Como eu gosto de dizer

(contexto igual ao da mensagem anterior)


E agora eu.

"Os Noivos blá blá obstáculos."
A Noiva sorri. Sorri porque a música já está a tocar. E toda a gente lhe diz que é muito bonita, muito bem escolhida. Mas apenas ela e o Noivo a conhecem. O instrumental de "Dizem que não sabiam quem era", tocado pela própria Noiva.
E sentia-se feliz com a ironia que iria ser o seu casamento.
-Não estás feliz?- perguntou ao Noivo.
E ele cabisbaixo.
-Que foi?
-Talvez devêssemos ter escolhido outra música.
Começou a sentir um aperto no estômago.
-Que queres dizer com isso? É perfeita para esta cerimónia.
Ele hesitou.
-Talvez não seja assim tão perfeita.
-Ora, é um pormenor. Decidimos fazer um casamento perfeito porque só algo que parece o que não é pode ser como é por tantos sonhado, porque não há perfeição pura.
-Então talvez devesse ser.
-O que é que estás a dizer.
E a Noiva virou-se para a frente.
E o Noivo prosseguiu.
-Que às vezes até os fingimentos não correm como previsto.
A Noiva voltou a olhá-lo com uma pergunta na cara. Aquele casamento fora planeado fora planeado pela Internet, já há quantos anos, quando chegaram à conclusão de que só poderia resultar um casamento que não é , seja, se não se amassem à partida, estaria tudo bem, como amigos de longa data que vivessem juntos para se ajudar. E cumpriam a sua função na sociedade.
Só isso tinha de ser perfeito, todo o resto, a cerimónia, o tudo, era tudo fantochada.
Então, num instante ela compreendeu aquele olhar culpado.
-Por favor, diz-me que não.
Mas sabia que era verdade, não havia como fugir.
Angustiada, sentiu os olhos a encherem de água.
-Tu amas-me, não é verdade?- mas que pergunta inútil, quando lhe podia ler a cara. - Por favor, diz-me que não.
-Desculpa. - foi tudo o que o Noivo conseguiu dizer.
-Não, não, não- murmurou a Noiva baixinho.
E assim e a chorar, saiu da Igreja para se ir abraçar a uma árvore e chorar. Como outrora, no vale do Reno.