~Quando o choro é sério~

Doem-me os olhos de tantas lágrimas, dias e dias, noites e noites, no chão, tentando agarrar-me à vida, mas a vida está lá, então o que vejo, o que vejo? Que choro eterno, desabandonado, há-de haver sempre lágrimas nos meus olhos, lágrimas escorrendo, quando sorrir hei-de desfazer-me em lágrimas, lágrimas de compaixão, de dor que é parte minha, de dor que é tanta tua, demasiada dor que é tua, passando pelos tristes arcos, dor da despedida da inocência, dor da inocência despida que, uma vez despida, deixa de ser inocência. Dor e medo das sombras que passam, mágoa e ódio e sal a lágrimas.

E cinco feridas.
E tolos pensamentos de esperança, tolos como aqueles que tinha quando a minha bisavó ainda era viva mas de nada se recordava, aqueles tolos pensamentos, tola esperança de ela estar a fingir para um dia levantar-se e segredar-me o grande segredo da sua vida.
E, naquela noite, eu mal acordada, dizendo disparates com voz dos sonhos, mas era o meu pai, com um sorriso triste na cara, que mo disse e repetiu, porque eu, apenas o negava, "a avó Gertrudes morreu." e eu Não, Não, Estás a mentir, Não estás?, desesperada, de mim, nada mais restava, em pranto, toda a noite, despedaçada.
Ardem-me os olhos, como duas feridas abertas. A minha alma está ferida.
Assim choro.