Amo papoilas douradas ao sol que não são douradas, mas lembram os cinco anos. Amo estrelícias pelo arco-íris espectral de cores. Amo amores-perfeitos, então se forem roxos e laranja, deliro. Amo hortências, que parecem gorros de criança ou dentes de leão, e amo os tons que adquirem. Amo narcisos, a tocar trompete. Amo flor do maracujá, rainha de algum coisa, não sei o quê porque não sei ler perfeição. Amo os dourados reflexos de aveia do trigo e amo todas as cores porque são da natureza e naturais. Amo os tons de prata que a água deixa escapar do passeio e atingem os meus olhos. Amo a quietude de um mundo adormecido que vou percorrendo ao som do vento acariciante. Amo perder-me em labirintos onde a razão não chega nem sequer os olhos e muito menos a realidade, amo ver jardins de lírios e árvores em choro calmo, amo imensamente os tons lava e fogo da lava e do fogo e da fogueira a arder e amo ouvir o crepitar, o estremecer dos troncos. E amo as pequenas coisas que assim tornam uma paisagem bela e dão descanso aos olhos e calma. E acalmam e não são excessivos porque não são excessivos. E amo as claridades matinais contra o negro das sombras que ainda povoam, os contrastes da luz, o céu todo branco e o mundo todo negro, como as asas de um corvo cor de carvão. E amo esta maldita beleza que cresce em toda a naturalidade com toda a naturalidade, sem reflectir ou hesitar ou planear ou pagar imposto. E amo a pequena gota que cai e atinge o mundo terreno em não outro lugar que não o meu nariz erguido às nuvens. E amo profundamente tudo isto, sem reflectir ou hesitar ou planear ou pagar imposto. E amo os caminhos lavados e amo os sorrisos e amo os olhos e amo e não posso deixar de o fazer. E então dizem-me que esta paisagem é feia e que sentem falta da modernidade de linhas e cinzas e eu choro o mal que querem a tudo o que amo.
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