Assissassinando Hoje

Hoje, hoje, hoje sinto-me particularmente irritada.
Parece feio, parece tudo feio.
Parece grande dor de cabeça a flutuar acima de mim.
Hoje, hoje, tremenda imensidão de um navio que naufraga.
O hoje é de quem o passa.

Quem passa hoje?
Onde estás hoje?
Hoje, hoje já não faz sentido,
Já nada promete hoje ser hoje
Hoje já não quer ser hoje,
Hoje quer ser hoy, ajourd’hui, today
Hoje não quer ser hoje, porque hoje
Soa a tremendamente excessivo
Hoje não descança, porque hoje não há descanço

Hoje não sorri, porque hoje quer gritar
Hoje não quer mais hoje
Quer outro dia
Mas hoje vai ter de suportar hoje
Porque o tempo manda que seja sempre hoje:

Assim seja,
Hoje será, para sempre.
Será, para sempre, hoje.
Até que o fim derreta o tempo.




Condenados até ao fim
A ser hoje.

Hoje é e não existirá mais dia que não seja hoje.

Fábula, no entanto floresce.
Vamo-nos livrar do hoje?


Hoje já não é o mesmo hoje de à instantes
Porque hoje já não quer dizer hoje.

Já não há hoje,
A partir deste momento, declara-se que não há hoje.
A partir deste momento
A partir deste parágrafo
Não haverá mais hoje.

Hoje acabou,
Hoje morreu:
Só há agora.