Tenta alegrar e tenta ver o que vejo. Vejo tudo, só que não com os olhos. Os olhos são úteis, mas não para ver o que vejo. Vejo calma. Vejo calma despreocupada e calma. Nada de excessivos. As pessoas passam e acenam e sorriem, sorrisos tristes ou alegres, mas sempre calmos. Não há pressa. Não há nada para fazer que não possa ser feito já. Está tudo bem, tudo o que possa estar. As pessoas passam em pequenos passos e não há carros nem autocarros em corridas frenéticas. Não há estradas, sequer. Há caminhos e bilhetes para ver pessoas a morrer. Há tudo o que precisássemos. Não há pressa, porque nada precisa de pressa. Ninguém precisa de pressa porque há tempo para nada e nada é o que se passa. Acalma.
Não é triste, é livre. Cada um é livre. E cada um, depois de reflectir longamente, assim escolheu, esperar a morte a cada segundo que passa. É que esse é o único propósito da vida. Esse e o de continuar a existir. E, cumprido o dever, esperam a morte.
Este mundo não se vê porque não é nosso.
Este mundo onde vemos e vivemos chora e tem pressa e as pessoas não pensam. Então, tenho de me agarrar ao que vejo com os olhos da imaginação. Deixar-me desolada por esse ser não mais que utopia? Não vale a pena. Utopia é visível aos meus olhos e posso vê-la claramente como te vejo agora. Utopia é real como tu és real, porque vive em mim e na imagem que tenho dela, tal como a tua figura e o teu toque vive em mim e assim adquire a sua realidade perante o meu ser. Desejo que seja real aos meus olhos do corpo, mas esse desejo é impossível e é o que me faz sorrir assim. É uma ambição que não me deixará desiludida porque nunca fui iludida com a hipótese da sua concretização.
Estou em paz comigo e com o meu pensamento e como teu mundo.
Queres sentar aqui ao lado e fechar esses pouco úteis olhos comigo?
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