2009

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O feio do belo é que a aleatoriedade não existe e sabes eu não quero fazer algo belo, quero escrever apenas, escrever livre quase freewriting como não faço desde a minha prenda de anos e hoje é último dia, hoje é dia parvo de tristeza, porque quero e não quero só escrever sem sentido, assim a modos que disparatar e odiar a noite e amar a noite.

Mas que raio é isto?, perguntam, com toda a legitimidade. E respondo, é nada, é tristeza atirada em forma de palavras de uma escritora que já era, uma ex-critora. Uau, palavras novas, o ano vai acabar, o que não significa nada, apenas convencionaram que sim, nem é um dia especial nem nada nem nada nem nada, olha as vezes que me repito, como suo parva e estupidifico, olha, feliz natal. Bah, o natal já passou, tretas de tristezas. Bah.

Estou farta disto, estou com dor de cabeça de tentar escrever tudo o que me vem à cabeça e de interromper posteriores pensamentos. Por isso CALOU.

bom 2010.

O Jardim Estranho da Minha Terra

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Na minha terra há um jardim estranho. Onde as flores não crescem, porque não são plantadas. São as pessoas que, em romaria, as levam.
Há dias de cortejo e, nesses dias, é quando as pessoas são mais generosas e levam mais flores. São os dias em que plantam sementes de madeira, num buraco fundo.
Que regam com lágrimas.

Neste

Neste jardim estranho, não há casais de namorados.
Oh, não,
Este jardim estranho não recebe muitas visitas.

Raramente pessoas mais novas, só em dias de cortejo.


Neste jardim estranho, há casasinhas baixas, de pedra, na alameda principal. Têm uma porta, nenhuma janela.
Neste jardim, não há bancos, mas há mesas baixas, para as flores.
Neste jardim, não há luzes eléctricas, mas há velas. Mesmo de dia, há velas acesas.

Não são apenas flores e velas e sementes de madeira que se plantam. Também letras e números. E fotografias, pequenas. Pequenas esculturas, também. Como anjos.

As mesas baixas, as casinhas, os amontoados de terra, tudo está devidamente numerado. tudo tão organizado. Nem parece um jardim.

O muro que rodeia este estranho jardim não é como os outros. É alto e não tem grades e só podemos ver para dentro dele pelos grandes portões. As pessoas não falam muito deste jardim. Não há visitas de estudo, só mesmo cortejos esporádicos.

Há um segredo escondido. Foi a minha avó que me contou. É que, em cada casinha, mesa baixa ou amontoados de terra, há uma história, como um tesouro, enterrada. Cada uma dessas histórias está guardada na memória daqueles que visitam este jardim.




E os anos passaram desde que este estranho e estranhamente belo jardim deixou de se chamar jardim. Agora, toma outro nome, algo mais feio. Para mim, porém, será sempre o meu estranho jardim.
Nestes dias, assim ultimamente, é mais frequentado por jovens. Não muitos, mas mais. Com uma certa regularidade. Jovens que não esperam pelo cortejo.

Eu também o visito. Tomo sempre o mesmo percurso, nada de mais. Seguir pela alameda principal, até à última das casinhas de pedra, virar à esquerda, número 20.
Dou um longo suspiro e deixo-me encostar. A rir ou a chorar, repito para o ar, a cantiga de todas as vezes:
- Então, Joanna?

Perguntas do Depois

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@@"Onde estou?"
Acho que era a pergunta mais acertada a ser feita.
A pergunta certa.
A pergunta do momento.

"Onde estou?"

Por toda a eternidade, tem sido essa a pergunta feita por tantos milhares de almas.

Eu, porém, não fiz essa pergunta.
Havia algo naquilo tudo que me queria fazer disparar centenas de frases de tudo aquilo que me atravessava a cabeça. Não tinha problemas em agarrar tais pensamentos. Muito pelo contrário, fascinante e surpreendemente, pareço conseguir vê-los todos, todos em simultâneo, perfeitamente organizados, correndo e desfilando, num círculo que deixa de o ser para se transformar num cone imenso, erguido como que desde os céus, um tornado, um furacão de pensamentos.
O meu problema não era agarrar, era libertá-los, porque como que se prendiam a mim de cada vez que os tentava soltar. E, mais importante que tudo, porque, pura e simplesmente não parecia fazer sentido dizer o que quer que fosse. Era inútil, de que servia falar?

A maioria deles fala, sinto-o. E perguntam "Onde estou", mais outro aspecto estranho acerca deles. Se eu tivesse falado, teria, certamente, perguntado, "Quem sou eu?"
Quem sou eu, certamente, mas o que sou eu seria igualmente uma opção.

A maioria deles, chega nas formas com que partiu. Os homens são homens, os cães são cães, as árvores são árvores. Espantoso, observar que o conformismo e o egoísmo são característicos de todas as coisas.
Chega com a forma e assim vê respondida a pergunta o que sou eu. E, para além do mais, passam a existência convencidos que sabem quem são.


Passei o equivalente à formação da Terra desde o Big Bang para conseguir achar-me. Não me pareceu uma eternidade porque aqui não há tempo, apenas constância. O tempo é algo que vem emprestado do lugar de onde viemos. Tal como o espaço e tal como todo o resto. Aqui, tudo obedece às nossas regras.


Há quem chegue e veja anjos, há quem veja demónios, há quem veja escuridão, há quem veja luz. Mas, na verdade, tudo isso são visões emprestadas do que esperariam encontrar. Há, até, quem julgue que continuou vivo.

Eu sempre neguei o mundo a certo ponto e, depois da passagem, não fiz mais que apagá-lo. Livrei-me de todas as coisas e significados, mas também esvaziei demais e perdi-me.
E, depois de algum tempo ilusório que pode ter sido 15 mil milhões de anos ou dois segundos, reencontrei-me.


Foi por minha preferência que regressei a pequenas coisas do que fora.
Tinha à minha frente um leque infinito de possibilidades, portanto, por que não começar pelo início?

Há regras, claro.
Há uma regra.

É que tudo o que ainda não tiver passado e guardar a sua alma na vida aí está confinado.
Podemos ter tudo, excepto almas.

Podemos construir a cidade de onde voltámos, as pessoas e os animais e as plantas e todo o mais, mas, sejam eles ainda vivos e não mortos como nós, as nossas cópias construídas não terão alma, serão ocas.

E, mesmo que uma alma haja morta, não a podemos forçar a participar no nosso pequeno cenário.
Assim, recomendo não fingir figuras. Apenas a nossa que já tem a nossa alma.
A nossa que será como nós quisermos.

Porém, é com agrado que vejo que, quando se passa a este nível de percepção, todas as pessoas acolhem com um certo conforto o aspecto que tinham. Por mais defeitos que em vida se colocassem, é agora que fazem cópias exactas, sem alterarem um único detalhe.


Depois de me haver encontrado ou reencontrado, deixei-me levar para esse mundo que é o mundo que deixara. Começar pelo mais simples e fútil. Por que não?



Iniciei pela altura que me fora mais cara. Neste espaço de imagens, tornei-me a adorável Adriana de cinco anos, correndo num vestido branco e lilás em direcção a um baloiço. Fingi o vento, fingi o assento, fingi o ar, só não fingi paisagem. Porque eu adoro balançar-me com os olhos fechados, sentir apenas a altura e o perigo. Só que, desta vez, não havia perigo.

Formaram-se os dinossauros e pereceram nesse intervalo de tempo fingido em que andei de baloiço. Imaginem-se milhares de anos apenas baloiçando, baloiçando, baloiçando.





Cessou esse balançar com um latido. Adriana de cinco anos saltou no ponto mais alto e voou um pouco, planando para aterrar.

Disse a minha primeira palavra na voz alta fingida disto que é isto:

-Snoopy!

Tínhamos o infinito para brincarmos e a eternidade para o fazer.
@@

Um corredor. O chão em madeira, as paredes brancas. Um corredor estreito e eu. Eu, num corredor estreito, perante uma porta. Aventurei-me.

Estava tudo igual, a janela, a cama impecavelmente feita, a poltrona ao canto.

E, mais importante que tudo isto, o avô.
O avô enorme, a maior pessoa que eu jamais conhecera naqueles cinco anos.

O avô, o risco de cabelo que caía, os óculos enormes que enchiam toda a cara.
O avô com o seu grande redondo nariz.

As mãos, pousando o cachimbo, os olhos, intensos, como se me pudessem atravessar.


Aquela estranha figura no seu estranho lugar, tal como sempre me recordava dele.

Achei-me a seu colo em menos de nada, agarrada às roupas grossas com cheiro a naftalina.
Eu fui a neta mais velha. Uma das poucas que ele conheceu. Poderia dizer-lhe que agora havia uma Francisca, um Rui e uma Inês, mas, com os meus cinco anos, esses nomes eram-me desconhecidos.

Para completar o magnífico cenário, juntei-lhe um último pormenor.

Fingi uma tossidela.

O avô cedeu, como sempre fazia. Levou a mão ao bolso e entregou-me uma pedra preciosa, embrulhada em papel branco. Desembrulhei o rebuçado e senti o sabor à infância. Parecia mel sólido com baunilha, mas era só rebuçado da tosse. Mas isso são detalhes, aquele é o verdadeiro sabor da minha infância na casa do avô.


Um dia, mais tarde, poderei contar-lhe que a avó mudou de casa, que mais netos nasceram, que tive boas notas e nunca deixei um ano para trás e que consegui entrar na faculdade.
Um dia, poderei dizer-lhe que nunca ninguém me disse que tu morreste e que eu continuei por anos convencida de que continuavas numa operação muito difícil que demorava muito tempo, no meio das paredes de tijolo do hospital.


Quando, por fim, estiver satisfeita e completa, pode ser agora mesmo, vou continuar por outros caminhos.

Vou até ao fundo do corredor, espreitar para aquele quarto ao canto, quarto escuro. Na cama vejo uma sombra e um feitio de mulher, mais que mulher, de velha. Até aqui está louca, permanece louca. Não me aproximo, limito-me a ver. Quase que tenho medo da minha bisavó.

Virando costas, dou meia volta e chego à entrada.
Um espelho, uma mesa, um tapete e um telefone.

Pego no braço do instrumento mágico e marco um número.
Ao ouvir uma voz desconhecida, desligo de imediato e quase choro.


Abro a porta e subo a escadaria até à minha divisão preferida.

O sótão está cheio de luz e pó, como um nevoeiro de âmbar.
No chão estão os legos do meu tio.

Está tudo uma confusão, uma agradável e confortável confusão.

Subo à cadeira de baloiço, demasiado alta e larga para mim, e dou impulso para a frente e para trás. Só que, de cada vez que a sinto voltar atrás, ganho medo que caia. Fecho os olhos e finjo que comando um barco de piratas.



Sou eu, em casa dos avós, baloiçando-me na cadeira, num barco de piratas.
@@

Gostaria de ir à escola. Mas a professora ainda é viva e os meus amigos também. Seria um lugar vazio, corredores abandonados, escorregas inutilizados, salas desertas, casinhas de brincar ocas.

Vejo a grande cabana de madeira e prometo um dia, quando todos reunidos na morte, regressar por uma eternidade para brincar.


Assim, segui para uma terra distante, onde quase não há casas.
Normalmente, seguiria para casa da minha prima inglesa, mas ela não estava. Quando ambas existíamos no mundo, isso acontecia, por vezes, estaria lá na Inglaterra. Ali, porém, a verdade era, com lógica, outra.

Também os meus tios eram vivos, tal como os meus avós, tal como outros primos, aliás, tal como todos aqueles que conhecera.

Todos?

Se o tivessem sido, não estaria ali.

Subi as escadas da casinha vermelha e puxei o cordão que fazia de maçaneta.
Espreitei para a cozinha e deixei-me inundar por aquele tão característico cheiro de velho, de muito, muito antigo.

Sentadas à mesa, estavam duas figuras, vestidas em tons de preto e cinza.
Ao verem-me, com um sorriso, disseram a minha expressão preferida, naquele tom de vós ideal adequado ao que me lembrava:

- Olhai!

Não sabia ao certo o que aquela pequena palavra significava, mas, para mim, era o olá dos tempos dos pais da minha avó.
Ri-me e corri a abraçá-los.

Contei-lhes que era boa aluna, que adorava ler e que tocava violino. A bisavó deixou-se deliciar pelas minhas palavras e contou-me as histórias que lhe pedi nos últimos dias de vida. O bisavô sorriu e pediu-me para pôr as tranças que levei ao funeral dele.


Quando fiquei só na cozinha, levantei a toalha da mesa, na certeza de que quem esperava encontrar já se encontrava connosco.
O gato amarelo repetiu os gestos da sua vida, levantou a pata e tentou arranhar-me. Passou a menos de um dedo do meu olho.

Eu estremeci.


Saí.
Um dia, teria a oportunidade de conhecer o irmão da minha avó que tão cedo partira, tal como todos os antepassados meus, tal como toda a humanidade, tal como todas as almas. Havia tempo para tudo, naquele nível de percepção.
Mas esse dia não era aquele.

Era tempo de visitar a casa em frente.

A mamã do meu avô.
O sorriso magnífico sem dentes.

E uns óculos maiores que o que pudesse imaginar.

Mais outra eternidade a ser saboreada.

@@

Cresci um pouco mais.

Apesar de saber que ainda não havia vizinha do lado com quem brincar, fui até à minha rua.

Era Outono.
Talvez fosse o meu aniversário, mas isso não se lê nas folhas das árvores.

Como sempre, entreguei-me à minha brincadeira preferida da rua.

Juntei as folhas secas do chão, aquele remoinho colorido, num monte apenas. Quando atingiu uma altura considerável, dei uma corrida e atirei-me contra elas.

Continuei o festim, atirando-as ao ar, atirando-as ao meu cabelo, sem nunca parar de rir.
Tão agradável que é ser criança no Outono.

Poderia passar o resto da minha vida saboreando aqueles momentos. Se tivesse vida.


O vestido dos cinco anos mudara.
Agora, era aquele amarelo cor dos girassóis com flores azuis salpicadas.



Chegado, enfim, o momento.

Podia ter dez anos, mas esse não era mais que o meu aspecto.
Era uma ilusão, uma criação, uma imagem da minha imaginação, que aqui a imaginação vale tudo.

Escolhi um jardim.
Um jardim com um parque infantil.
Sentei-me ao baloiço, à espera. Ela não se demorou e vinha com um vestido, também.

Um vestido cor do céu salpicado com girassóis.

Sorrimos. Nunca antes fôramos tão iguais.


Tínhamos muito a dizer, muito a contar. Tínhamos tudo, mas, ao olhar uma para a outra, julgo que nos compreendemos instantaneamente.
Começou ela.

- Olá, Adriana.

A voz dela, por fim, não por um gravador nem por um vídeo.
Ela, ali, ela. Apenas, ela. A minha amiga, a minha melhor amiga.

- Olá, Joanna. - disse. - Olá, Joanna Sophia.

Dito isto corremos a abraçarmo-nos.


Estávamos no mundo dos mortos, éramos as melhores amigas, abraçadas.

Estávamos diferentes, porque a minha alma não estava a sofrer e porque a dela estava inteira.

Ela estava inteira. Haviam-se passado mais que ano e meio desde o dia em que a alma se despedaçara e parte morrera ao dia da morte da réstia da alma e do corpo.

- Foi a primeira coisa que fiz, quando cheguei. Procurar o pedaço de alma que me abandonara.

Está forte. Está mais forte que nunca. E é a minha melhor amiga, tal como a conheci.

A minha boneca preferida caiu

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(A imagem foi retirada por opção da autora. Leiam os comentários, falam por si.)

Arrotar & Conversas à beira do abismo

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Na manga trazemos o ventre mas não contamos. Escondemos. Na manga trazemos ideias clandestinas, espreitando. Escondemos, há polícias por todo o lado e todos os cantos, escondidos em busca da morte do pensamento. Na manga trazemos a vida mas fingimos também autómatos. Como os outros, disfarçados, escondidos. Na manga trazemos os nomes de todos e o segredo, aquele segredo de quem vai esmagar o arroteiro.
O arroteiro.
O Arroteiro.
O Arroteiro arrota ordens. Arrota exigências de submissão. O Arroteiro aloja-se em qualquer cérebro que queira, porque é um modo de pensar. Aloja-se e contra ele ninguém pode. A não ser quem pense para além do que o que lhe apresentam. E nós trazemos as ideias na manga e os escravos do Arroteiro que não nos vejam ou arrancar-nos-iam os olhos. E nós trazemos alguém e esse alguém é todos nós juntos e vem na manga.
É agora.
E eu não estou sozinha. Antes pensava que sim e com nervosismo espreitava pela manga ver se ainda repousava o pequeno. Dorme, dorme, pequenino. Pensava que estava até encontrar o génio, sob a forma de folhas debaixo da pedra tumular. Pensava que era a única viva até encontrar o gémeo, o meu irmão gémeo. Pensava que éramos os únicos até encontrar todos os outros e agora o segredo é nosso e o pequeno já não é só o meu, é o que ia em todos e de todos o melhor e o melhor é o melhor de todos e irá ser maior que o Arroteiro, porque é a força de todos nós que pensamos e todos juntos e conseguimos, mas temos de manter isto em segredo, senão chamam-nos loucos e saltam-nos e arrancam-nos os olhos e deleitam-se em puro prazer a devorá-los. Escondamos na manga o nosso segredo, longe da vista. Ninguém sabe nem desconfia, porque somos mais um, apenas.
Só que não somos mais um. Somos todos. E todos um apenas. Mas não mais um.
Somos o um que te vai destronar e destroçar.

Cuidado.
Cuidado para a manga não subir.

Cautela aí onde pões os pés.
Dá-me a mão, senão caio.
Desculpa.
Isso não importa agora. Apenas chegar ao fim.
Meu querido irmão, olha onde chegou a nossa família.
À beira do abismo, bem vejo.
E os outros que existiam caíram todos e sobrámos só nós contra o monstro arrotador, não foi?
Não olhes. Não olhes. Não chores.
A culpa não é deles, eles é que ganharam a inércia e a inércia é quase inata…
Pois não é deles.
Eu não quero cair.
Então não olhes para baixo.
Somos tantos e antes pensava que era só uma.
Tu sabias que éramos tantos, só não sabias que nos íamos encontrar.
Somos tantos e somos tão suficientes. E há neve.
Há neve e nuvens.
O mundo ainda é bonito, não é? A natureza não pensa e assim triunfa sempre.
Dá-me a mão, vais cair.
Queres sentar?
Tu queres?
Eu sento sozinha.
Eu sento contigo.
Eu amo-te.
Eu sei.
E, se nos pudéssemos ver, verdadeiramente, seriamos iguais, seriamos gémeos.
Somos gémeos. E eu amo-te, irmã da minha alma.
E à nossa família.
E à nossa família.
O Arroteiro é fúria.
E nós fúria contra ele.
E quem ganha?
O que vencer. Isto não é um conto de fadas.
Eu conheci-te, irmão, e conheci a nossa família. Eu ganhei. E tive ideias por isso também ganhei. Porque o Arroteiro quis uma sociedade desprovida delas.
Então, eu também ganhei. Ganhámos os dois. E ganhou toda a nossa família.
E o Arroteiro?
O Arroteiro perdeu quando quis escravos.
E as pessoas?
As pessoas perderam quando se deixaram cair.
Então somos nós os vencedores?
Somos nós.
Só nós?
Só nós.
E de que nos vale isso?
Nada vale, como a vida. Mas lava a alma.
E a alma vale tudo, certo?
Vale o fim e o início.
E nós estamos no fim?
O fim chegou, o Arroteiro está perto.
Então perdemos?
Nunca, maninha. Nunca perdemos. Nunca mais.
Somos os maiores.
Pois somos.
Somos tudo.
E o tudo está a chegar ao fim.
Somos o fim.
Somos o fim.
E depois?
Depois, um novo início.

Sou e não sou

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O mundo é uma ferida na face das pessoas, porque é o que lhes oferecem quando nascem e elas o odeiam. Fingem que não, porém. Fingem tudo belo e tiram milhentas fotos. E o que são fotos que não prisão?
E o que não é fogo senão ferida nas faces das pessoas?
Contigo levas nada e vais sozinha. E ir sozinha é medo e é triste…
Mas não era, pois não?
Ser não sozinha é prisão e também é triste.

Tu hoje és flor, mas durante quanto tempo serás flor?
Hás-de cair, porque as flores duram pouco e são frágeis…

Hás-de cair porque todos os dias te vez ao espelho e vez com os teus verdadeiros olhos esse golpe de alto a baixo que é a desilusão que o mundo te deu como presente de nascimento e de existência… nula.
Podre.
Fétida.
Pobre.

Esquece, olha, tudo se há-de resolver sem tu seres mais flor. Ajuda a sarar as outras pessoas. Assim será porque, não te mintas, foste talhada para isto, para entreter e ajudar e não te mintas, porque achas que sabes fazer tanto?

O violino e o origami e a ginástica e o desenho, que é tudo isso senão entretenimento para sarar as faces? Que é isso senão enternecimento desigual por tudo o que existe?
O mundo não é uma ferida, as pessoas é que o julgam assim.

Enterte e enternece. Dá consolo à existência das pessoas.
E à tua.
E sê positiva, por um texto que seja.

Sê fresca como a brisa, encantada como a moira.

E sê a glória que a todos falta.

Sê mais que a esperança: o objecto de espera.

Reflexões multiplo-estúpidas

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Vivemos num tempo feio de gente. Porque gente? Sempre gente, ora. Noutro tempo, mais bonito seria ver estes barcos a partir. Mas gente tem de ser má e deixar os outros. Estou em grave greve do mundo e das pessoas tão cheias de escrúpulos e preconceitos. Odeio pessoas, como não?? São bichinhos repugnantes. Comem-se uns aos outros e depois cospem e voltam a engolir, como moscas. Mas moscas são mandadas. Gente não, gente mete nojo e eu odeio. E não posso, não consigo vê-los sofrer. É como uma desesperada tentativa de matar o Gatinho Mau – ele não deixa de ser um gato, pois não? Um fofo e lindo gato, um gato horrível que persegue a minha Pantera, mas ainda assim um gato peludo e aprazível.

Assim são as pessoas que não consigo deixar a sofrer. Pobres pessoas… e assim as amo e assim, do tão mesmo modo, odeio. E assim tudo, tudo assim, em forma de contradição. Tudo junto como um fascículo de revista que desejava ser melhor, ser uma pêra doce, docinha, paciência, existe e existe – ainda bem. Sou eu mas sem saber quem tenta escrever que me vai ditando palavras, é o pensamento?, e de onde vem o pensamento? E assim me debruço a coleccionar palavras em telas, para tê-las, para matá-las, para morrê-las, para morrer-me, para morrer. Caída. Em telas. Em telas de escrita. Caída. Morta. Queimada. Como um trapo que se deixou à lareira. Nada melhor. Sempre. Para sempre morta. Que se quer da vida? A morte.

O que vejo com os olhos da mente

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Tenta alegrar e tenta ver o que vejo. Vejo tudo, só que não com os olhos. Os olhos são úteis, mas não para ver o que vejo. Vejo calma. Vejo calma despreocupada e calma. Nada de excessivos. As pessoas passam e acenam e sorriem, sorrisos tristes ou alegres, mas sempre calmos. Não há pressa. Não há nada para fazer que não possa ser feito já. Está tudo bem, tudo o que possa estar. As pessoas passam em pequenos passos e não há carros nem autocarros em corridas frenéticas. Não há estradas, sequer. Há caminhos e bilhetes para ver pessoas a morrer. Há tudo o que precisássemos. Não há pressa, porque nada precisa de pressa. Ninguém precisa de pressa porque há tempo para nada e nada é o que se passa. Acalma.

Não é triste, é livre. Cada um é livre. E cada um, depois de reflectir longamente, assim escolheu, esperar a morte a cada segundo que passa. É que esse é o único propósito da vida. Esse e o de continuar a existir. E, cumprido o dever, esperam a morte.
Este mundo não se vê porque não é nosso.

Este mundo onde vemos e vivemos chora e tem pressa e as pessoas não pensam. Então, tenho de me agarrar ao que vejo com os olhos da imaginação. Deixar-me desolada por esse ser não mais que utopia? Não vale a pena. Utopia é visível aos meus olhos e posso vê-la claramente como te vejo agora. Utopia é real como tu és real, porque vive em mim e na imagem que tenho dela, tal como a tua figura e o teu toque vive em mim e assim adquire a sua realidade perante o meu ser. Desejo que seja real aos meus olhos do corpo, mas esse desejo é impossível e é o que me faz sorrir assim. É uma ambição que não me deixará desiludida porque nunca fui iludida com a hipótese da sua concretização.

Estou em paz comigo e com o meu pensamento e como teu mundo.

Queres sentar aqui ao lado e fechar esses pouco úteis olhos comigo?

Não cabem mais pessoas

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Não cabem mais pessoas. Já estou em desespero. Já não há mais espaço. Quem queira, quem sabe, não pode, porque não há espaço. Já não há vagas. Fechou, tudo, cessou a actividade e eu não consigo aguentar mais um segundo, estou apertada contra vós, pessoas, e não sobra mais espaço para mais ninguém.
Estou cheia de pessoas. Elas passam por mim e riem ou falam ou choram ou morrem. Alguns mandam beijos e abraços. Alguns evocam um tempo futuro suposto em que voltaremos a passar juntos. Só que eu não quero passar junto. Nem quero rir nem chorar, nem quero falar, nem quero sentir nem ouvir, nem quero beijar nem abraçar. Não quero nem quero pessoas. Pessoas ocupam espaço e querem espaço no meu coração, mas a procura é em vão porque não há. Não há mais. Não quero mais. Pessoas estorvam e prendem e pessoas mais, mais tenho preocupações. Pessoas não. Pessoa sim, mas Pessoa já cessou de exercer. Pessoas não, coração nada, não mexe, não há espaço. É que tenho feridas de alto abaixo, rasgadas e cosidas à mão de muitas lágrimas, e pelas brechas sai sangue, goteja sangue, coração aperta sangue para todo o corpo, sangue sai por veias mas também por brechas e eu não aguento mais cortes, mais feridas nem mais lágrimas, não há espaço para mais enquanto quiserem que viva, que seja viva e que haja viva, e não há, não há espaço.
Aaaaperta e bombeia.
Bombeia e rebenta.
Rebenta e despedaça.
E não sobra
Senão
Estilhaços
Destroços
Pedaços
De alma ferida pelos cantos.
E não sobra
Senão
Um coração rasgado
Parado
Para sempre, até ao dia da sua decomposição total.

E, aí, já há muito estarei morta e já há muito que não haveria espaço.
Só despedaço.

Mensagem de PPPFestejo

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Neste dia o mundo festeja o dia em que tu chegaste à Terra e ainda não sabias nada. Nessa altura, nada te disse, o mundo, porque tu ainda não eras tu e ele não tinha modo de saber quem tu serias. Depois tu cresceste e continuaste a fazer anos e a festejar esse dia em que tu nada sabias mas que chegaste à Terra, mas, ainda assim, o mundo não tinha como saber quem tu eras e deixou-te a festejar sozinha. Hoje, o mundo és tu. Hoje, festejamos, pela décima oitava vez, esse dia em que apareceste perante a luz e as cores e os festejos e o frio e a fome e o desconforto. Coisa tola de se festejar, enfim, tu festejas, é como uma desculpa para ser e não ser. Um dia, quem sabe, há-de o mundo festejar este teu vigésimo terceiro de Novembro, só que o que te há-de valer? É que, por essa ocasião, já estarás morta. E ninguém festeja os aniversários antes de morrermos, pelo menos não os dos escritores. São datas fúteis. Serão? Depois, quando já não vos vemos, é que se lembram das homenagens.
Oh, repito, têm algo a dizer, contem agora! E depois esqueçam que existi, depois de existir! Aproveitem o que vos hei-de deixar do modo que preferirem, porque já não me podem prejudicar. Plágios e tudo o mais, que mal me farão à consciência se ela já não há?

Esqueçam-me, post-mortem. Recordar é sofrer, porque eu não existo mais. Se não estou no presente, convosco, celebrando, então esqueçam o passado e desprendam do passado. Festejem hoje, como tu fazes, Adriana :D Parabéns, Parabéns!

E um dia os véus, será que descobrirão...

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E, um dia vamos afogar em terras que caminham e escondidos em mantos, porque ninguém nos consegue ver. Mas nós não vamos escondidos, vamos clamando o nosso ser, então porque não nos vêem? Não somos nós que vamos escondidos, são os olhos deles. Vão cobertos em preconceito. E nós vivemos em harmonia e eles nada conseguem e nada vêem. Nós sorrimos e por dentro choramos. É que as pessoas lavadas no que vão lavadas não vêem não só nós mas o mundo todo, o mundo de miséria que se estende a estes confins de pálidos desertos. É que as pessoas vivem em esferas espelhadas e é que as pessoas querem viver em férias e não sabem de quê e não gostam de nada e não ajudam ninguém e fecham os olhos, mais, cerram-nos com força de quem não quer ver. E mais, tentam obstruir a vista de quem vê e fazem da ajuda um estereótipo para dar a ilusão aos descontentes de fechar os olhos, uma ilusão de que ajudam, mas, sabes que mais, ajudam uma merda e encolhem os ombros perante nós e perante os outros. e é isso que fazem, ora encolhem os ombros ora fecham os olhos. Esses são os gestos de quem tenta limpar-se da moralidade e de quem quer ignorar e de quem não quer saber do rosto além do nariz. Esses são ainda mais pobres que nós.

São pobres de espírito, pobres coitados. Mas desses não tenho pena. Porque esses criaram a lama e o lodo onde vão vivendo e passando estes anos.

E nós seguimos, desfilando pela paródia e pelo circo e vamos ver a Lua e vamos ver as casas e voamos sem asas e vemos sem olhos e sentimos sem tocar e choramos sem lágrimas e amamos sem paixão. Somos o coxo que corre sem pernas, somos a luz que arde sem fogo e somos o mudo que grita sem voz. Somos mais do que aquilo que nos deixam sonhar sermos e assim somos e assim vemos e assim sentimos e assim vivemos.

Cândidas Baladas das Noites Tristes

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Agora é a hora em que chegam estas horas de desglória, por quanto, quanto tempo mais? Por quantos infinitos vou ter de esperar? Por quantos olhares e dores e incertezas? Por quanto, quanto mais? Bolas, mais. Mais. Outro dia, outra noite, outro desliga. Ora, sempre, mas não quero sempre.

O que interessa o que quero, porém? Sou uma pequena formiga que corre contra os outros. Contra outros e ela apenas vê esses, porque vão contra ela, é tão difícil ver quem vai no mesmo sentido com o mar de gente que contra nós se insurge e aparece…

Bolas, que raio de contas são estas?

Só quero mais cinco minutos, sempre mais cinco minutos, só quero não dizer boa noite outra vez, quero convosco para sempre. Para sempre, toda a noite e todo o dia e poder ver tudo e comentar e sempre juntos. Sempre juntos…

Boa noite, mais uma vez. Boa noite boas noites, durmam bem, adoro-vos, amo-vos e tudo o mais… e todos os dias e é penoso, ora. Ora. Porque pessoas contra mim, não percebo…

Amor em palavras

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Amo papoilas douradas ao sol que não são douradas, mas lembram os cinco anos. Amo estrelícias pelo arco-íris espectral de cores. Amo amores-perfeitos, então se forem roxos e laranja, deliro. Amo hortências, que parecem gorros de criança ou dentes de leão, e amo os tons que adquirem. Amo narcisos, a tocar trompete. Amo flor do maracujá, rainha de algum coisa, não sei o quê porque não sei ler perfeição. Amo os dourados reflexos de aveia do trigo e amo todas as cores porque são da natureza e naturais. Amo os tons de prata que a água deixa escapar do passeio e atingem os meus olhos. Amo a quietude de um mundo adormecido que vou percorrendo ao som do vento acariciante. Amo perder-me em labirintos onde a razão não chega nem sequer os olhos e muito menos a realidade, amo ver jardins de lírios e árvores em choro calmo, amo imensamente os tons lava e fogo da lava e do fogo e da fogueira a arder e amo ouvir o crepitar, o estremecer dos troncos. E amo as pequenas coisas que assim tornam uma paisagem bela e dão descanso aos olhos e calma. E acalmam e não são excessivos porque não são excessivos. E amo as claridades matinais contra o negro das sombras que ainda povoam, os contrastes da luz, o céu todo branco e o mundo todo negro, como as asas de um corvo cor de carvão. E amo esta maldita beleza que cresce em toda a naturalidade com toda a naturalidade, sem reflectir ou hesitar ou planear ou pagar imposto. E amo a pequena gota que cai e atinge o mundo terreno em não outro lugar que não o meu nariz erguido às nuvens. E amo profundamente tudo isto, sem reflectir ou hesitar ou planear ou pagar imposto. E amo os caminhos lavados e amo os sorrisos e amo os olhos e amo e não posso deixar de o fazer. E então dizem-me que esta paisagem é feia e que sentem falta da modernidade de linhas e cinzas e eu choro o mal que querem a tudo o que amo.

Amo o que escrevo, o que é lindo =)

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Vou olhar para vós todos e guardar-vos comigo. São como gotas de água cristalina e amo-vos perdidamente. São meus filhos, meus e de todo o mundo. Escrever-vos é um transe, as palavras surgem, a caneta escreve e eu deixo-a pensar, a caneta pensa e eu dou-lhe movimento, mas depois apenas os meus olhos lêem, porque bico de caneta não foi feito para ver nem ler nem amar, rasgar o papel até brotar sangue, é esse o propósito de bico de caneta, construindo os meus textos, meus filhos. A caneta pensa e pensa e eu escrevo e escrevo, deixando a fonte de tinta satisfazer os seus caprichos.

E o que sobra.

Sobra enfim, dou descanso à caneta, fecho o pequeno caderninho e suspiro, completa. Acabou, pois claro, acabou mais um texto. É sobre quê? Não sei, ainda não li, ainda é um bebé, depois hei-de compreendê-lo, mais, hei-de vê-lo crescer a meus olhos e a transbordar de alma e significado.

Gostaria de vos abraçar todos, são tão tudo o que tenho e tudo o que significa, porque são eu verdadeira, a verdade todos os dias trancada. Se eu eu e eu existisse e não fosse pessoa, se fosse eu verdadeira ao que sou, não seria pessoa, nem gente nem humano, seria palavras em forma de textos, seria tinta de caneta, jorrando do ferido papel, por aparo de pena, rigidez sangrenta que não é mais que beleza em estado mórbido.

São textos os meus textos e são meus filhos e do mundo e da caneta que assim se chega, e eu sou eles, estou neles, são o meu espelho e meu reflexo em verdade contada, porque não há verdade nem mentira, há apenas ser e ser só tem uma dimensão e nada mais se nota e ao olhar para vós é como debruçar-me a uma varanda e ver um rio ou um lago ou um mar ou o gelo ou uma nuvem e ler-vos é mergulhar nessa vossa imensidão transbordante é ir ao céu ver a Lua e as estrelas de perto, é tomar boleia da nuvem e pensar sobre isso e deleitar-me nisso e no conhecimento de saber que a vossa mãe sou nada mais que eu, mãe de todos vós, meu espelho da minha alma onde me espelho e onde a sabem reconhecer, como irmã e como gémea e digo, olhem para os meus filhos e esqueçam quem vos parece que sou, porque quem eu sou são eles e não há mais, é só, é simples e não há mais a dizer, apenas o cessar do discurso, pousar a caneta, fechar o caderno e suspirar, de harmonia, completa, inteira.

A vida - pessimismo realista - 12.11

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A vida não vale a pena.

E esta é a triste verdade de todas as coisas.

A vida não vale a pena. E não podemos fugir dela.

Mas, oh triste e vã esperança de um sentido, só que não existe.

Não há mais que oco. Oco. Oco. É o fim mas não é o fim. Querias fim, mas não podes.

A vida não vale a pena. E tu nada podes fazer. A vida foge por entre os dedos.

Querias tu. Mas não. Tens de a viver e sofrer com os outros.

Tens de ir com os outros sofredores. A adivinhares o final.

E tu já só vês o final. Só queres fim. Finito.

Mas finito não há. Não mais.

É uma tormenta.

É tortura.

É a tua desgraça.

Em forma de corpo e carcaça física.

Em forma de átomos, de vasos e sangue,

De frescos químicos à força da electricidade.

De vontade vontade vontade. Só que vontade não há.

Porque a vida não vale a pena e a vida está fora de moda.

E tu sabes e não queres mais, só que isso era egoísta e as pessoas.

Oh, as pessoas. Como mandam e são cegas e buscam sentido que não há.

E, assim, encaixam em modelos de sentido por outros ditados, sentido que não há

E muito menos é verdadeiro. Encaixam e os modelos dizem que vale sim a pena

Então repudiam-nos pelo nosso pensamento e chamam-nos egoístas

E nós não podemos partir sem eles, porque seriamos egoístas.

Eu quero, mas não posso, eu quero e não aguento.

Eu tenho de aguentar. De cabeça baixa,

Para sempre caloira da vida.

Sempre a perder.

Sempre perdida.

Sempre na merda.

Sempre cumprindo.

Sempre mobilizada.

Sempre chorando.

Para sempre viva.

Mas que vida?


Dois Pequenos Mini

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Escrevo-te porque um dia esquecerás porção e não mai sverás estes escritos até lá. Até lá, bom fixe de vida... =)


_


Corvos e coveiros são pedaços da mesma paisagem e essa paisagem é bela e cinza.

Divago

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Parabéns, Adriana.
Tens 18 anos.
Sabes o que isso quer dizer?
Quer dizer que já se passaram 18 anos desde o dia em que abandonaste o conforto da barriga da tua progenitora.

Quer dizer que vais ter de acatar novas regras, porque vives numa sociedade estupidificada.

Eu.
Eu poderia ser tu que vais ler isto, só que não.
Eu sou algo, neste momento.
Tu serás outra, tu és outra.

Saúdo-te, cumprimento-te e, já agora, dou-te os parabéns.

Os átomos que faziam parte de ti nesse 23 de Novembro de 1991 já não são os mesmos, apenas os elementos. Células? Acho que nenhuma, só de anos posteriores começaram a ser guardadas.

Já viste como essas pequenas células são as que fazem de ti quem tu és?

Quem tu és?
Quem és tu?

És eu com mais células atulhadas em memórias.
És eu e tens mais que eu.

Parabéns, parabéns!

Poderia tentar adivinhar quem és, atrevo-me a dizer que não serás muito muito mais.
Não em termos de socialização, não. Lá daquilo das tuas ideias, as tuas belas ideias.

Atrevo-me a dizer que amas a Natureza.
Atrevo-me a dizer que amas Pessoa.
Atrevo-me a dizer que amas ler.
Atrevo-me a dizer que amas escrever.
Atrevo-me a dizer que não tens namorado.
Atrevo-me a dizer que odeias a branca de neve.
Atrevo-me a dizer que odeias modas.

Olha, estou para aqui a escrever-te, passa da uma e eu a escrever-te.
Não sei quem és, posso apenas adivinhar.

E adivinhar que isto te há-de chegar às mãos.

Parabéns, tens dezoito anos.
És, oficialmente, maior de idade.

E levas-me contigo, não é lindo?
E ensinas-me o que acabas de descobrir.
Como é cinza e cinza espero que seja o teu dia.
E que não chova, ou que não tenha chovido, depende de quando leres isto.

Adoro-te, de qualquer das formas.

Ou talvez não.

Parabéns, Didi, Adri2..9, AGMattvs.9, Zozie, Nanou, Aiandra, Anairda, Nanveqn, Adóriana, DiMattos, Gaspar DiMattos, Adriana, Adriana Gaspar, Adriana Gaspar de Mattos, Adriana Maria Pires Gaspar de Mattos.
Parabéns, querida.

O sorriso mais lindo do mundo

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O sorriso dela era mais que viciante, era mais que querido, era mais que contagioso, era mais que lindo.

O sorriso dela era mais que um sorriso de alguém mais.

O sorriso dela era o meu tesouro de cada momento, era um mundo que se abria à minha frente, era uma luta ganha contra a nuvem que tomava conta dela, cada vez mais.

Era o Sol que despontava.

Era uma raridade e uma preciosidade.

O meu mundo era o maior por cada sorriso.

Por cada pedaço de mundo.

Amo-te amo-te e tu és a minha querida borboleta.
O teu sorriso para sempre desapareceu, mas isso é só o que as pessoas vêem.

Porque o teu sorriso estará sempre na minha memória, guardado como o meu maior tesouro.

Sinto

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Sinto-me como um peixe abandonado na areia, tentando respirar o ar, desesperadas tentativas de aspirar o todo à sua volta, sem conseguir, sentindo-se cada vez mais afogado.

Sinto-me assim, e assim me deixei cair em desespero, com lágrimas preguiçosas escorrendo, em silêncio apenas interrompido pela minha tentativa de respirar, respirar, aspirar o ar, tentativas espaçadas, cada uma mais intensa e curta que a anterior. O ar deveria ser-me familiar, mas parece que não que não que não :-(

Isto assim é tristeza das palavras que ficam por dizer. Oh, tristeza de palavras, poucos, tão poucos os momentos restantes para o juízo final, eu tiritando de medo, como um espanta-espíritos ao sabor do vento.

Como odeio e odeio que fique algo por dizer.

Comentário

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Os dias passam, porém, a adoração que nutro por ti não diminui com elas: é ampliada e multiplicada. Como te adoro, álgebra!

Chegada

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O comboio pára, num último solavanco, agarremo-nos ao que pudermos.
Um livro ou outro que cai, uma velhota que, depois do esforço para se levantar, aterra de novo no assento.
Tento espreitar para a rua, mas a janela devolve-me a minha própria cara, aquela face retorcida que me segue por todas as superfícies espelhadas.
Meia dúzia de empurrões depois, estou às portas, de saída daquele, apesar de tudo, lugar confortável - é suposto sair depressa, parece que nos dão pontapés até o fazermos - num salto, porque é tremendamente mais divertido que descer os ridículos íngremes degraus, estou fora. Cheira a noite e a óleo. Cheira a borracha. Com sorte, cheira a serra e árvores, mas hoje não.

Uma vez mais, sou abandonada no apeadeiro, largada pela lagarta que com vagar se afasta. Com vagar, não, com muita pressa. Olho sempre para trás, vê-la partir deixa-me melancólica. Depois, sigo contra a torrente de pessoas: vão todas para outro lado, qualquer que seja, não é o meu. Eu vou sozinha. Fico sozinha.

É noite, agora. Sempre de noite. Sempre sozinha.

Sigo pelas ruas amargas. Não há passeio, sequer, só estrada, casas e linha. Os carros passam numa corrida desesperada. Não há luz, a não ser a de um ou outro candeeiro a avariar.

Vou ouvindo os meus passos, esperando que sejam os únicos que vá ouvir. Conto-os. Ou canto baixinho.

Sozinha, aconchegando o meu "livro do comboio" que não é livro do comboio coisa nenhuma, isso não é mais que um pretexto para o aconchegar contra mim, é o meu preferido.

Sou eu e ele, numa rua de fábricas abandonadas, tentando ignorar o que vejo. Aqueles olhos verdes que me seguem.
Imagino-os sempre verdes, ou qualquer outra cor que me faça estremecer em medo.

Acelero o passo.
Sozinha, de noite.

E com passados de outras vidas a atormentarem-me.
"Podia ter sido eu. Podia ter sido eu."
E os olhos verdes vão-me seguindo.

Querem fazer uma ideia?
Eu vejo cabeças de dragão em osgas.
Imaginem, então, o que verei na sombra da presença de um monstro de pessoa.

Nunca há passeio.
E as ruas estreitam e a luz é cada vez menos.

E o frio que tanto adoro, torna-se desconfortável, prende os movimentos.
Tento ignorar tudo e observo a minha sombra cintilante. Na maior parte do tempo, não há sombra.

Vou sempre só, mas não estou só.
Tenho os olhos verdes que tanto odeio, tenho o medo e a angústia. Tenho uma torrente de pensamentos e de recordações inventadas, que não são minhas mas serão de alguém. De alguém tão próximo...

Fecho os olhos.
Nestes dias, não cheira a nada. Nem a lavado, nem a serra, nem a puro, nem a arvoredo.

Comigo vêm os cheiros do comboio, à falta de outros: a tosse, a rugas e pele a sair, a mofo, a velho.

Já nem há animais a cumprimentar.
Recolheram ao conforto.

Está tudo molhado e cinzento, excepto que não é cinzento porque é de noite.
É tudo negro ou cor de lâmpada quase a avariar.

É tudo gotejante e não há uma única estrela para amostra.

Dou os últimos passos.
Em casa, por fim.

Estes dez minutos a pé cansam mais que o resto do dia.


E é tudo tão feio...

Sobre todas as coisas

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Os assuntos não discorrem e não morrem, especialmente se escritos pela minha pena e ditos pela minha boca, o nulo calmo é anulado e a revolução desponta dos cérebros enferrujados porque todos queremos. A eloquência jamais deve ser apagada, a eloquência é a arte das artes, apenas superada em foça e beleza pela poesia.
Os absolutos rigorosos assuntos estão fartos de discussão que a nenhures leva a não ser a maior descontentamento e a fachada, a fantochada, desencanto, desperdício.
Já não se pode mais assim, porque não união, para uma primeira manifestação e uma pós grandiosa revolução mas sem que se esqueça o que fomos, recordados como rudimentos não pensantes, idade das trevas, inquisição das mentes, puro afastamento de milhares e milhares, exclusão preconceituosa e monstruosa e vergonhosa, vergonhosa como tudo o que corre pelo mundo movido a ganância e a conformismo.
E a minha caneta não cala. A minha caneta rasga pele de alguém, sangrando as azuis palavras.
Sangrentas palavras sentenciando penas de morte e de tortura, contra a merda de mundo em que vivemos, que ainda mais mortes tem e de mais tortura é composto.
Convido-vos a, comigo, compormos o mundo.
O mundo descarrilou. As pessoas aguardam, impacientemente. Esperam e esperam, sem notarem que o mecânico morreu. Há quem arranje transporte privado, mas sem mais se preocupar com quem fica na estação.

Bora arranjar o comboio?
:)
(Dedicado ao Tony)

Felizes conformistas

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Em tolas tentativas vão pessoas lamuriando-se de malvada sorte, não conseguirem ser felizes. Assim por não dito digo que tudo isso é tão desimportante...
Queriam definir as vossas prioridades! Pensar, ao menos por uma vez na vida! por uma vez na vida, não pensem com a corrente dos "outros" porque também esses não pensam por si, pensam pela fonte e a fonte não pensa, também, age, apenas pelo seu interesse.
Tanto conformismo, tanta uniformização para quê? E volto a perguntar, para quê? E ninguém me responde. Querem ser felizes? Então pensem e reparem que a procuram nos pressupostos de felicidade que outros definiram. Compreenderão, então, que não estavam a ser verdadeiros? E que era por isso que, assim que atingiam a felicidade de outros, esta rapidamente vos fugia entre os dedos?
Que comboio de incompreensão vocês tomam.
Que preconceitos aceitam como verdadeiros.
Excluírem-me também está no vosso manual de conformismo?
Quais alegras vivências, quais supostas esperas se já nem distingues o que é inato do que não é? Oh, horror de tão desprezíveis pessoas, carecendo de saúde de pensamento, cujo mecanismo de pensar sós se encontra desligado.
Deixai-me só e assim me abandonar...
Mas não me desprezai apenas porque outros o fazem. qual é o problema, bolas, por que nunca me respondem?
A nova Bíblia já não é escrita, mas permanece horrenda, popular, por todos seguida. Continua sangrenta. continua se insurgindo contra mim.

Fobia Social

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Tenho sentido mais estranhas impressões, ultimamente. sempre me soube capaz de ultrapassar uma multidão, com o meu passo de corrida. Porém, nunca previ que esse passo pudesse alguma vez ser abrandado, estilhaçado por meros olhares.
Sinto-me esmagada quando me encontro numa multidão de jovens. Sinto que devia fazer parte e que não faço.
Não gosto deles, é certo, mas, mais que isso, tenho medo. Medo deles. Deles e delas. Das conversas, dos passos, das palavras.
Não compreendo esse medo, ao todo, apenas o sinto.
Cada tom soa como uma sentença.
Cada riso é uma reprovação.
Eu quero fugir deles todos!
Quero que desapareçam.
E quero deixar este medo longe de mim.
(O mais curioso é que não os receio na faculdade, apenas fora dela.)

RubyAnnE

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Se me vires a passar na rua, presenciarás um fenómeno peculiar.
Parecer-te-à, apenas, um corpo, porém, ouvirás duas vozes em amigável cavaqueira. Não são, propriamente, vozes perfeitamente distintas, é o tom que as distingue, o alegre e bem disposto contra o triste melancólico.
Se tomares atenção, talvez ouças um texto composto, em conjunto, naquele momento. No entanto, são raras as vezes em que tal acontece, será um golpe de sorte poderes assistir a tal.

(Este é curto e inacabado porque o estava a escrever numa aula e uma colega que chegou atrasada veio sentar-se a eu lado. Deprimiu-me e desencorajou-me. Oh, isso é tão triste...)

Viagem à volta das minhas teorias

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Que bonito quadro se abate sobre mim e que mais posso fazer que sorrir?
Quando a morte me toldar a vista, para sempre ficará na memória a derradeira recordação.
Tomara que fosse um mundo bonito, carregado de esperança para tomos futuros.
Tomara estar tudo bem, tomara estar tudo tão ao contrário do que está.
Mas que bom é também pensar, fechar os olhos à visão, ignorar os sons, deixar o pensamento fluir e explorar recantos já explorados ou ainda não...
Como se me depara agradável voltar a fazer uma viagem já feita, mas já esquecida, chegar ao mesmo final, confirmando o que já confirmara, ficando em paz comigo e com a minha consciência.
Um suspiro de calma alegria, antes de regressar à habitual melancolia.
Depois, o meu curso é incerto.
Posso focar-me no que vejo, sintonizar-me com o que ouço.
Posso tudo.
Descansar.
Por exemplo.

Manhãs da Caloira

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Do meu lugar à janela, no comboio, tenho a oportunidade de assistir a um nascer do Sol algo invulgar, se comparado com o da minha terra.
A primeira vez que a luz solar incide directamente sobre os meus olhos, a cada dia, é sempre de uma magia infindável.
Vejo a bola de luz tentando erguer-se da sombra dos montes. Porém, o comboio não estaca ao sabor desta visão e, tão depressa como apareceu, o Sol é engolido por outro recorte negro de um monte.
O que se segue lembra uma luta contra as ondas para se manter à tona de água.
É como assistir a um milhão de amanheceres, podendo adivinhar o momento em que o Sol irá emergir, através das tonalidades brilhantes características que o céu adquire.

Vou magicar

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Vou professar os quatro cálculos aos quatro ventos.
Vou praguejar contra a maldita falta de lucidez da sociedade devoradora de mentes diferentes do que querem que sejam.
Vou assissassinar os que me interrompem quando escrevo, porque se perde, assim se perde uma boa ideia que não recupera, perdida nas profundezas do abismo da criatividade, exponencialmente maior que a realidade.
Vou declamar um manifesto que faça a humanidade recuar e esconder.se em vergonha da crueldade que manifesta ser.
Vou entornar tinta, ternamente, sobre o espaço em branco que convida e desafia.
Estou sozinha, como AnnE, estou sozinha, tão rodeada de pessoas e, ainda assim, tão sozinha.
Vou ensaiar palavras e gestos que nunca hão-de subir ao palco, porque, no momento em que o pise, esqueço-me das minhas linhas.
Vou ver-te. Não que faça grande diferença.

Manhãs minhas

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A intensidade luminosa é inconstante, a Lua reflectindo a do Sol, lá no céu tom azul-claro matinal. Lua, entre as nuvens, sobre os montes, surpreendendo toda a gente...
A crueza da frescura... a beleza do toque gélido da brisa que me abraça e eu respiro-a e sabe bem.
Manhãs tão frescas e doces e são minhas e adoro-as e não quero mais nada. Pelo menos, nada para acrescentar a tão perfeitas manhãs.
"As nuvens erguem-se como vagas atrás dos montes. Nuvens viajam apressadas, como comboios em sonhos."
Primeiro, as nuvens são cinza e o céu é branco.
Depois, mudam para laranja e, por último, para azul. E eu vejo-as do meu quarto.
E o vento... como que uma promessa.
Vento chamando e arrastando, dando movimento ao eterno estático, o vento despenteando as árvores, o vento despenteando-me os cabelos, provocando-me, "Onde foste deixar a tua liberdade?", parece perguntar, parece rir-se, parece troçar, mas é só ar, é só ar...
Abandonando outras terras, sobre carris, sobrevoando o Ceira e o Mondego, chego, por fim, à cidade.
Desembarco com as outras formigas, ao sabor do ar natural com o lixo do fumo.
Adoro o som das campainhas das cancelas, dando sentido, apenas, à existência de comboios e de pessoas, os carros estão parados no tempo, aprisionados nas estradas, condenados à imobilidade.
Como adoro estas manhãs!
Que diferença, ser ou não ser, ver, como eu, uma cidade bonita, se pintada de frio...
E, num auditório, revendo Química, quão belo é ver a chuva, lá fora, limpando e refrescando e regando Coimbra.
E o Sol, despontando... pela primeira vez hoje...
Que prenúncio de bom dia!

Despedidas (até quando?)

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Tenho de dizer e não quero, volto ao mesmo que dizia antes, arranjo mais um pretexto.


Tenho de dizer, porque, se não o disser, ainda será mais doloroso.

A despedida tem de ser feita, mas eu não quero dizer adeus.

Porém, a despedida será, quer eu diga adeus quer me cale.

Então digo, antes que seja tarde demais.

Um dia não terá mais de ser assim, pois não?
Mas receio esse dia ainda mais.
Porque não sei o que será dele.

Receio esse dia por chegar, com um medo incontrolável, semeado de perguntas.

E se os meus receios se confirmarem?
O que será de mim?
O que será de mim?

Bolas, tenho medo.
Estou com um medo danado.

Estou com um medo danado que cada despedida seja a última
a última da espécie
a última ainda-gosto-de-ti.


Não estamos todos?
Outra vez, então:

Boa noite, mundo.
Boa noite, Sol.
Boa noite, comboio.
Boa noite, olhos abertos.
Boa noite, lucidez.
Boa noite, .

Tenho escrito, escrevendo por aí

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Uma vez palhaço,
Eternamente palhaço.

São as leis da Natureza.
Palhaços armam-se em palhacinhos de papel num carrousel de mãos dadas.
Palhacinhos presos por cordéis são agora marionetas existenciais
.Escondo-me dos palhaços, com medo. Medo que me levem com eles para debaixo das suas redes e seja para sempre palhaça.
Alegrando as pessoas
mas as pessoas
deviam estar tristes!
_

É sangue na minha caneta.
Sangue seco, de cicatriz. Coagulado. Sangue que jorra.
Caindo no papel como tinta. Já não sei se a caneta é a assissassina ou se também ela é assissassinada.
ASSISSASSINADA.
ASSIMSSÓSSEMNADA.
De tudo desprovida.
De mágoas de sangue como tinta.
De vida.
_

Valerá a pena tomar conta destas bestas que zurram, presas, destas mentes desutilmente fúteis?
De que vale falar-lhes? De que vale ouvi-los?
São planos e nada ouvem.
Sabem repetir, apenas, nada mais.
Que interessa todo o resto?
_

O chão vem parado connosco.
O movimento é relativo.
_

Corpo morto no Regional Coimbra - Serpins.

Nota de último momento: corpo morto acordou e é de novo jovem inundado de vida.

Que lindo, que lindo dia para ter permanecido em Coimbra.

teorias elaboradas às 2h, partindo de conversas, chegando à espontaniedade de freeWriting, por pensamentos recém formados de inundações no exterior do

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(cont. do título: do Dolce Vita e Estádio.)
talvez também devesse investir algum tempo em socializar com as minhas colegas, mas também acho que é uma causa perdida.
já nada vale a pena.
o que deveria ter aprendido na altura devida, não aprendi, agora parece-me impossível falar com personalidades tão distintas da minha.
eu não conseguiria passar o tempo a falar de compras e de roupa e de lojas. a menos que fossem lojas de livros. ou decoração, tenho de confessar.
eu não consigo ver como é que um jantar de curso pode ser melhor que uma noite a ver ballet.
para lá de ter grandes dificuldades comunicativas, no início.
nada ajuda, sabes?

nada ajuda e não sei como, não sei se posso, não sei se é permitido, não sei como suportar, não sei como querem que o faça, não sei se estou à espera, se estiver é da altura certa, não de alguém, porque agora já não estou sozinha, nem nunca estive, sempre tive o edgar e o coveiro, sempre tive mundos comigo, sendo eu dona deles porque eles são eu e nunca de mais precisei, mas agora tenho mais e não o quero desperdiçar, isto vai sair algo lindo, não te metas comigo mundo, olha para ti e para o teu grupo de futilidades, não tentes ser feliz, porque ser feliz é uma merda enquanto existirem infelizes torturados sem poder viver, quanto mais falar de futilidades, não se esmerdem em roupas, porque algum dia não haverá mais, não se esmerdem em recursos naturais, que estes não hão-de durar mais que vós próprios.

vejam, vejam, olhem o presente de frente, sim, o presente, o que diziam ser futuro longínquo já chegou, parem de falar e vejam a verdade que vos escondem, vejam por trás dessas fachadas que vos contam, não haverá mais mundo além deste, por que insistem em fechar os olhos?desmerdem-se.
eu já não tenho nada que ver com vós.
eu caminho com os meus,
já vocês, preocupem-se com o que quiserem.
depois não se espantem, não se deixem apanhar desprevenidos.

vou com os meus.vamos em conjunto, somos muitos.
somos suficientes.somos auto-suficientes
e somos independentes da vossa escravatura cega por mariquices.
e somos independentes da vossa ditadura do consumismo.
ajudaremos quem nos pedir ajuda.
estenderemos a mão a quem se estiver a afogar.
mas o que poderemos fazer com aqueles que insistem em não abrir os olhos?

já nada sei. nunca soube.
isto é demasiado estranho e confuso, mas acho que eu e os meus detemos uma certa razão, mais certa que a vossa.
não é razão, é alinhamento de prioridades.

e, segundo os problemas de hoje, os vossos estão todos errados.
os vossos baseiam-se na premissa de que vão morrer quando forem muito velhos, e, ainda assim, estão tão mal planeados.

deus meu, quem sois vós?
sois o povo adormecido.
não vos posso deixar para trás só por quererem estar a dormir, pois não?

já nada sei, já nada sei, nunca soube.
por isso tenho de pensar e escrever o que penso, para chegar lá, para descobrir e saber mais.

e sozinha?
sozinha nunca estive.
nunca estive tão longe de estar sozinha.
agora tenho a certeza.

tenho a certeza.

que não errei nas prioridades.

que são meramente muito mais que meros pensamentos.

que eu sou e que quem sou me é permitido ser, não vai contra um dado tipo de natureza,

que sou, quem sabe, humana, que a minha espécie não vive só.
que vive só, mas que não sou a única.

quem sou, agora?

quem és, agora? povo adormecido ou tribo das insónias?
quem és, agora? por mim ou ignorando as nossas ideias?

que espaço
que chuva
que nada
que eu
que feio
que estranho
que estranheza
que lentidão........


a processar....................
encontrado erro, pensamento fora da norma.
o programa vai ser encerrado.
não vale a pena tentar moldar uma personagem plana.
não vale a pena tentar moldar barro que já cozeu, só o pode partir.
FIM DA APLICAÇÃO.

This night could be magic

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Look to her smile
Isn’t she gorgeous?
Look to her eyes
Isn’t she beautiful?
How couldn’t I love her?
How couldn’t you love her?
She’s smiling
She’s smiling to everyone
She must be some Queen....
The Queen of the Seas, maybe,
Yes, she could be
Every time I see her, I cannot look other way
I wanna kiss her
I wanna kiss her
But she hides, she smiles and hides
I wanna scream
I wanna cry
Where are you?
I love you!
How couldn’t I?
She’s so beautiful, so gorgeous
Look to her smile, look to her face
She’s so perfect
She’s a perfect sculpture
Tonight I won’t miss you
Tonight I will kiss you
I love you! I love you!
I scream it to you
I scream it up to you in the sky:
I LOVE YOU, MOON!

Bonito

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Eu amaria cantar assim.
Eu deveria treinar?
Eu sei.
Juntemo-lo ao "piano", "violino", "ginástica", "caligrafia", escapa-me algum?

Pequenos Factos

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“Mamã, há pessoas no meu quarto
Há pessoas a voar no meu quarto
Eu não tenho medo deles, não mãe,
Eles voam e eu gosto do modo como eles voam
Eu quero dizer olá, mamã, posso?
Posso dizer olá às pessoas que voam no meu quarto?
Elas são tão pequenas,
Eu sou tão grande comparada com elas
Mas elas não me ouvem a dizer olá
Nem me vêem a acenar
Porquê, porquê, mamã?
Eles parecem tão bonitos,
Olha, mal tocam no chão e voam
Assiiiiiiiiim
Vês como te digo?, é assim que eles voam
E são lindos, são lindos,
São pássaros acrobatas, mal tocando no chão
São pássaros humanos,
Graciosos, ágeis,
Belos, belos.
Como hei-de explicar, mamã?
Parece-me que não há explicação
Como gostaria de saber voar assim
Assim”
[Ela abana os braços como se fossem asas num espaço mais alto que aquele onde estava, metros mais alto.]
[Anos mais tarde dirá]
“Quem me dera que as ruas fossem trampolins e que pudéssemos saltar como pássaros de um lado para o outro.”
[Acompanhará estas palavras de olhos abertos, vendo as ruas, mas distante, arquitectando tudo no seu modo livre, em que a gravidade deixa de ser um obstáculo ao voo e passa a ser o sua maior aliada. Acompanhará estas palavras com um sorriso fresco e gotas de chuva rolando pelo nariz.]
[Dentro de poucos dias, há-de escrever palavras que começarão assim]
“Por um momento, gostava de saber, para além de quem sou, que tipo de inteligência criativa tem o ser humano. Olho à minha volta e não compreendo. Talvez seja da idade, à qual tantos se prendem, que ainda não me permitiu amadurecer o suficiente para que eu perceba, enfim, coisas de adultos. Coisas de adultos. Não compreendes porque és muito nova. Achas que era bonito as pessoas andarem por aí aos saltos cada vez que lhes apetecesse, Diana? Achas que era bonito fazermos todos figura de palhaços?
Acho.”

Tentando saber quem sou

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Para que nunca ninguém se esqueça de quem eu sou:


Eu não sou o meu nome!
Uma parte de mim é influenciada por ele, mas não todo o meu ser.

Eu sou quem sou, mas saber quem sou é tão difícil,
Que escrevo, escrevo
E escrevo, até querer descansar,
Até estar perfeitamente farta.

Farta?
Nunca me farto de escrever
A escrita faz muito mais parte do que sou
Que qualquer nome.

Escrita enraizada
Fabulosa escrita.

Para que nunca ninguém se esqueça de quem sou, vos digo:

Sou uma péssima pessoa segundo os vossos habituais parâmetros –
Não acato as regras, as leis, as normas,
Não falo, nem paro de escrever,
Não odeio as bruxas, nem adoro as princesas,
Não gosto de roupas nem de sapatos a tentarem definir quem se é
Não gosto de telemóveis nem de telefones
Não gosto de programas ocos de significado, nem detesto a censura,
Acho que o 25 de Abril foi uma perda de tempo e de recursos
Que apenas serviu para estupidificar todas as mentes,
Penso sozinha,
Odeio quase toda a gente,
Amo mais todas as restantes espécies que a minha,
Amo as pessoas por serem como são e não pelo aspecto que têm,
Adoro matemática e adoro física e acho que são a base de tudo o que se conhece,
Adoro francês e não inglês
Adoro música com alma e significado
Odeio a desprovida deles
Vejo os filmes errados
Leio os livros errados
Faço tudo ao contrário e questiono tudo
Não acredito no livre arbítrio, nem no acaso
E acho que a vontade própria é uma ilusão
Não tenho a certeza se este mundo é real
Não tenho a certeza do que real significa,
Tenho uma gata preta, parti um espelho, não vejo mais azar
Do que o que já existe,
Vejo o sofrimento dos que sofrem, mas nem de longe o sinto e,
No entanto, preocupo-me e choro por eles,
Receio pelas árvores arrancadas contra sua vontade
Receio pelos animais, receio pelos seres vivos,
Odeio e amo a humanidade,
Sonho matar todos aqueles que se deixam viver,
Digo que eles apenas se deixam morrer
Sonho torturar todos aqueles que o merecem,
Adoro o frio, detesto o calor,
Adoro a natureza, detesto o cimento,
Adoro o som da água, odeio o álcool,
Tenho ideias erradas,
Apoio as pessoas erradas
Venero o suicídio colectivo
Questiono a educação
Acredito que o mundo não vai sobreviver a este século
Odeio robots
Adoro ópera, adoro sopranos,
Odeio futebol,
Adoro teatro, odeio novelas
Adoro o Inverno, acho que o Verão é inútil
Prefiro os fjords da Noruega às praias das Caraíbas
Adoro o Outono acima de todas as estações
Odeio centros comerciais, odeio multidões, odeio consumismo
Odeio poluição, tenho medo de carros,
Odeio aviões, adoro comboios
Adoro abismos, adoro ter ideias
Adoro overdoses d’imaginação
Adoro paradoxos
Adoro cobras
Adoro crocodilos
Odeio existir.

Isto tudo para que as pessoas compreendam que fui mais que uma menina calada e sossegada. Para que saibam ver, finalmente, quem sou. Para que me saibam ler os lábios, para que adivinhem em que estou a pensar. Para saberem o que estou a tocar. Parabéns, encontraram-me, esta sou eu. Esta sou eu e chamam-me Adriana.

23ª mensagem (roubada ao Culpa)

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23 te digo, como um nome bonito, 23 é meu 23 somos nós,

23 23 como te digo 23, 23 era meu,agora meu só não pode, não pode só meu ser.

não perdi, só ganhei, mas não sei se sei bem que ganhei, porque o sofrimento também é ganho, nem sempre ganhar é bom,

mas somando tudo parece-me bom, parece-me que, de qualquer modo, ganhei, tu também, ganhámos os dois, não empate, porque ganhámos, porque não é preciso ser só um a ganhar,

às vezes partilha-se. assim deixamos o ganhar só um e ganhamos todos,
não é bonito, não é adorável? este é para se ler depressa, porque o estou a pensar depressa e tento escrever depressa, não quero deixá-la,

abandoná-la outra vez, amo-a, inspiração, inspiração, foge-me entre os dedos, quando me roça só a quero abraçar e dizer-lhe amo-te

mas ela foge, foge, corre esconde, mas isso agora não importa
porque tenho o 23 comigo e o 23 é sempre motivo de inspiração
porque tenho alguém comigo, apesar de agora estar sozinha,

porque estou a libertar-me do pensamento,
porque estou à procura de overdose
d'imaginação, d'escrita,

eu espero, eu espero, mas se paro, desespero,
tenho medo, porque tenho de ir dormir outra vez?
e repeti-lo outra vez?
e outra vez será outra tormenta, mais desespero

oh, como odeio que me repudiem pelo que sou,
pelo que gosto,
como odeio que me encham de etiquetas
"autora", "editora",
eu sou escritora,

eu sou escritora

eu sou escritora
EU SOU ESCRITORA
EU SOU ESCRITORA, OUVIRAM?
EU SOU ESCRITORA
EU SOU ESCRITORA!
EU SOU ESCRITORA!
EU SOU ESCRITORA!
EU SOU ESCRITORA, OUVIRAM?

ESCRITORA.
EU ESCREVO
EU AMO ESCREVER,
E AMO TODAS ESSAS SENSAÇÕES
DESESPERADAS QUE SE NÃO DIZEM
QUE SE CALAM
QUE SE ESCREVEM

Porque só escrevendo, lá chego.
Amo-vos sem escrever,
mas escrevendo,

não fica mais bonito?

(Lindo, adorável.)

Noite lá no cimo

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o céu, fazes assim, deitas-te no chão, esperas que anoiteça, ao som dos teus colegas a cantar e tocar guitarra, a Lua vai ficar no canto direito do teu angulo de visão, as estrelas em todo o lado e vão cada vez parecer-te mais, esperas, respiras, vais ouvindo, até podes cantar uma ou outra com eles (até foste tu que sabias de cor a do cuco que não gostava de couves), mas não tires os olhos do céu,
senão deixa-las escaparem-se, toma atenção e cuidado, vão aparecer no meio daquele repouso absuluto que te parece o céu
mas o rio agora não se ouve, porque o rio está lá em baixo e tu não estás lá em baixo com o rio, estás no topo da serra, estás no topo do mundo, estás ao pé da Lua, estás a falar com as estrelas
mas quando a noite se acabar, podemos descer e ir ouvir o rio

(Feito com base em perguntas perguntadas no msn, daí não fazer sentido)

Segundo Manifesto Outono

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"o que vês agora?"
agora vejo o outono, mas o outono está longe, só que isso é apenas na minha cabeça, na minha cabeça é que não vejo nem sinto o outono, e o que manda agora é a minha vontade e a minha vontade diz: é outono, queres saber o que vê a minha vontade?
"quero"
vê uma rua e duas meninas
vê um grande castanheiro
castanheiro castanho, com folhas castanhas, com castanhas no chão
e as meninas vão à procura de castanhas, o castanheiro é enorme, dá para toda a gente
abrem ouriços, à procura de castanhas, enchem os bolsos, de manhã, antes de irem para a escola, à tarde, quando voltam, até à noite, só veem castanhas
castanhas e folhas, que também são castanhas
se não choveu, é dia de juntar todas as folhas
montes e montes de folhas
como se fossem serpentinas, como se fossem uma grande festa
no final, atiram as folhas à rua
e os carros passam e elas voam e voam
e as duas meninas fingem que voam com elas
agora, noutra rua qualquer, as árvores enchem-se de cor
verde, vermelho, amarelo, laranja, castanho, roxo
à folhas cor de violino
depois vem o vento, muito vento, sempre na altura certa
quando ninguém estava à espera
e, quando as meninas saem da escola, as ruas estão cheias de folhas, os carros estão tapados por folhas, parece um rio delas invadindo a vila das duas meninas
depois são os anos de uma e mais de um mês depois, da outra, mas é sempre outono, elas saem a pregar partidas aos colegas que as vieram visitar, porque aquele é o mundo delas, de ambas
gora vejo o agora
o castanheiro mantém-se, intacto
às vezes, adoro subir ao pé do tronco, e ficar naquele lugar escondido que parece ser feito para mim, quando os troncos se juntam e me deixam sentar
só falta a outra menina
e a infância
e os trabalhos de casa excessivos
e a vontade de apanhar castanhas
mas a melancolia também é bonita, não achas?

Aos 5o Ventos

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Nesta noite morri para os versos conjugados de sempre, olha queres que te diga?, claro que concordo com a censura, à coisas que não deviam ser públicas, que estupidificam as mentes, que não servem, que são ocas, e não são poucas, são putas ideias, como as odeio e como deveria haver um maldito mecanismo regulador e selectivo, bolas, emparvalhados e emproados que se pavoneiam por corredores de estudios de tv e por corredores de estudios de gravação e por corredores cheios de fotografos, pavoneiam-se pela passadeira, até à apresentação do seu novo livro que não é livro, é lixo, é traste, é sujo e é editado, publicado, difamado aos cinquenta ventos e todos gostam e todos amam, todos amam o lixo que não compreendem, mas fingem que gostam para parecer que sabem, mas não sabem nem querem saber, porque não é deles, mas é comigo, e se é comigo eu digo CENSURA SERIA BEM VINDA A ESTE PAÍS mas não este tipo de censura, que deixa escapar lixo e detém o que tem sementes, que enche as cabeças tão influenciaveis de tretas sem nexo,
que, bolas, odeio
odeio e estou farta
e não posso,
e não quero mais

bolas, acordem, pessoas, queiram acordar, queiram acordar!!

Telas de desatino

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Pinceladas cor de sal.

Pinceladas cor de neve.
Pinceladas cor de vidro.
Pinceladas cor d'açúcar.
Pinceladas cor de nuvens fofas.
Pinceladas cor da Lua.
Pinceladas cor do papel.
__________

Pinceladas cor da noite.
Pinceladas cor de breu.
Pinceladas cor de corvo.
Pinceladas cor do céu.
Pinceladas cor de carvão.
Pinceladas cor de tinta.

__________

Pinceladas erguem paredes
erguem portas e horizontes, erguem
escadas, erguem placas, erguem
palcos, erguem palácios,
erguem barcos, erguem árvores,
erguem forcas, erguem
sentenças.
Pinceladas dadas
nas mãos erradas erguem
preconceitos.

~Quando o choro é sério~

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Doem-me os olhos de tantas lágrimas, dias e dias, noites e noites, no chão, tentando agarrar-me à vida, mas a vida está lá, então o que vejo, o que vejo? Que choro eterno, desabandonado, há-de haver sempre lágrimas nos meus olhos, lágrimas escorrendo, quando sorrir hei-de desfazer-me em lágrimas, lágrimas de compaixão, de dor que é parte minha, de dor que é tanta tua, demasiada dor que é tua, passando pelos tristes arcos, dor da despedida da inocência, dor da inocência despida que, uma vez despida, deixa de ser inocência. Dor e medo das sombras que passam, mágoa e ódio e sal a lágrimas.

E cinco feridas.
E tolos pensamentos de esperança, tolos como aqueles que tinha quando a minha bisavó ainda era viva mas de nada se recordava, aqueles tolos pensamentos, tola esperança de ela estar a fingir para um dia levantar-se e segredar-me o grande segredo da sua vida.
E, naquela noite, eu mal acordada, dizendo disparates com voz dos sonhos, mas era o meu pai, com um sorriso triste na cara, que mo disse e repetiu, porque eu, apenas o negava, "a avó Gertrudes morreu." e eu Não, Não, Estás a mentir, Não estás?, desesperada, de mim, nada mais restava, em pranto, toda a noite, despedaçada.
Ardem-me os olhos, como duas feridas abertas. A minha alma está ferida.
Assim choro.

Assissassinando Hoje

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Hoje, hoje, hoje sinto-me particularmente irritada.
Parece feio, parece tudo feio.
Parece grande dor de cabeça a flutuar acima de mim.
Hoje, hoje, tremenda imensidão de um navio que naufraga.
O hoje é de quem o passa.

Quem passa hoje?
Onde estás hoje?
Hoje, hoje já não faz sentido,
Já nada promete hoje ser hoje
Hoje já não quer ser hoje,
Hoje quer ser hoy, ajourd’hui, today
Hoje não quer ser hoje, porque hoje
Soa a tremendamente excessivo
Hoje não descança, porque hoje não há descanço

Hoje não sorri, porque hoje quer gritar
Hoje não quer mais hoje
Quer outro dia
Mas hoje vai ter de suportar hoje
Porque o tempo manda que seja sempre hoje:

Assim seja,
Hoje será, para sempre.
Será, para sempre, hoje.
Até que o fim derreta o tempo.




Condenados até ao fim
A ser hoje.

Hoje é e não existirá mais dia que não seja hoje.

Fábula, no entanto floresce.
Vamo-nos livrar do hoje?


Hoje já não é o mesmo hoje de à instantes
Porque hoje já não quer dizer hoje.

Já não há hoje,
A partir deste momento, declara-se que não há hoje.
A partir deste momento
A partir deste parágrafo
Não haverá mais hoje.

Hoje acabou,
Hoje morreu:
Só há agora.