero o passo.
Sozinha, de noite.

E com passados de outras vidas a atormentarem-me.
"Podia ter sido eu. Podia ter sido eu."
E os olhos verdes vão-me seguindo.

Querem fazer uma ideia?
Eu vejo cabeças de dragão em osgas.
Imaginem, então, o que verei na sombra da presença de um monstro de pessoa.

Nunca há passeio.
E as ruas estreitam e a luz é cada vez menos.

E o frio que tanto adoro, torna-se desconfortável, prende os movimentos.
Tento ignorar tudo e observo a minha sombra cintilante. Na maior parte do tempo, não há sombra.

Vou sempre só, mas não estou só.
Tenho os olhos verdes que tanto odeio, tenho o medo e a angústia. Tenho uma torrente de pensamentos e de recordações inventadas, que não são minhas mas serão de alguém. De alguém tão próximo...

Fecho os olhos.
Nestes dias, não cheira a nada. Nem a lavado, nem a serra, nem a puro, nem a arvoredo.

Comigo vêm os cheiros do comboio, à falta de outros: a tosse, a rugas e pele a sair, a mofo, a velho.

Já nem há animais a cumprimentar.
Recolheram ao conforto.

Está tudo molhado e cinzento, excepto que não é cinzento porque é de noite.
É tudo negro ou cor de lâmpada quase a avariar.

É tudo gotejante e não há uma única estrela para amostra.

Dou os últimos passos.
Em casa, por fim.

Estes dez minutos a pé cansam mais que o resto do dia.


E é tudo tão feio...