Disclaimer

0 críticas

Disclaimer:

Social situations may enhance the probabilities of self-harm, depression, self-loathing, mutilation, vomits, mental disorders, anxieties, hyperventilation, overdose, numbness, starvation, low self-esteem, repression, inferiority, heartache, smoking, alcohol consumption, drug consumption, addiction, self-destruction, auto-inflicted burns, mutilation, torture, and may, in extreme cases, provoke suicide. Please, contact your doctor or hospital in case of suicidal thoughts. There's nothing they can do, really, but they'll give you self-help helpless books, numbing addictive pills, hopeless advice, rehabilitation in pain, brain scans to tell you that you are normal, electroshock to tell you that you are normal, mental hospitals full of normal people, un-comforting comfort, illusions of hope, dreams regulations, ideas restrictions, barking dogs, company of misunderstanding, extravagant bills, and the ultimate guarantee that what you are going through is normal, feels normal, and that millions of people got over it.

 


Paredes caladas

0 críticas

Faz de conta que nos cruzámos no metro,
e que tu ias a ler aquele meu livro preferido e eu te quis falar,e não disse nada.

Faz de conta que nos cruzámos outra vez no metro,
e tu ias a ouvir qualquer coisa um pouco alto demais,e eu não conhecia, mas quis-te perguntar,e não disse nada.

Faz de conta que hoje não nos cruzámos no metro,
e eu amaldiçoei todos os dias em que não te disse nada.

E amanhã, se te vir,
terei coragem para te falar?

Nem sequer está bem escrito

0 críticas

Nem tem a força das palavras desenhadas na parede.

Nem tem a simplicidade da poesia.

Nem faz muito sentido, se calhar.

E a mesma voz que me diz, "arrisca, atreve-te", é a que me manda sentar.

E é o mesmo amor que não faz sentido,
porque meia dúzia de palavras não são nada.
E a cegueira é a mesma cegueira que noutros dias faz sorrir,
que noutros dias faz sonhar,

E só porque ele gosta das mesmas tretas que tu,
não o faz teu amigo para uma vida.

E só porque alguém é simpático para ti,
não cria um elo especial de sorrisos entre ambos.

E só porque tu achas que sim,
não quer dizer que haja um dia mais que um sonho tolo, mais que este sonho tolo,

Mas neste momento, agora mesmo,
estou bem capaz de te dizer,
entre ter-te assim, e nunca mais te ver,
casavas-te comigo?


(enfim, para que te mostro isto, se nem sequer está bem escrito)

A cor das Joanninhas

0 críticas

Quero falar-te dos dias de tempestade. Dos dias em que acordo de um sonho para um pesadelo. Quero falar-te das ondas do mar, e como num dia te elevas na crista, para no outro te afogares no peso da rebentação. Da espiral que começa lenta e calma, e que cada vez te leva mais depressa para o fundo do poço, e só te dás conta quando já não podes sair. Quero falar-te do quanto os olhos pesam o dobro, do quanto o céu pesa o triplo, do quanto sair da cama pode ser adiável, para daqui a uma hora, para daqui a duas, para amanhã. Quero falar-te de como a cara dói quando tentas sorrir, porque até sorrir magoa. 
Quero falar-te daquele teste, no primeiro ano, onde comecei a chorar, mas não por causa do teste. Quero falar-te daquela aula, no segundo ano, onde comecei a chorar e ninguém deu conta. Quero falar-te daquele laboratório, no terceiro ano, de onde saí para ir à casa de banho, para abrir os pulsos em sumo de morango.
Quero falar-te dos dias em que a dor física doía menos que a amargura no meu coração. Daqueles em que os meus braços, o meu corpo, eram campos de batalha, de um ódio enraizado e um desespero transbordante. Quero falar-te de todas as vezes em que achei divertido o efeito alucinante da bebida com a medicação. Quero falar-te daquele dia em que tomei um, e tomei dois, e tomei três para ser feliz, e tomei quatro, e tomei cinco, e tomei seis, e somei sete, e ao fim já eram oito os que contaste, quando foram nove, e talvez dez, e até onze, e só parei nos doze porque já não tinha mais comigo. Quero muito falar-te desse dia, porque me salvaste, quando eu não queria ser salva. Quero falar-te das misturas, das buscas em casa por todo o tipo de drogas, e da pequena lata-bomba, guardada para emergências. Quero contar-te das vezes em que lancei tesouradas no cabelo, para não ser na carne. Quero contar-te de todas as vezes em que levei os dedos à boca sem querer saber. Quero falar-te daqueloutra vez em que o álcool foi demasiado abaixo com os comprimidos, e quem sabe não foi a segunda vez que tentei. Quero dizer-te de todas as vezes que fui para a cama por um beijo, por um abraço, porque penso assim tão pouco mais de nada de mim.
Quero falar-te de cabelos louros e olhos azuis, há tantos anos, afundados numa tristeza demasiada, e não conseguir fazer nada para ajudar a pessoa que mais amei no mundo. Quero falar-te de cabelos morenos e olhos castanhos, que hoje vi, e que são iguais àqueles azuis, e que são iguais àqueles que vejo ao espelho, e saber que não posso fazer nada.
Quero falar-te das músicas, dos livros, dos filmes, das pessoas, dos momentos virtuais que me ajudaram a aguentar nos piores momentos, e a sair, degrau a degrau, a escada infinita do fundo do poço.
Do fundo do poço, quero contar-te como a vida não volta a ser a mesma, porque agora viste o fundo. Do fundo do poço, não te quero nem falar.
Do cimo do poço, quero dizer-te o que nunca me disseram, como é difícil o intermédio, com um buraco aos nossos pés, a ameaçar puxar a qualquer momento. Quero contar-te dos meus passos inseguros e vagarosos para me manter à tona da água. Quero falar-te das coisas pequenas, da respiração devagar, de tudo a que me agarro para ir em frente, como uma corda invisível, e tentando esperar que me leve ao sítio certo.
Quero explicar-te que as minhas lutas ainda não estão vencidas.
Mas quero dizer-te que, um dia, o escuro torna-se luz, e respirar é fácil outra vez.

Esgotamento Vocabular

0 críticas


Eu conheci o homem da minha vida, catorze vezes, talvez mais, se as contar, se as conseguisse contar. Em momentos como esse, um olhar, uma palavra basta, de súbitos presos. Às vezes, dura meses, outras vezes dias.
Conheci catorze homens da minha vida e cada um deles o foi, numa vida paralela, só na minha imaginação.
Um dia, esgotámos todas as palavras para dizer o que sentimos. Abusámos delas, sem lhes conhecer o significado. Um dia, contentámo-nos em ter sempre mais dinheiro, a subir sempre mais alto, mas esquecemos o que é subir nos sentimentos. Onde as palavras que gastamos acabam, acaba o mundo, acaba a ambição. Perdemos o "gosto de ti" da infância, que valia por cem "amo-te" que possamos dizer agora. E a nossa cabeça anda às voltas, enquanto nos "apaixonamos", um dia esgota-se-nos o vocabulário e não pedimos mais, sem saber que podemos mais.
Já encontrei a minha alma gémea em centenas de bares, em incontáveis noitadas, de cada vez mais certa de que tinha encontrado aquela pessoa, a pessoa certa, com quem partilhar mais que beijos e carícias, uma manhã no baloiço, um chá ao adormecer, uma série demasiado longa. De todas as vezes, tive tão forte certeza, sem querer saber mais, ou, sabendo o suficiente, achei que já sabia tudo.
Um dia, não pedimos mais nada, porque conhecemos aquela pessoa simpática, porque lhe dizemos "amo-te" e acreditamos piamente no que dizemos, porque brincamos com a nossa cabeça até nos convencermos que é verdade. E, no final, ficamos com aquela pessoa simpática, porque ela disse "também te amo" e porque é simpática e porque nos convencemos do que dizemos. No final, assentamos com a pessoa simpática, no nosso final feliz, só para dizermos que conquistámos qualquer coisa, encontrámos a vitória no amor e na união, riscámos uma tarefa da lista, agora só falta o dinheiro e o emprego, e a casa grande.
Um dia, sentimo-nos cansados e não sabemos porquê. Gastámos os amos-te, com os anos e a falta de paixão, e a pessoa simpática ao nosso lado não é mais que um hábito.
Um dia, encontramos a pessoa da nossa vida, uma daquelas catorze com quem trocamos frases e olhares e sabemos que lhe pertencemos. Falamos com ela, com calma, porque assentámos, e tornamo-nos grandes amigos.
Um dia, gastámos o vocabulário, antes de as sensações serem todas descobertas e, no dia seguinte, ficamos sem palavras que acarinhem o que sentimos agora. Um dia, julgámos amar demasiado cedo.

Depressão Pós-Depressão

0 críticas


Depressão Pós-Depressão
(aquilo de que ninguém nos avisou)

É mais um dia de viagem, da viagem inevitável que passo a semana a adiar, com medo de qualquer coisa que não existe. Já parece que passaram semanas desde a última, quando escrevi aquela carta num guardanapo, num misto de desespero e de melancolia, uma espécie de pedido de ajuda que ninguém vai ouvir - e que ninguém pode ajudar. Hoje, enquanto estendo a roupa, peça por peça, e dou uma entrevista imaginária, penso na depressão, que um dia esteve tão presente, ou todos os dias desde há três anos, agora sim, três anos e meio (e uma semana). Ainda os conto, aos dias, às semanas, aos meses, agora aos anos desde que perdi tudo. A esta hora, a 16 de Novembro de 2009, chovia intensamente e eu estava para apanhar o comboio nocturno até casa. Entrei com um sorriso no comboio, saí com um peso no peito e lágrimas incontáveis, e algo que não sabia bem o que era. Foi aí que a guerra começou.

Agora, olhando para trás, vejo os dias com terapia, sem terapia, com depressão, sem depressão, com medicação, sem medicação, com uma clareza infinita. Aqueles dias em que lutei, em que não precisei mais de lutar, cada dia, cada acção, teve  uma resposta no meu cérebro. Um dia, deixei de viver, de pensar, de lutar. Limitava-me a estar e a receber toda a dor insuportável, sem pensar muito dela, porque pensar implicava sentir cada golpe com uma intensidade incrível. Afinal, de que nos serve pensar?
Os dias da depressão vieram e ficaram, e, hoje, olho para a romantização e preconceito para com a doença. As pessoas diziam-me para ir correr, para sair de casa. Belo. É doloroso olhar para trás e saber que todas essas pessoas não me podem ajudar. É como dizer a alguém que tenha cancro para ir correr e sair de casa, na esperança de que a doença desapareça, como que por magia. Não há magia. Não há ajuda. Nem o psiquiatra pode fazer-nos ultrapassar, se bem que torne a dor um pouco mais suportável, quando é demasiada. Consegue ajudar-nos a deixar as noites de insónias, mas tudo o resto é trabalho nosso. Gritamos por ajuda, mas estamos presos no nosso próprio corpo. Não há nada de bonito ou fácil na depressão.
Porém, um dia, a dor desaparece. Um dia, conseguimo-nos levantar da cama, conseguimos vestir-nos com energia, tomar banho, sair de casa. Conseguimos querer alguma coisa, fixar objectivos. No entanto, tão depressa como aparece, estes espasmos vão embora. Esta é a pós-depressão, aquela de que ninguém nos avisa. A minha primeira vez foi no verão de 2010. Deixei os comprimidos, depois de mais de meio ano presa a eles, fiz os exames, comecei em férias. No ano seguinte, fui viver para Coimbra. Então, em Janeiro de 2011, recomeçou. Como se volta a uma depressão depois de sair das garras, do fundo do poço? Não tinha a certeza, mas, quando em Fevereiro voltei a perder tudo, já não queria saber. Eu *merecia* aquela bem dita depressão. Como raio conseguiria sobreviver sem ser debaixo dos lençóis e sem pensar em nada? Durante o verão, as coisas não melhoraram. Apesar de ser só uma ligeira sensação, não tão forte como a primeira vez, nada mudava.
Já em Setembro, a vida começou a dar frutos positivos. Um exame de época especial que resultou num 15, um novo ano, colegas de casa fantásticas. Estava a caminho da felicidade, da normalidade, outra vez. Estava outra vez na pós-depressão - e, em breve, ia voltar aos calabouços da minha mente. Muito em breve. Fins de Outubro, inícios de Novembro, voltei a faltar às aulas, a cortar-me na casa de banho. Talvez em Março, a minha mãe arranjou-me anti-depressivos leves, e eu tentei fingir que as coisas estavam a melhorar.
A primeira vez que me tentei matar, foi a 19 de Junho de 2012. Depois disso, ao ver-me tão desesperada, voltei ao psiquiatra.
A minha última consulta foi em Dezembro e, no início de Abril deste ano, já tinha deixado totalmente a medicação - outra vez.

A vida estava melhor, tenho de dizer. Eu a viver em Guimarães, num mestrado com os colegas mais fantásticos que alguma vez tive. Sim, o mestrado não era exactamente aquilo que eu queria, mas há coisas piores. Já tinha meio ano, um semestre feito. Só faltam mais 6 cadeiras. Deixei os comprimidos. Não me sinto deprimida, raios.
Então, porque quero desistir?
A depressão pós-depressão não está nos folhetos de aviso à entrada dos dentistas. E qualquer pessoa assume, o cancro não metastizou, foi completamente erradicado do teu corpo - a guerra acabou - está tudo bem, certo? Claro que está tudo bem. Então, porque quero desistir?
A depressão pós-depressão é aquela letargia, aquelas tentativas. É quando voltar ao mundo real dói. Foi aí que estive tantas vezes, sem saber, e voltei à depressão. A depressão pós-depressão é como estar numa cidade destruída pela guerra. A guerra acabou, mas não sobrou pedra sobre pedra. Essa cidade é a nossa cabeça. Temos de reconstruir tudo outra vez. Pedimos ajuda. Queremos ir para fora, para longe, recomeçar, como se o problema fosse o mundo e não fomos nós próprios. Agarramo-nos com uma força incrível às pequenas alegrias, que acabam demasiado depressa, porque o mundo, se não queria saber da depressão, também não quer saber da estúpida impatológica depressão-pós-depressão.
Estendo a roupa, peça por peça, com cuidado, acarinhando o sol, enquanto penso em tudo isto. Ouço e vejo os pássaros, tento descobrir com cuidado a origem de cada canto, cada bico aberto, com alegre simpatia. É primavera, mas sei demasiado bem que as minhas depressões não são sazonais. Estar na pós-depressão é como um preso que, depois de 20 anos a cumprir a pena, descobre um mundo totalmente diferente e não sabe o que fazer nele. A prisão pode ser o que é, mas, ao menos, é o mundo conhecido, por 20 anos. É claro que ele quer voltar.
É claro que eu quero voltar. Dou-me em voltas com perguntas que não sei como formular, quero desistir do mestrado e fugir para uma cidade desconhecida, e fazer um trabalho simples, limpar um supermercado, qualquer coisa com um horário fechado, sem trabalho para casa, para chegar e escrever, ter ideias enquanto trabalho e escrever um livro quando acabar. Uma vida com o mínimo de preocupações, até estar pronta a ter responsabilidades, uma vez mais. De momento, estou inapta a ter responsabilidades. Não estudo. Não faço os trabalhos. Não me junto ao grupo. Vou a casa sempre que consigo, mesmo que tenha coisas marcadas. Choro nos braços da minha mãe, sem conseguir compreender porquê. Mas hoje, hoje compreendo, e sei que só dependo de mim. Que ninguém me conseguirá dar ajuda. Não sei o que fazer, mas precisava que os outros compreendessem. Precisava de congelar a matrícula este ano, mas não posso. Não me importo de não acabar o mestrado. Neste momento, não me importo com nada, a não ser tentar não regressar ao estado depressivo.
Repito-me mil vezes. Pergunto-me quando escrevi cada texto, se estava ou não neste estado, se foi a depressão ou a pós-depressão que me escreveu O Chapéu e o Pássaro, o Rapaz da Bicicleta. Setembro de 2010, Agosto de 2011: pós-depressão. Guardo esperança. Enquanto aqui, talvez consiga continuar a escrever. (Topiramato: pós-depressão, quase); (Diários da Avó Velha: Setembro de 2012, pós-Santiago, pós-depressão)
Ao menos isto, conseguir escrever. Conseguir esquecer. Voltar ao que já escrevi e ser o que sempre fui.

My First Kiss

0 críticas


Tricky. Because I'll have to tell you a love story.
So I'm turning 10. I meet this girl. She's a little bit awkward but so do I and one day we start to talk. And we do get along pretty well. Though we don't like exactly the same things, we seem to the world and people through the same perspective. We sort of connected, right there. We played together, invented games and new worlds and crazy stories together. One of the most intense and magic things was that most of the time we didn't even have to talk. Like we were brain-connected, thought-connected.
I'm 13. I'm young. We're colleagues again. We're the best mates. We soon discover that everything we didn't share with each other (reading habits, musical taste, etc) we now did! She sits just right behind me in classes and I'm glad for that. Her hands are soft. Her eyes are pure passion, sky-ish blue.
I'm 14-15. High school is starting and she's there, beside me, all the time. We share everything. We laugh without having to explain things to each other. She's my best friend and deep down, she's my soul mate. High school without her would have been awful.
I'm 16. I've never kissed anybody. I've never been in a relationship - and neither has she, so she tells me. We're both single and virgins and except for my occasional crush we don't care about it that much.
But one day, it strikes. She didn't tell me, and you need to understand, she had her reasons, she wanted me to be her best friend and not to see her as everyone else did from that moment, she wanted to protect me and also to protect herself: but the truth slapped me in the face. First, I wasn't sure, I would tell myself it wasn't true. Even when the depression started to take her down: I would try my best to make her smile, to make her laugh, to be the same around her.
But, you know, it was true. She had been raped. We were 16, she had been raped. And she has this older sister and they're fighting all the time and she also has this uncomprehensive mother who always yells at her for the smallest things, even when I go with her. And she has this father who she loves so, but he's divorced and away and doesn't really care that much for her.
You know, I want to help her. I try to believe her when she says the cuts on her wrists were accidents. I try to make her days better for simple things. I want to grab her and pull her out from depression, but I also know I have no idea how it is to feel what she's been through.
And one day, we're 17. I invite her out to the beach. It's early summer, not too hot, but good enough to swim.
We had the most amazing time together, swimming, laughing, holding hands, holding tight. We go home. At night, I lay by her side. She's asleep because of the depression pills. I look at her. She's like an angel, breathing softly, by the moonlight. I turn my head near her face. I won't admitt it, not even to myself, but I want to kiss her. I want to kiss her so bad and close her wounds and fix her soul and tear up the pain. I want her. Just there. Maybe holding hands. I want to give her a soft kiss on her lips.
But I ask myself: will she allow it? Will she thinks that I'm mocking her? Will she take it so badly after what happened to her? How can I do it? Though I love her so deeply from the bottom of myself, how can I do it?
And I don't.
And then holidays pass by, college begins. In Portugal, we have all kinds of traditions regarding the freshmens, so I didn't have much free time.
I'm almost 18. One week left. And 9 days left to her 18 birthday, also. I planned to write her about how everything was going on and how much I loved her. I'm on a train back home thinking about nothing.
I see some old high school colleagues sitting near me. I wave to them and watch the rain.
Soon, I hear my name. One of the boys comes towards me, kneels beside me and tells me with the most peaceful and kind voice (bad sign, because he's the mocking clown since ever), that my best friend, my soul mate was gone. Killed herself.
And, you know, my world fell apart right then. But this isn't about my depression.
And then there's the funeral. I planned to ignore everyone and kiss her goodbye right on the lips. My last goodbye. My first kiss. My mom told me not to look to her in the coffin, but I planned otherwise all along. It was my only shot. I gather myself. I would have to be brave. Balls, I longed for that kiss! I was almost 18 and had kept myself waiting for the right person, the right kiss. It was a big deal, you know?, far more big than sex.
Well, I get there, but I acknowledge how she had died: she jumped off a building. And in those cases there's no open coffin because... you know.
Next day, I talked with a kinda friend, 8 years older than me, for help, because he also had a friend who killed himself. We talked a lot. And, before I knew what was happening, he kisses me. It lasted long, because I didn't know what to do. I was torn apart, dying inside and astonished. I just waited until it was over. God, it was bad. I kept telling myself that wasn't happening. After that, I couldn't talk. I didn't talk for 20 minutes, the time that took us to get to the train station. I couldn't say a thing.

You know, he didn't knew it was my first kiss. I was a 4-days-till-18 girl. He just wanted to give me some comfort, some caring - and just did the opposite.

There you go. My big love. My first kiss. All tangled.

Esperando que a chuva passe (que tudo passe)

0 críticas

Ela chegava às quintas a Guimarães, às vezes de expresso, outras de comboio. Vinha de Coimbra, de mala, mochila e portátil e quem lhe acompanhasse o percurso teceria a história habitual: jovem estudante em Coimbra, regressando de fim-de-semana, esperando no shopping que alguém a venha buscar. A verdade, porém, ironiza esta ideia. A jovem vive, afinal, numa vila, para os lados de Coimbra, e está a tirar mestrado, na Universidade do Minho, em Guimarães, com aulas às sextas e sábados, apenas. Está ali, sozinha, mas ninguém a virá buscar. O que ela espera não é mais que a chuva passe, para iniciar a escalada até ao castelo - e até ao quarto alugado.
Quando começou, com o desespero, a perspectiva de vir a ter de ficar em casa um ano, ainda a pesar e sussurrar, não cabia em si de contente. Nervosa, conheceu os colegas de casa e os colegas de turma. Ambientou-se, pôs-se nos eixos: seguiu em frente. Então, de súbito, tudo começou a descarrilar.
A princípio, culpou a depressão, para a qual estava a ser tratada. Lidava com a frustração que o mestrado lhe trazia, dizendo, para si mesma, "também isto há-de passar". Afinal, também na licenciatura sentira aquele desalento, aquela vontade de fugir.
Porém, quando, meses depois, já se sentia livre das garras da nuvem escura no seu interior, o desalento continuava e algo bastante novo - coisa que não lhe passara pela cabeça durante a licenciatura - dava ares de emergir, aos poucos: uma vontade irreprimível de desistir do mestrado, precisamente quando já era demasiado tarde.
As cadeiras do 2º semestre estavam a ser, uma por uma, deixadas para trás. Nos trabalhos de grupo, metia os pés pelas mãos e deixava a timidez tomar conta. Estudar para os testes era tempo perdido, passados cinco minutos, não se lembrava de nada do que tinha lido. Nada dava ares de passar. A matrícula não podia ser congelada.
Sentia-se presa. Começava a afastar-se daqueles que conhecera. Em casa, preferia resguardar-se no quarto e não dar sinais, sequer, de estar em casa, para não falar com os simpáticos rapazes, com quem já partilhara histórias, jantares, noitadas, limpezas, gargalhadas e tudo o mais que se consegue numa casa de estudantes. No seio da turma, era fácil não dar nas vistas, nunca dera. Porém, o seu coração sempre estivera com aquelas 13 personalidades, tão únicas à sua maneira, tão especiais e tão marcantes. Agora, começava a pôr-se de lado, a ouvir menos para não ter de ouvir, a enterrar-se na cadeira, a desaparecer como uma vela no fim da noite.
Em casa, com os pais, a pressão não se tornava mais fácil. "Queres ou não queres?, Fazes ou não fazes?" eram perguntas impostas cada vez que o assunto vinha à baila. No entanto, ela sabia que a forma de todo aquele assunto não era assim tão linear. Eu não gosto daquilo. Talvez consiga fazer tudo, tenho capacidades para fazer tudo, mas estou a desgastar-me por cada coisa. Desgasto-me de cada vez que não consigo fazer um integral de cabeça, de cada vez que a lei de Ohm não é óbvia à primeira. As pequenas coisas que me são importantes e que vou esquecendo dão cabo de mim. Mas já gastámos todo o dinheiro no quarto e nas propinas e independentemente do que vocês digam eu não consigo tirar esse peso de cima. E o problema é se depois não acabo tudo e tenho de ficar mais um ano, longe, a tentar acabar esta merda - mais um ano de quarto e de propinas e de frustração. Eu sei que sempre fui uma boa aluna, mas nunca não ser boa aluna teve tais implicações. Não sei onde estou. Estou perdida. Não podia responder. Não sabia responder. E o assunto esgotava-lhe as energias.
Era nisto que matutava naquela tarde, enquanto mastigava a fatia de pizza e bebericava a 7up. O que pensariam aqueles que com ela constantemente se cruzavam e a viam rabiscar um pedaço de guardanapo?
Foi então que Adriana formulou e pôs por escrito o que nunca imaginara proferir:

"As coisas eram mais fáceis com a depressão."

~ Esperando que a chuva passe
(que tudo passe)
16.o5.2o13

Adriana Gaspar

Guimarães

Outro bilhete de eterno adeus

0 críticas

Se hoje morrer, quero pedir desculpa por tantas coisas:
por livros que não li;
por livros que não escrevi;
pela pessoa que seria nos anos futuros - e que sei que seria boa pessoa, sei que seria eu;
por ser tão fraca que não aguente a pressão, as pequenas coisas que vão acumulando com as grandes e fazem mundos desabar.

Se hoje morrer, tenho de acrescentar uma verdade:
estava destinado,
já há muito,
muito antes de tudo cair por terra,
já que em pequena me perguntava,
"porquê eu? por que vim a nascer e não qualquer outra pessoa no meu lugar, qualquer outra consciência?"

Se hoje morrer, nunca fui forte, a não ser quando lia, quando vivia na minha imaginação, quando fugia para o único mundo que conhecia.

Se hoje morrer é porque nunca fui feita para viver.

A Mid-Night Poem

0 críticas


They said those who kill themselves are weak
So I cutted, instead

They said those who cut are weak
So I took pills instead

They said those who take medication are weak
So I ate instead

They said those who eat are weak
So I puked instead

They said those who puke are weak
So I starved instead

They said those who starve are weak
So I fell in love instead

They said those who fall in love are weak
So I cried myself to sleep instead

They said those who cry are weak
So I killed myself instead

Reflexos Humanos

0 críticas


Sei bastante bem quem eu sou: um ser apreciador da natureza, das formas, das interacções do mundo e do universo, de todas as coisas. Eu vejo a água a luzir ao sol, do mesmo modo que o fumo a trovejar de uma chaminé. O sabor do café. A calma e ordem de uma montra de bolos, de uma pastelaria antiga. Todas as coisas têm o seu sabor e a sua intensidade, cada experiência é única, intocável - e eu quero descrever todas. É por isso que adoro ver desenhos, a expressão de uma visão, e quero repeti-los e também eu expressar as minhas visões. É por isso que adoro música e tento tocar o máximo que consigo, sem fazer qualquer esforço, apenas expressando-me, e, principalmente, é por isso que leio - e que escrevo, em absoluto, tudo o que toco, tudo o que penso, numa tentativa de encaixar toda esta maravilha num singelo texto, frase, livro. A tarefa pode parecer impossível, mas basta-me captar um pequeno vislumbre para conseguir espantar e deslumbrar - primeiro, a mim mesma, depois, aos outros. Cada pequena insignificância tem a sua expressão, em palavras, em música e em desenho. Em teatro, em dança, em vídeo, em filme. A arte, apesar de distorcer o que os olhos vêem, clarifica o que vê a mente. Sem ela, expulsamos e ignoramos os nossos próprios sentimentos, as emoções, as nossas verdadeiras visões, e tornamo-nos completamente vazios. Sem ela, somos máquinas, autómatos, que, por mais que tirem fotografias perfeitas ou toquem sonatas nos tempos certos, não sentem, não vivem, não são mais que pedaços programação e não poderiam nunca ser mais do que isso. Nós vamos cada vez mais esquecendo de onde viemos e assemelhando-nos cada vez mais com eles. Dominamos a ambição, a ganância.

A humanidade dos dias de hoje faz-me aflição, uma aflição danada.

Mas, depois, aparecem-me pessoas, pessoas, e eu volto a sorrir, porque o mundo é uma coisa linda.

Declarações de Guerra

0 críticas

Declaramos guerra um ao outro, ali mesmo, no momento em que nos fitamos, ou, talvez, no momento em que um de nós arremessa uma troça, ou, ainda, quando acontece tropeçarmos no caminho um do outro, fingindo que não nos demos conta. Entregamo-nos à assaz batalha, batemos com os punhos, com os braços, com a mão aberta, com as unhas, agarramos cabelos, pedaços de carne, parecemos dois gatos, a bufar, a guinchar, a gritar, a rir, a fugir, porque o primeiro riso é o primeiro gesto de rendição, já escorrego e caio, já escondo a cara e viro-me para enfrentar a minha pena, repito o que disse, "Julgas que me metes medo?", e sorris e eu insisto em debater-me até ao fim da batalha, já mais que perdida em meios sorrisos, em meios carinhos, ainda tenho forças e levanto-me, mais uma vez, persisto em agarrar-te os braços que me agarram pacientemente, levo-te as mãos doces ao rosto e aninho-me nelas, toco-as com pequenos tímidos beijos e ainda finjo que ainda não perdi, "Julgas que me metes medo?", guardo-te os braços atrás das costas e tu aproveitas a proximidade para colares o teu peito ao meu e beijares-me a testa, e aproveitas cada hesitar meu para libertares os braços e me apertares com força, mas eu não me dou por vencida, tento dar-te pequenos empurrões nos ombros, a esconder os sorrisos, e tu segredas-me ao ouvido, "Julgas que me metes medo?" e beijas-me o sorriso escondido.

Negrito

0 críticas

Já me levantei às cinco da manhã e fiquei a ouviu o bater da chuva na calçada, de hoje, de amanhã, dos dias que virão. Há pássaros pequenos que não se importam das gotas gordas, aproveitam o banho para ir à caça das migalhas. Eu nem me consigo levantar da cama. Aquelas ovelhas e aqueles galos e até mesmo as vacas que pastam não têm doenças mentais, não têm de tomar os comprimidos às horas certas. A pergunta é, queres ficar bem? A pergunta é, queres deixar de ser quem és? Queres abandonar a rapariga, a menina que, no casamento, despiu a camisa, desatou o cabelo, descalçou os sapatos e acarinhou a água? Queres deixar de ser a paixão do dono do café? Queres não ser especial para o fotógrafo do casamento? Que importa se os outros te acham estranha? Que importa se o rapaz da bicicleta não parou naquele dia, mas parou no teu texto e veio falar contigo? Que importa se o rapaz da bicicleta, o mesmo que gostou do teu desenho, não gosta realmente de ti - porque não tem motivo nenhum para gostar e és tu que crias todos estes fantasmas na tua cabeça.
Voltando aos cavalos, ao mato, a ouvir a chuva. A ouvir o esgoto, como uma cascata, debaixo dos nossos pés. Voltando à terra tenra. À terra verde. A andar no meio dos plátanos, acariciá-los. Tudo o que eu escrevo é uma confusão, mas passo a mão pelos troncos, enquanto passeio, enquanto piso o chão que piso, com a agilidade de quem voa em sonhos, aquele voar sem certeza, sem ligeireza, só com a crença de voar, de quem cai ou não cai, de quem pode fazer tudo, de chegar ao café e dizer, vim para aqui a voar, vou voar o mundo todo. Como quem diz, vou caminhar o mundo todo - e é isso mesmo que vou fazer.
Já fervo, como o chá. Já desapareço entre um bolo que não trouxe hoje das Trinas, daquele belo paraíso de três mesas e um amor, e uma obsessão  O paraíso dos loucos em liberdade, das pessoas que são o que são, sem medos.
Já fervo, porque ele viu o desenho e disse logo, "o rapaz da bicicleta".
Já fervo, porque a borboleta morreu, mas em mim não morre nunca e eu vivo em inferno, na minha memória, a reler e reler o que acontece.
Preciso de outro psiquiatra.
Tento ver a beleza em tudo e vejo, mas quando tento ser feliz, sinto-me a traí-la. "Hei-de amar-te para sempre". Ser feliz é traí-la, é esquecê-la.
Eu bloqueio porque não tenho mais nada a dizer. Não tenho mais histórias, não tenho mais caprichos, não tenho mais ambições. Pergunto-me se estou mesmo a viver a minha história, se estou a fingir que vivo alguma coisa. A minha vontade ainda é a mesma que no verão passado.
Ajuda-me, Santiago!

Topiramato

0 críticas


A chaleira ainda arde no fogão, aceso, como que esquecido. A água para o chá há muito que evaporou. Ela correu, como quem abandona, como quem corre, como quem foge. Saiu de casa, sem sequer desligar o fogão, porque tinha os copos de vidro, nas mãos, e, enquanto os secava com o pano da loiça, sabia que os ia atirar ao chão e partir. Não ia deixar cair, ia atirar, para receber estilhaços das coisas materiais, como os estilhaços que lhe iam por dentro do coração. E fugiu, sem estilhaçar, sem desligar o fogão, sem levar chaves, sem trancar a porta.
Ainda bem que desligo o fogão, da água que já ferve, para o chá para adormecer. Ainda bem que estes contos são apenas ficção e que a chama azul já morreu, e que eu não parti nada, mesmo sem medicamentos. Ainda bem que tremo pelo corpo todo, mas que não fui embora, e agora fico contando minutos de fazer o chá, sem tremer, como quem quer estilhaçar o vidro para que fique em cacos, como o meu coração.