This night could be magic
Bonito
Pequenos Factos
Tentando saber quem sou
Para que nunca ninguém se esqueça de quem eu sou:
23ª mensagem (roubada ao Culpa)
Noite lá no cimo
Segundo Manifesto Outono
Aos 5o Ventos
Telas de desatino
Pinceladas cor de sal.
~Quando o choro é sério~
Doem-me os olhos de tantas lágrimas, dias e dias, noites e noites, no chão, tentando agarrar-me à vida, mas a vida está lá, então o que vejo, o que vejo? Que choro eterno, desabandonado, há-de haver sempre lágrimas nos meus olhos, lágrimas escorrendo, quando sorrir hei-de desfazer-me em lágrimas, lágrimas de compaixão, de dor que é parte minha, de dor que é tanta tua, demasiada dor que é tua, passando pelos tristes arcos, dor da despedida da inocência, dor da inocência despida que, uma vez despida, deixa de ser inocência. Dor e medo das sombras que passam, mágoa e ódio e sal a lágrimas.
Assissassinando Hoje
Assissassínio das Horas Vagas
Assissassinando Papel
Folhas de papel
papel que desintegra.
Que quão típico desperdício de folhas de papel, nas matrículas, em tudo, sem tudo, com nada
Pós de fada (pós de fada?)... reencontrada uma antiga folha
perdida na imensidão de...
Excerto de um texto aborrecido
As pessoas nada de interessante têm a
dizer, então repetem-se.
E repetem.
E repetem.
E repetem. E falam do tempo.
E falam da saúde da outra.
E dos filhos deste.
E desta ou outra notícia.
Fazem-no na perfeição.
É como um dom.
Que eu não tenho.
Depois chamam-me mal educada
e antipática.
Que temas de conversa desagradáveis.
Ou então nada sabem
e calam-se. Limitam-se a existir.
Eu perco sempre.
De vez em quando, aparece alguém.
E eu, farta, disparo tudo.
Quando ninguém aparece, esfaqueio
o papel com a caneta.
pequeno petit poema fingindo-ser-poema
Despertar (pessimista)
três tristes desabafos
A História Aleatória
Como eu gosto de dizer
(contexto igual ao da mensagem anterior)
"Os Noivos blá blá obstáculos."
A Noiva sorri. Sorri porque a música já está a tocar. E toda a gente lhe diz que é muito bonita, muito bem escolhida. Mas apenas ela e o Noivo a conhecem. O instrumental de "Dizem que não sabiam quem era", tocado pela própria Noiva.
E sentia-se feliz com a ironia que iria ser o seu casamento.
-Não estás feliz?- perguntou ao Noivo.
E ele cabisbaixo.
-Que foi?
-Talvez devêssemos ter escolhido outra música.
Começou a sentir um aperto no estômago.
-Que queres dizer com isso? É perfeita para esta cerimónia.
Ele hesitou.
-Talvez não seja assim tão perfeita.
-Ora, é um pormenor. Decidimos fazer um casamento perfeito porque só algo que parece o que não é pode ser como é por tantos sonhado, porque não há perfeição pura.
-Então talvez devesse ser.
-O que é que estás a dizer.
E a Noiva virou-se para a frente.
E o Noivo prosseguiu.
-Que às vezes até os fingimentos não correm como previsto.
A Noiva voltou a olhá-lo com uma pergunta na cara. Aquele casamento fora planeado fora planeado pela Internet, já há quantos anos, quando chegaram à conclusão de que só poderia resultar um casamento que não é , seja, se não se amassem à partida, estaria tudo bem, como amigos de longa data que vivessem juntos para se ajudar. E cumpriam a sua função na sociedade.
Só isso tinha de ser perfeito, todo o resto, a cerimónia, o tudo, era tudo fantochada.
Então, num instante ela compreendeu aquele olhar culpado.
-Por favor, diz-me que não.
Mas sabia que era verdade, não havia como fugir.
Angustiada, sentiu os olhos a encherem de água.
-Tu amas-me, não é verdade?- mas que pergunta inútil, quando lhe podia ler a cara. - Por favor, diz-me que não.
-Desculpa. - foi tudo o que o Noivo conseguiu dizer.
-Não, não, não- murmurou a Noiva baixinho.
E assim e a chorar, saiu da Igreja para se ir abraçar a uma árvore e chorar. Como outrora, no vale do Reno.
Como eu diria
(contexto: Os Noivos estão na Igreja (ou na Conservatória) e tudo é perfeito: estão presentes os familiares e amigos, não houve atrasos, não houve obstáculos.
No entanto e de repente algo inesperado acontece e o casamento não se realiza!
O que aconteceu?
*Modalidade: narrativa
*Limite: 350 palavras)
"Os Noivos blá blá obstáculos."
Estamos em França, vale do Reno. A 30 km daquele preciso local estão a efectuar-se estudos para o apoveitamento de energia geotérmica (calor do interior do planeta). Inseriram-se litros e litros de água (líquida) no solo para que a rocha a aqueça e volte a sair em forma de vapor de água. No entanto, a água infiltra-se numa falha tectónica ali perto, actuando como lubrificante, provocando um pequeno terramoto.
Naturalmente, este é sentido na igreja do Casamento Perfeito-Até-Ver. Apesar do abalo, tudo se mantém intacto. Ou pelo menos, assim aparenta, até que se ouve um estilhaçar do vitral da parede Este.
O mais recente, pouco valioso, pequeno.
Mas o seu autor encontra-se naquela mesma igreja e, furioso, grita aos noivos que a culpa é deles, que Casamentos Perfeitos-Até-Ver não devem existir, são uma ofensa a Deus, que é maneta. E grita também ao convidados que manifestem a sua imperfeição.
E na multidão uma menina pequenina que não gosta de casamentos e que sou eu diz bem alto que sempre odiou a Branca de Neve e que chora quando a Rainha morre e que não gosta daqueles que maltratam o ambiente, especialmente com coisas tão inúteis como casamentos, que é só ajuntarem-se duas pessoas na mesma cama, mas oficialmente, para quê tudo aquilo e diz tudo em francês, porque só tem 350 palavras para contar a história da sua pequenez e farta de casamentos assim sai da Igreja que é um desperdício de recursos e vai para ao pé das árvores chorar com elas e falar com elas para alimentar os primeiros sinais de esquizofrenia.
E então um dos trabalhadores da central geotérmica encontra uma menina sozinha e abraçada a uma árvore e a chorar que sou eu. E é assim que volta para o seu escritório e daqui a 5 minutos o casamento é cancelado por desperdício excessivo de recursos naturais.
"Noivos multados por crime contra ambiente."
Regresso a EP
O homem da recepção é amável, mais amável do que o habitual na recepção os hotéis. Lembrado que já aqui estivemos há dois anos, previne-nos que no número 216 se ouve o gotejar de algum cano mal amanhado, no 323 não passa um dia que não aconteça uma desgraça e que todos os restantes quartos estão ocupados.
-Temos, também, um psiquiatra, no 3º andar, que costuma receber os seus pacientes no hotel. Não é permitido, mas ninguém o sabe ou fingem não saber.
Depois, acrescentou num tom mais baixo:
-Consta que recebe doentes mentais.
O meu marido franziu o sobrolho naquele gesto tão característico de desaprovação. O homem da recepção acrescentou, ainda, um sorriso.
-Como muda o mundo em dois anos...
-Ficamos com o 323.-disse, recordando que queria, precisamente, curar as minhas enxaquecas e que um gotejar pela noite fora só poderia agravar a situação.
Subimos pelo elevador que, pelos vistos, já estava consertado. De algum modo, a bagagem chegou antes de nós.
O meu marido, que não é mesmo meu marido, só a fingir, para enganarmos os polícias da imigração, o meu marido encolheu-se ao entrar no quarto 323. Era efectivamente diferente do de haviam dois anos.
As paredes estavam pintadas de gatos, gatos pretos, mas não como em pinturas normais, mas grotescos, medonhos, tentando cativar a presa ou cravar-lhe as unhas. Dei comigo a adorá-los.
Nisto, um sentimento familiar, meio nostalgico, de curiosidade atrevida apoderou-se de mim e deixei o meu marido que não é meu marido a bocejar naquele quarto salpicado de gatos.
Fora o homem da recepção que mo dissera, sem o outro o ouvir. Então foi para lá que me dirigi. Não estaria interessada em psiquiatras, ora, claro que não.
Cruzei-me com ele no corredor. Quem mais poderia ser?
"O meu sorriso é demasiado disforme, os meus gestos são demasiado abertos, a minha presença demasiada."
Quem mais poderia ser?
Larguei, naquele momento, toda a minha vida fútil de enxaquecas e nada mais que um sério absolutamente doloroso, rígido e absurdo, para dar o braço ao meu companheiro de toda a vida.
Fui, de braço dado com Edgar Perry, fazer chover no quarto dos gatos.
Abençoado homem da recepção, por saber ler corações.